Cinema e Televisão

“Green Book” – um guia para a aceitação

Solidão, tristeza, aceitação e amizade. Estas são as quatro palavras que descrevem todo o filme. A solidão de não ter alguém que nos entenda; a tristeza de não pertencer a lado nenhum; a aceitação que devemos fazer de nós próprios e dos outros e a amizade imprevisível que nasce de uma longa viagem pelo país e pela vida.


Créditos : Photograph by Patti Perret Universal Everett

(Foto de capa) O filme “Green Book” já se encontra nos cinemas

Retirado da revista “ The New Yorker”: https://www.newyorker.com/culture/the-front-row/green-book-reviewed-peter-farrellys-bland-regressive-flip-on-driving-miss-daisy

Tony Vallelonga é um imigrante italiano a viver em Nova Iorque, num dos bairros mais problemáticos da cidade. Habituado a resolver qualquer tipo de problema, seja com conversa fiada seja com violência, Vallelonga é um homem que ferve em pouca água. Do outro lado do espectro encontramos Don Shirley: um músico conceituado, que sempre viveu a vida sem passar por dificuldades financeiras, mas impedido de realizar os seus sonhos devido à cor da sua pele. Dois mundos que se encontraram numa viagem pelo sul dos EUA, em plena época de segregação, quando Tony é contratado para ser motorista privado de Don. Apesar de ser reconhecido por todos, Don é alvo de repetidas atitudes racistas e homofóbicas contra as quais Tony tenta lutar, através da revolta e ultrapassando os seus próprios preconceitos. Ao mesmo tempo, Don apresenta um novo mundo a Tony, mostrando que ninguém nos pode dizer aquilo que podemos ser, através de lições de escrita e de vida, no fundo.

Legenda: Don e Tony tornaram-se grandes companheiros no decorrer da viagem, apesar das dificuldades iniciais

(Créditos: Courtesy of Universal Pictures/ Participant/ DreamWorks.)

Retirado da revista Vanity Fair: https://www.vanityfair.com/hollywood/2018/12/truth-about-green-book-viggo-mortensen-mahershala-ali)

Um filme simples sobre uma história verídica, escrito pelo próprio filho de Vallelonga, com um guião sóbrio e uma ação fácil de acompanhar. Esta simplicidade serve para retratar temas pesados de uma forma bastante leve, utilizando até a comédia, o que pode, por vezes, desvalorizar aquilo que o pianista está a tentar alcançar.  Don Shirley é um homem negro e homossexual, numa altura em que se vivia num clima de segregação, na década de 1960. Shirley não se sentia encaixado em lado nenhum e, por isso, não se aceitava a si próprio, vivendo uma vida baseada na solidão. Ainda assim, Shirley era um homem educado que tentava lutar contra as injustiças de que era alvo, mostrando ao mundo que também ele merecia o seu lugar. Tony foi a peça fundamental para cumprir esse objetivo ao compreender e proteger o mundo de Don. Este é um filme que mostra a importância de termos alguém na nossa vida para nos ajudar a travar as nossas batalhas.

A excelente atuação destes atores faz jus à mensagem de aceitação que o filme quer passar. E a simplicidade, que o realizador Peter Farrelly demonstrou, fez deste filme um candidato para o Óscar em 5 categorias. Contudo, nem tudo correu de forma brilhante. É quase impossível não comparar esta história àquela que nos foi apresentada em “Amigos Improváveis”, em 2011, onde também se retrata uma amizade nascida pela entreajuda de duas pessoas vindas de mundos completamente diferentes e que se compreendem como ninguém. Foi usado o mesmo toque de comédia para retratar os temas difíceis. Além disto, a realidade apresentada sobre a segregação é representada de uma forma talvez demasiado simples e pouco explorada, podendo ter sido retratada de uma outra forma.

“Green Book” é um filme que, no entanto, não desilude as nossas expetativas e, por isso, está nomeado para a 91ª edição dos Óscares. Por cá, podes vê-lo nos cinemas a partir de dia 24 de Janeiro.

Artigo revisto por Catarina Gramaço