E o amor não-correspondido? Não é o fim do mundo!
Escusado será dizer que todos nós já tivemos o nosso coração “partido aos bocados”, como diz a expressão, e escusado será falar em quantas vezes nos culpabilizámos por isso… Mas, analisando de forma lógica, será que tivemos mesmo culpa? Vamos lá pensar nisto por um segundo. Quem é que escolhe amar quem?
Ora bem, há várias experiências de um amor não correspondido. Pode ser um “não” imediato, um “não” depois de já ter começado a relação, um “não” após envolvimentos sem o compromisso… São tantas e diversas as formas como estas histórias se desenrolam, mas há um lembrete que deixo para nos lembrarmos sempre: isto não nos define! São histórias e nunca, nunca tiram o nosso valor intrínseco.
Ninguém escolhe quem ama e cada pessoa tem os seus próprios valores e forma de viver a sua vida. Logo, é natural que eventualmente não resulte.
1. Passa pelo “luto”
A tendência de algumas pessoas em manterem-se fortes é a principal razão pela qual caem com maior intensidade. É normal sofrer; sofrer é ser humano; por isso, permite-te sentir essa dor. Não digo passar semanas enfiada/o nos lençóis a chorar; não. Mas três dias no máximo a refletir, a chorar e a ver filmes é perfeitamente aceitável. Ninguém vai exigir de ti uma força desumana (ou pelo menos não deviam). A verdade é que, se não enfrentarmos o problema de imediato, ele não desaparece. Ao invés, revela-se ainda no futuro. E, afinal, pode até afetar um possível verdadeiro amor que possa vir. Sendo assim, sofre (por amor), porque todos já sofremos. Mas não deixes que essa dor te controle.
2. Bloqueia
Sim, é difícil e há quem veja isto como imaturidade. Mas, assim como na vida real, por vezes temos de simplesmente cancelar essas pessoas e evitar o contacto de qualquer forma. Afinal, quem quer passar o dia a ver instastories da pessoa que lhes partiu o coração? Faz o que tens a fazer. Se isso significa bloquear, apagar números, fotos, mensagens, fá-lo. Aceita que para cada período há um fim e, às vezes, é preciso dar um tempo da pessoa. Posso afirmar por experiência que é possível criar amizade com um ex-amor, mas, para tal, é preciso que o tempo passe. Ninguém fica amigo no dia seguinte: é impossível. Se há sentimentos, temos de deixar o tempo curar e de nos fazer perceber o porquê de dar errado e, até, fazer com que o tal amor desvaneça aos pouquinhos. Muitas vezes, até percebemos neste processo que nem amor era; era uma paixão fugaz que, tal como quase todas as outras, tem um fim e está tudo bem. Mas limitar o acesso que as pessoas têm a ti é uma demonstração de amor-próprio.
3. Lista os prós e contras e reconhece o que é o amor não correspondido
Ora bem, de certeza que já viste nos filmes pessoas a fazerem a lista dos prós e dos contras e a verdade é que dá muito mais jeito do que parece. Sempre que te sentires tentada/o, pega na lista e relembra o porquê de a pessoa nem ser a ideal para ti. Como tudo na vida, por vezes apenas precisamos de motivação e de nos relembrarmos dos nossos objetivos. Isto impede-nos de irmos a correr atrás ou de aceitarmos que voltem de novo para as nossas vidas, muitas vezes para nos magoarem de novo. Logo, não é algo infantil. Pois, se listas os teus objetivos profissionais, também devias de listar os teus objetivos de desenvolvimento pessoal e relacional.
Além disso, muitas vezes o outro pode nem ter intenções de nos magoar. Quando a pessoa diz logo “não”, não leves isso como algo pessoal. Afinal, somos todos diferentes e procuramos coisas diferentes tanto nos nossos parceiros como na nossa vida. Sim, há quem simplesmente não esteja interessado numa relação naquele momento. Assim como há quem tenha bem definido o que é melhor para si, para o seu estilo de vida e isso não te torna inferior. Isto é o amor não correspondido e jamais é culpa de alguém.
4. Investe em ti
Relembrares-te a ti do teu valor nesta fase é crucial. De facto, se já havia envolvimento com a pessoa, torna-se um pouco difícil, no sentido de já haver “rotina”. Aliás, este artigo não é para dizer que é super fácil, porque todos sabemos que não é. Ninguém gosta da sensação de um amor não correspondido, mas aprender a lidar com as emoções é uma soft skill de excelência. Logo, nesta fase é melhor começares a delinear e a refletir sobre quem és e quem queres ser.
Ias àquele restaurante todos os sábados com aquela pessoa? Arranja um novo restaurante só para ti, todos os sábados. Querias muito ver aquele filme naquele dia? Não deixes de ir só por não teres companhia. E, mais importante, não arranjes um rebound. As pessoas sentem e tu não tens direito em trazer a pessoa para a tua própria instabilidade. Daí, é melhor simplesmente focares-te em passar tempo contigo; e aproveita; aproveita para fazeres aquilo tudo que sempre quiseste. Vai e faz aqueles hobbies que estás há meses a falar que queres experimentar.
