Faleceu Diogo Freitas do Amaral
Freitas do Amaral faleceu esta quinta-feira, com 78 anos, em Cascais, onde se encontrava internado há duas semanas. Era um homem de direita que chegou a governar com a esquerda. Foi um dos fundadores do CDS.
Nascido na Póvoa de Varzim, Freitas do Amaral era filho de um engenheiro que chegou a ser secretário de Salazar no Ministério das Finanças. Era próximo de Marcelo Caetano, de quem foi aluno em Direito. Depois da Revolução foi um dos fundadores do CDS. Era europeísta, e foi isto que o fez afastar do seu partido, em 1992, quando Manuel Monteiro quis tornar o CDS num partido eurocéptico. Aproximou-se do PS, tendo integrado o executivo de José Sócrates, em 2005, no cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros. No entanto, esta permanência no governo de esquerda durou apenas um ano, pois Freitas do Amaral abandonou o cargo por motivos de saúde. Também presidiu, durante um ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas. Na Academia, era um professor catedrático de Direito altamente respeitado. Há três meses lançou a autobiografia ‘’Um percurso singular’’, que terá sido a sua última obra.
Nas palavras de homenagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral foi “um dos quatro pais fundadores do sistema político-partidário democrático em Portugal“. Recorda a sua célebre disputa presidencial de 86 frente a Mário Soares, onde acabou por perder na segunda volta frente ao socialista.
António Costa reagiu à notícia da morte de Freitas do Amaral declarando que o governo vai decretar Luto Nacional e que este coincidirá com o dia do funeral. Enviou também as condolências à família. Conclui com o desabafo de que “a título pessoal, e como seu antigo colega de Governo, não posso deixar de recordar o muito que aprendi com o seu saber jurídico, a sua experiência e lucidez política e o seu elevado sentido de Estado e cultura democrática, que sempre praticou”.
Assunção Cristas encontrava-se em Barcelos quando recebeu a notícia e pediu, de imediato, um minuto de silêncio em honra de Freitas do Amaral. Cristas afirmou que Freitas “teve momentos em que se afastou mais do pensamento do CDS e do partido, mas isso não nos pode deixar esquecer que na base deste partido esteve a coragem do Diogo Freitas do Amaral e muitos que com ele ousaram criar um partido que é fundador da nossa democracia’’.
Nas suas palavras, num livro que publicou com a sua filha Filipa, “Pai e Filha em Diálogo”, Freitas do Amaral desabafou que “se eu tiver conseguido pôr a maioria dos meus alunos a gostar de Direito e da Justiça, e uma boa parte dos portugueses a compreenderem e a aceitarem a democracia, se tiver podido colocar no Diário da República algumas boas leis e se tiver honrado o meu país em Bruxelas e em Nova Iorque, terá mesmo valido a pena, foi uma vida cheia”.
Artigo revisto por Daniela Costa