Treze Sugestões Para Um Halloween Indie
Aproxima-se o final de outubro… As folhas castanhas foram roubadas às árvores e abandonadas à mercê de uma brisa cada vez mais gelada. Aquele barulho estranho que te acorda às duas da manhã está agora mais intenso (provavelmente, é apenas aquele som que o autoclismo faz durante horas quando não o puxam corretamente, mas, para o bem deste artigo, vamos fingir que é um monstro esfomeado que se esconde no armário ou um espírito que se apodera da forma dos casacos pendurados no bengaleiro). Como diz aquele velho ditado (que pode ou não existir), “o medo combate-se com mais medo” e, escolhida esta estratégia, elaborámos uma lista de 13 candidatos para aterrorizar o Halloween daqueles que mais precisam de ter medo neste dia de doçuras e travessuras. E fá-lo-emos da maneira mais livre – indie style.
Para os Mais Estranhos
Midsommar – O Ritual
Dizer que Ari Aster causou um splash com Hereditário em 2018 é dizer muito pouco. Com Midsommar – O Ritual, encontra o terror nas palavras que escolhemos não dizer e no peso que estas possuem. O cineasta volta a explorar os efeitos do luto no subconsciente humano, deixando que o mesmo desespero que assombrou os subúrbios americanos em Hereditário viaje ao encontro de uma comunidade pagã de Härga (na Suécia), transformando-se numa estrada sueca pavimentada com más intenções e pesadelos pintados de verde, à luz do sol. Mas, de facto, o que mais impressiona é poder dizer-se que Midsommar é indiscutivelmente uma obra de Ari Aster – ter um estilo tão distinto e reconhecível após apenas dois filmes (e dois anos) é fascinante.
The Neon Demon – O Demónio de Néon
Qual o preço da beleza? E por que razão estamos todos tão obcecados por ela? Se o diabo usasse saltos altos, era assim que desfilaria pela passadeira vermelha da crise existencial da raça humana: de cabelo apanhado num picador de gelo e glitter salpicado ao brilho de uma lua tenebrosa de outubro. Obra do realizador Nicolas Winding Refn (de Drive – Risco Duplo), esta história repleta de inveja, orgulho e desejo explora os limites tabu da violência humana através de notáveis prestações por parte de Elle Fanning e Keanu Reeves.
Suspiria (1977 e 2018)
Uma fábula de terror cultista passada numa combinação daqueles que podem ser considerados dois dos sítios mais aterradores do planeta: a cidade de Berlim durante a Guerra Fria e uma academia de ballet. O filme original, do lendário Dario Argento (pioneiro do movimento giallo do cinema italiano), é um pesadelo iluminado a néon cintilante e perturbado sinfonicamente por uma banda sonora de arrepiar a espinha.
Já o remake, assinado por Luga Guadagnino (nomeado para os Óscares com Chama-me Pelo Teu Nome), abandona toda a palete de cores primárias e aproveita-se da aura de desespero que consumia a cidade para fundamentar a sua crítica social… Com Dakota Johnson (Cinquenta Sombras de Grey), Chloë Grace Moretz (Kick-Ass – O Novo Super-Herói), Mia Goth (Cura do Bem-Estar) e Tilda Swinton (Grand Budapest Hotel) em três papéis em simultâneo, este filme vem comprovar que, ao contrário do que Harry Potter e a Disney nos ensinaram, as bruxas não são sinónimo de objetos tão simples e frugais como vassouras ou caldeirões mágicos.
Para os Fãs de Adrenalina
Ginger Snaps – Tentadora Maldição
Menosprezado aquando do seu lançamento por ser considerado uma exploração da violência adolescente numa paisagem americana pós-Columbine ainda muito sensível, Ginger Snaps foi um filme que esteve bem à frente do seu tempo. É, em simultâneo, um derivado do slasher horror, consciente do seu género e dos clichés que o acompanham, e uma sátira dos efeitos metafóricos da puberdade. No que toca ao enredo: Brigitte e Ginger são duas irmãs inseparáveis com uma curiosidade pelo macabro. No dia em que Ginger tem a sua primeira menstruação, é mordida por um lobisomem e o filme joga com os paralelos entre a sua transformação monstruosa e as suas mudanças hormonais – a descoberta da sexualidade e os comportamentos rebeldes com fundamento da adolescência.
Bliss
Se a sangria contaminada com alucinógenos de Climax procriasse com a violência explosiva e os tons vermelhos de Mandy, e os tios fossem os caninos vampirescos de Os Rapazes da Noite, o resultado seria algo parecido com Bliss. O filme de Joe Begos, que marcou a última sessão da meia-noite no festival MOTELx deste ano, segue uma artista plástica com um bloqueio criativo pela noite adentro, enquanto esta se defronta com os efeitos de uma droga potente e desenvolve um novo apetite peculiar. Não é indicado para qualquer tipo de público, mas sim para aquele que não se importa de explorar o plano do abstrato – para esse sim, com certeza que será uma experiência única e memorável.
Para os Que Riem Para Não Chorar
Ready or Not – O Ritual
Sogros são, muitas vezes, criaturas difíceis de suportar, especialmente quando têm tradições ritualísticas que colocam em risco a vida dos seus genros e noras. Ready or Not pega nesse nervosismo e acrescenta-lhe uma dose de pânico e pura adrenalina. Ganhar um jogo das escondidas numa mansão gigante parece algo fácil para aquele que se esconde. Mas o que acontece quando se acrescentam machados, bestas e caçadeiras à equação? Aqui na ESCS Magazine queremos que este filme ganhe todos os Óscares e que a protagonista, Samara Weaving, seja a recetora de todos eles.