Noutro cenário, se foi um amor não correspondido quase imediato, podes simplesmente focar-te na tua própria sensualidade. Isto é, dança em frente a um espelho, observa o teu corpo, cada curva e cada cicatriz e vê a beleza que há em ti. Relembra-te dos teus valores e objetivos. Vê a beleza mental e física que tens, focando-te SÓ em ti! Os outros não precisam de te aprovar para te aprovares a ti mesmo.
5. Quando estiveres pronta/o, volta! Mas com padrões
A sociedade tem tendência a falar de mulheres com altas expetativas, inatingíveis e gold diggers. No entanto, muitas vezes nem se trata disso. Mas de perceber o que a pessoa pretende da vida. Já ouvi tantas vezes a questão de: “Ah, ela só quer saber o que faço da vida para ver se tenho dinheiro”. Na realidade, muitas vezes, a pessoa só quer saber disso para ver a tua ambição. Afinal, se estamos a procurar alguém para ser nosso parceiro, pai ou mãe dos nossos filhos, temos de tomar cuidados-extra.
É óbvio que se referirem que andam no crime é um fator para a pessoa sair e afastar-se ou, então, se está desempregado/a e não pretende sequer procurar emprego (por viver à custa de outros e não se sentir incomodado/a com isso). Temos de ser realistas com estas questões e deixar o emocional de lado. Para algo resultar, os valores têm de ser semelhantes. Ter padrões é ter respeito próprio, não significando que o outro não possa ter defeitos. No entanto, isso mesmo, defeitos, não falta de bom senso.
Para além disso, importa mencionar como os nossos valores e os nossos hábitos devem corresponder aos da pessoa. Um exemplo: se estou habituada a um estilo de vida saudável, é natural que me sinta incomodada por ver a pessoa a encomendar pizza da loja ao lado de casa todos os dias. Isto para dar um exemplo bastante simples e prático. Mas pode até ser em fatores mais importantes como a minha perspetiva sobre a religião. É claro que duas pessoas de diferentes religiões se podem relacionar (ou um ateu com uma pessoa religiosa), mas, se porventura a pessoa criticar ou “desprezar” a religião do seu amado, o que por si só é imoral, já é um fator a entender o porquê de a relação não durar.
6. Procura ajuda/terapia!
Procurar ajuda é um sinal de maturidade e de entendimento de que nós não resolvemos tudo na nossa vida sozinhos. Toda a gente precisa de terapia por diferentes razões e a saúde mental jamais deve ser colocada em segundo plano.
Se uma pessoa sofre com uma rejeição ou um amor não correspondido, querendo ou não, isso vai afetar as suas tarefas, sejam elas a curto ou longo prazo, pois estamos a focar a nossa energia num assunto que não conseguimos fechar sozinhos. Aliás, muitas vezes nem percebemos que ainda não nos curámos sem essa ajuda externa para entender a situação em si. Vemos, frequentemente, relações tóxicas e pessoas que acabam por se envolver demasiado depressa com outras. Isso é um produto da dor que sentimos que não resolvemos. De alguma forma, assentamos só por medo de não termos ninguém. Justificamos e negamos o nosso direito de ter algo melhor, algo que, de facto, merecemos.
Isso é muito comum não só em mulheres, mas também em homens. Essa insegurança que geramos à volta do nosso valor cria mais dor de cabeça do que ter lidado logo com a dor de um amor que não deu certo. Reinventarmo-nos é normal, mas pensarmos que a outra pessoa não nos aceitou por sermos inferiores é falta de amor próprio. Por vezes, as coisas dão certo, por vezes não. É como quando entramos na faculdade e temos X expetativas sobre um curso que superficialmente e mesmo com pesquisa parece bom, mas só quando de facto estamos dentro e exploramos detalhadamente é que vemos se encaixa connosco. Isso não tira créditos à excelência do curso, como não tira à pessoa. É só algo que ou encaixa ou não e isso está fora do nosso alcance.
Não estás só!
É uma fase e não, não vai doer sempre. O tempo cura e, com força e dedicação, com foco no nosso desenvolvimento pessoal, mais rápido ainda. Aproveita isto antes como uma oportunidade de autorreflexão, mudança de hábitos, para uma maior assertividade nas relações presentes e futuras. Remexer no passado só quando for importante para analisarmos o progresso, mas sempre com foco nessa mudança, pois o que passou passou e nunca retomará.
Aceita-te e percebe que o que esta pessoa não quis há alguém lá fora ansioso/a para ter: alguém como tu. Talvez já seja o meu lado romântico a falar, mas acredito de verdade que há alguém para nós. Mas nunca para nos completar; ao invés, sempre para nos acompanhar. Somos completos, únicos e incríveis sozinhos. O amor é só mais um fator de felicidade, numa vida já feliz e completa.
Imagem de capa: BBC News Brasil
Artigo revisto por Miguel Bravo Morais
AUTORIA
Patrícia tem 19 anos e veio do Norte. Criada numa aldeia, desenvolveu um amor pela natureza e animais. Estuda Publicidade e Marketing e pretende trabalhar junto de organizações humanitárias. Mudou-se para Lisboa, mas nunca se esquece do seu Porto. Adora dançar, ler e ouvir clássicos de música. Sempre que pode, anda pelas ruas pronta para explorar algo novo e tirar fotos a cada detalhe artístico.