Música

Angels and Airwaves: de pés assentes no chão

The Dream Walker Crítica - Ricardo Ramos - Música

Da mesma pessoa que nos trouxe um videoclip completamente nu, chega uma das melhores produções sonoras deste ano.
Os Angels and Airwaves são um produto da mente criativa de Tom Delonge: também vocalista da famosa banda californiana de pop-punk, Blink 182. Quando em 2005 os Blink 182 decidiram entrar num hiatus permanente, Tom Delonge decidiu formar os Angels and Airwaves. Ao contrário do estilo mais despreocupado e da vertente muito mais adolescente que a sua banda anterior apresentava, os Angels and Airwaves são, nas palavras do próprio, um projecto artístico que procura uma nova abordagem com os fãs. Não só através da música, mas também através de vários meios audiovisuais: filmes; banda desenhada; ilustrações; etc.
A banda conta com quatro álbuns de estúdio anteriores a este “The Dream Walker”. “We Don’t Need to Whisper” (2006), “I-Empire”(2007), “Love” (2010) e “Love: Part two” (2011). Tendo sempre muito vincada uma sonoridade space rock. O grupo carrega também na sua bagagem um filme intitulado “Love” produzido inteiramente pelos mesmos.
Recentemente, a banda tornou-se um duo. Com a saída do guitarrista David Kennedy e do baixista Matt Wachter, Tom Delonge e o Baterista Ilan Rubin tiveram de assumir o leme e acabar este “The Dream Walker”. Como foi então a experiência da banda enquanto duo?
Nota-se claramente que não foi apenas o compositor principal da banda, Tom Delonge, a construir este LP. E o suspeito do “crime” Ilan Rubin não foi somente o baterista deste álbum, foi muito mais do que isso. Há, indubitavelmente, um novo paradigma na sonoridade da banda: mais focada, mais sombria e sobretudo muito mais limada, deixando de fora alguma daquela onda mais espacial tão marcada do grupo.
Inicia-se o álbum com o tema “Tenagers and Rituals”: um piano que nos faz, literalmente, estranhar e depois entranhar. Isto porque, em seguida, a faixa ganha uma nova vida e entram os sintetizadores e a ambientação espacial tão típica da banda. É um começo excelente para o CD.
Eis que ouvimos mais e mais deste “The Dream Walker” e chegamos à conclusão de que existe uma grande influência na música dos anos 80: mais especificamente em temas como “Paralized”, “Bullets In The Wind”, “Kiss With a Spell” e “The Disease”.
“The Disease” é também a faixa onde a parte vocal sobressai de uma maneira brilhante. Bom trabalho de harmonias e bom trabalho da parte técnica deste LP. Produzido de forma independente, é sem dúvida uma produção de excelência, onde, mais uma vez, a influência de Ilan Rubin é notada.
As letras de Tom Delonge bebem grande parte da sua influência em temáticas como o espaço, romances esquizofrénicos e mundos fantásticos de alienígenas. Com este álbum, não é diferente. Há por vezes alguma incoerência na parte lírica, isto porque se notam frases soltas entre letras que até faziam sentido e que depois deixam de o fazer.
A fechar este álbum está uma surpresa que nos pode deixar a “chorar por mais”. “Anomaly”, um pequeno tema acústico, que conclui este CD de uma maneira quase perfeita. Esta é sobretudo uma longa-metragem sonora mais contida: menos experiências, menos ambientação espacial, mais influência noutro tipo de melodias e mais foco naquele que é um verdadeiro projecto artístico antes de ser uma banda.
Se há algum pecado que este grupo tenha cometido é o facto de não ter o reconhecimento que, na minha opinião, deve ter. “The Dream Walker” é o álbum que pode, sem dúvida, proporcionar isso a este fantástico projecto.