Eternal Sunshine Of The Spotless Mind: Será a ignorância realmente uma benção?
Eternal Sunshine Of The Spotless Mind (ou O Despertar Da Mente, em português) é um filme de romance dramático com alguma comédia. Saiu para os cinemas em 2004 e veio contar, de uma perspetiva inovadora e surreal, a história entre as personagens Joel Barish e Clementine Kruczynski, interpretados por Jim Carrey e Kate Winslet.
Escrita por Charlie Kaufman e realizada por Michel Gondry, esta longa de 108 minutos conta com diversos pontos de interesse que marcaram o cinema dos anos 2000.
O Enredo
A premissa do filme é relativamente simples: um antigo casal, devido a todos os problemas que teve na relação, recorre a um novo tratamento indolor que, em apenas uma noite, irá apagar as memórias que têm um do outro e, assim, torná-los desconhecidos.
Clementine é uma jovem impulsiva que se farta rapidamente daquilo que a rodeia. Um exemplo claro disso é a quantidade de vezes que mudou a cor de cabelo, ao longo da sua relação com Joel. Num ato pouco pensado, decide recorrer ao tratamento para apagar as suas memórias de Joel. Assim que este descobre o sucedido, mesmo com a sua timidez e incerteza, ele próprio se submete ao mesmo processo. Porém, à medida que acompanhamos Joel numa viagem pelas suas memórias – enquanto as revive na sua mente antes de serem apagadas para sempre -, ele começa a aperceber-se de que não se quer esquecer dos momentos que passou com Clementine, quer sejam bons, quer sejam maus, e luta contra o processo, para manter as lembranças vivas.
Na clínica que aplica o tratamento ao par, trabalham quatro personagens secundários: Dr. Mierzwiak (Tom Wilkinson), criador do processo; Mary (Kirsten Dunst), a sua assistente; Stan (Mark Ruffalo) e Patrick (Elijah Wood). São estes que tentam levar a limpeza até ao final, enquanto Joel, ainda que inconsciente, lhes dificulta a vida ao tentar preservar as lembranças que tem de Clementine, noutros cantos da sua memória.
O que o diferencia de outros filmes do género
A maioria dos filmes de romance, pelo menos até 2004, tinha um formato muito semelhante: a história era sempre baseada em estereótipos, as personagens nunca mostravam uma grande densidade psicológica e o final feliz era sempre altamente previsível.
Este filme veio inovar nesse sentido: a história gira à volta de dois adultos com os seus respetivos problemas e virtudes, mesmo antes de se conhecerem. Com o decorrer da ação, ficamos a saber cada vez mais sobre as personagens. Existe, portanto, um grande desenvolvimento dos traços, principalmente psicológicos, de Joel e de Clementine.
A narrativa também não é desenvolvida de uma maneira comum. No início são apresentadas cenas que só é possível compreender ao longo do filme, causando um sentimento de confusão e de desconforto quando se inicia a visualização da longa.
Tendo em conta que, na maioria do tempo, o espetador apenas tem acesso a memórias e não a ações que estão a decorrer em tempo real, o surrealismo está sempre presente, quer nos cenários (como uma cama no meio da praia), quer nos acontecimentos a que as personagens são expostas. Relativamente ao final: digo apenas que é deixado em aberto e cabe ao espetador decidir se é feliz ou não. Ou se não é nenhum dos dois, porque, na maioria das vezes, os finais acabam por não ser só felizes ou só tristes. Vai depender da perspetiva de cada um.
Análise do Título
Eternal Sunshine Of The Spotless Mind não é traduzido à letra para O Despertar Da Mente, mas para “O Brilho Eterno De Uma Mente Imaculada”.
O que Joel e Clementine fizeram parece extremamente tentador para muita gente que sofreu experiências semelhantes numa relação. Porém, não é clara a maneira como este processo se vai refletir nas suas vidas e as consequências que, na prática, poderá haver.
Este filme explora a questão sobre se efetivamente a ignorância é uma bênção. Há quem diga que todos nós somos um conjunto de experiências e memórias, tanto boas como menos boas, e, se apagarmos as nossas lembranças, acabamos por nos apagar a nós mesmos.
Porém, também é defendida a posição de que quanto menos se sabe, melhor, e é preferível permanecer na ignorância à informação ou experiência adquirida causar sofrimento. Deixo-vos esta questão em aberto.
Posto isto, recomendo vivamente este filme. Não só pelas barreiras que quebra, mas também pela banda sonora e pela brilhante atuação de Kate Winslet e, especialmente, de Jim Carey, pois, na época em que o filme foi lançado, o ator era conhecido pelos seus papéis cómicos, não pela sua sensibilidade na interpretação de um papel dramático. É possível dizer que este trabalho foi uma revelação da versatilidade do ator.
Um motivo extra para vos convencer a ver esta obra é a sua alta capacidade para ser quotable/citável, portanto, podem aproveitar para apontar algumas deixas e refletir sobre elas.
Artigo redigido por Marta Engenheiro
Artigo revisto por Beatriz Campos
Fonte da imagem de destaque: Davidarioch
AUTORIA
A Marta Engenheiro frequenta atualmente a licenciatura em Jornalismo e tem como objetivos ser locutora de rádio, dobradora de desenhos animados e apresentadora do Festival da Canção. Adora a sua gata, mas como não pode escrever só artigos sobre ela diverte-se também a falar de arte.