The Evil Dead – A Noite dos Mortos-Vivos
Considerado um dos grandes reis do terror low-budget, Sam Raimi (que, mais tarde, seria o capitão em controlo do navio da primeira trilogia de filmes do Homem-Aranha) é um dos principais responsáveis por grande parte dos filmes de terror que temos à nossa disposição hoje em dia. Na companhia de um grupo de amigos e provido de um orçamento que não dava para mais do que um Happy Meal, inventou o sub-género “cinco amigos seguem para uma casa na floresta e são brutalizados pelo Diabo” e influenciou várias gerações durante os últimos 40 anos. Ao visualizar o filme nos dias de hoje, deduz-se claramente a sua idade, mas não num sentido negativo: tal não é a magia palpável com que Raimi preenche o ecrã. Recomendamos também a sequela – se o primeiro estabeleceu um género inteiro, Evil Dead II (A Morte Chega de Madrugada, 1987) ensina-nos que, por vezes, a arte do humor meta também gosta de morder uma veia jugular.
Para os Mais Românticos
Spring
Uma viagem a Itália, a descoberta do amor e… algo mais. Spring é uma espécie de mistura de Antes do Amanhecer com um twist do qual H.P. Lovecraft ficaria orgulhoso. Quase a roçar o mumblecore, que explora profundamente com o dom das suas personagens, falando sobre tudo e mais alguma coisa, mas adicionando-lhe ainda um melodrama digno de uma tragédia grega. Para fãs de body horror, do fantástico e de amores impossíveis.
Let Me In
Para os eternos apaixonados pela melancolia e para aqueles que nunca se deixaram convencer pelas purpurinas epidérmicas e mood swings tristonhos dos vampiros mais populares do bairro de Hollywood, Deixa-me Entrar é uma pequena pérola que passou despercebida, na sombra do seu antecessor mais bem recebido (um remake do sueco Let the Right One In). Realizado por Matt Reeves (dos últimos dois Planeta dos Macacos e do futuro The Batman, com Robert Pattinson), lida com temas adultos enquanto se mantém radiante de uma aura juvenil, desesperada por encontrar o seu lugar num mundo que não a compreende. O título vem da clássica maldição que proíbe os vampiros de entrar em propriedades alheias sem convite.
Para os Paranóicos
It Follows
O conceito de It Follows (em português, Vai Seguir-te) é simples – uma entidade maléfica persegue um indivíduo, podendo apenas fazê-lo a andar, em passo lento. Se lhe tocar, morre. Esta maldição passa-se através das relações sexuais – se a entidade matar o seu alvo, a maldição retrocede para aquele que a teve anteriormente.
Parece mais um produto do movimento anti-SIDA do que um filme de terror arthouse, mas o que It Follows fez foi impulsionar um movimento cinemático por si mesmo. O filme de David Robert Mitchell chegou numa altura em que a nova vaga de terror fora do mainstream ganhou momentum e arrasou o Sundance, assim como outros festivais de cinema independente. O resultado foi um aterrorizante filme cujo efeito se concentra em set-ups pacientes e olhares paranóicos em redor, e acabou por transcender o público-alvo e servir como um trampolim para o realizador, que continuou o seu currículo com O Mistério de Silver Lake, em 2018.
The Poughkeepsie Tapes
Corria o ano de 2008 quando, apenas semanas antes do seu lançamento, o aguardado The Poughkeepsie Tapes foi arrumado na prateleira do estúdio MGM. O filme já havia sido publicitado, com trailers a passar antes de sessões como as de Atividade Paranormal (também este um filme de terror que seguia o trend do found-footage), mas foi lançado apenas seis anos depois, em VOD (plataformas digitais).
A decisão do cancelamento ainda hoje permanece uma incógnita. Na sua versão final, o filme é um dos mais aterradores do género e, diga-se de passagem, podia ter sido um sucesso internacional, com uma data de lançamento que se encaixava exatamente na ascensão do found-footage. Em vez do paranormal joga-se com o terror do mundo real – raptos, tortura, trauma psicológico e pânico social. Não recomendado para os fracos de estômago.
Para os Mais Fortes
The Texas Chain Saw Massacre
Rei da montanha e pai de todo o género moderno do terror, The Texas Chain Saw Massacre (em português, Massacre no Texas) continua tão eficaz hoje como na altura do seu lançamento, em 1974 – um pesadelo saturado de zumbidos metálicos e mutilado de formas abstratas, às vezes de forma tão subtil que se fica na dúvida de se será real ou não. Esta obra cinematográfica tornou-se a inspiração para todas as perseguições do slasher horror e todas as famílias psicopatas que preencheram o mundo audiovisual desde então. Recomendamos também a sequela de 1986, que levou o realizador Tobe Hooper (falecido em 2017) a trocar o pânico do filme original por uma auto-sátira que, em si mesma, critica todas as cópias que dela divergiram.
Baskin
Há várias formas de descrever Baskin, mas nenhuma delas é particularmente agradável. Quando passou pelo MOTELx, nas edições de 2016 e 2017, o realizador Can Evrenol descreveu os seus filmes como sendo os seus sonhos e pesadelos mais bizarros “atirados” em simultâneo para a tela. No entanto, está ao critério de cada um decidir se existe tal lugar como o inferno, mas, se de facto existir, será coerente imaginarmos que seja algo parecido com o que nos é aqui apresentado. E não parece, de todo, um sítio quente.
Artigo revisto por Inês Paraíba