Música

Electronic Sound – Uma saga de ruído branco e sintetizadores

Quase meio século depois do seu lançamento, o álbum Electronic Sound, o segundo de George Harrison enquanto artista a solo, é relançado no mercado em forma remasterizada. Cabe-me a mim dizer-vos o que acho desta relíquia.

Mariana Monteiro - Electronic Sound - Música

É verdade que sou fã dos Beatles, mas confesso que nunca dei muita atenção às suas criações a solo. Sim, conheço a canção “Imagine”, de John Lennon, e a “Silly Love Songs”, de Paul McCartney, mas não passa muito disso. Por isso, decidi dar uma oportunidade ao “beatle quieto” e fui ouvir Electronic Sound, de 1969.

O álbum, originalmente um LP, divide-se em duas faixas: “Under the Mersey Wall” e “No Time or Space”. Juntas fazem cerca de quarenta e três minutos de música e, a meu ver, complementam-se, soando a uma única faixa. Não sei bem do que estava a espera quando cliquei “play”, mas fiquei definitivamente surpreendida.

Do início ao fim, o álbum estende-se numa sintonia (ainda que pouco harmoniosa) de guitarras elétricas, sintetizadores e sons industriais, que inicialmente me fizeram lembrar o álbum The Wall, dos Pink Floyd, e que só foi lançado dez anos depois deste que vos falo. Sem vozes, Electronic Sound distingue-se pela sua onda mais experimental, “muito à frente” para os finados anos 70.

A sonoridade de George Harrison afasta-se completamente da zona rock’n’roll dos Beatles. Aliás, enquanto Lennon e McCartney nos presentearam com temas dentro do pop rock, Harrison destaca-se com um álbum mais próximo do rock psicadélico e progressivo, ainda que não tenha tido muito sucesso.

Para além das poucas vendas, o álbum ainda trouxe consigo um processo judicial por parte do teclista Bernie Krause, que afirmava que grande parte da segunda faixa era nada mais nada menos do que a sua demonstração do funcionamento do sintetizador Moog-III a Harrison.

Admito que depois de saber isto perdi uma fracção da minha imparcialidade. De facto, Electronic Sound soa a alguém a produzir precisamente o que o seu título indica: sons electrónicos de uma forma um tanto ou quanto desorganizada, misturados com ruído branco. No entanto, não acredito que isso retire quaisquer créditos, quer a George Harrison, quer ao seu álbum.

Não classificaria Electronic Sound como algo comercial, para se ouvir no carro, mas sim como uma experiência para um público específico.

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