Literatura

Não nos esqueçamos da BD nem d’As Aventuras de Tintim

Estamos fartos de estar em casa e precisamos MESMO de umas quantas viagens para realinhar os nossos chakras, mas aquele tipo de viagem que dá para conhecer os países e com um pouco de aventura à mistura. Sabem quem também é todo dado às aventuras? Tintim. O famoso repórter belga criado por Hergé. 

As obras As Aventuras de Tintim tiveram mais de 230 milhões de cópias vendidas desde o seu lançamento em 1929, sendo possível chegar a todos os cantos do mundo e tendo sido traduzido para 70 línguas (mais coisa, menos coisa).

Neste mundo imenso por explorar – frase típica de quem quer viajar -, Tintim é um jornalista que viaja por todo o globo e arranja as melhores histórias, criando assim a sua própria reputação e mantendo-se fiel às suas crenças e amizades. E se vos disser que o autor nunca visitou grande parte dos locais que apareceram nas histórias? É um paradoxo e peras, não? Apesar de ter visitado, por exemplo, os Estados Unidos em 1971 e a Tailândia em 1973, Hergé trouxe-nos histórias das maravilhas do mundo (e até do espaço).

A Banda Desenhada, ou BD, tem um lugar de destaque no auxílio à criação de hábitos de leitura. Crianças, jovens e jovens adultos recorrem a esta forma narrativa como ritual. É daqueles métodos que nos ajudam a ler e a desenvolver a nossa criatividade através do grafismo. A escrita é leve e conseguimos estar atentos tanto à história que o autor nos está a contar como à componente gráfica e a tudo aquilo que o livro envolve.

Ou seja, a BD adapta-se a vários momentos da nossa vida e As Aventuras de Tintim estão presentes desde a nossa infância. Nós, quando somos confrontados com esta personagem e as suas histórias, sentimos aquela onda nostálgica que nos lembra de um dos motivos pelo qual gostamos tanto do nosso jornalista belga.

Que tal revivermos um pouco das histórias do Tintim e companhia e ficarmos a conhecer umas quantas curiosidades? 

Repórter ou Detetive?

Tintim com os detetives Dupond e Dupont.
Fotografia de Joana Americano

Sempre soubemos que Tintim é um jornalista. Não há que enganar. Não é polícia, não é agente, nem detetive. Existe sempre a referência do seu trabalho de investigação e isso explica o porquê de tanta curiosidade e de não se contentar com uma resposta negativa. Verdade seja dita: o nosso Tintim, com um corte de cabelo único, consegue sempre meter-se em várias confusões por conta desta sede de querer respostas para as suas perguntas. 

Apesar de se mostrar sempre como repórter, Tintim demonstra estar sempre um passo à frente até da polícia, também conhecida como Dupond e Dupont – os dois agentes totalmente iguais e cuja grande diferença está no bigode (Dupond usa o bigode com um corte reto e penteado para baixo e Dupont usa-o com as pontas enroladas para fora). Sem dúvida que ambos eram um dos motivos de várias gargalhadas que soltávamos durante a leitura. Até nos perguntávamos como eles conseguiam ser polícias, mas sabíamos que era graças a Tintim. Era ele que encontrava os criminosos e que os dava de bandeja aos amigos. No final? Eles ficavam com os louros; Tintim escrevia a história.

Os verdadeiros companheiros de Tintim: Haddock, o grande Lobo do Mar, e Girassol, o professor meio surdo

Quando Tintim e Capitão Haddock conhecem Professo Girassol.
Fotografia de Joana Americano

Ao longo das aventuras vemos vários personagens que se tornaram recorrentes e grandes companheiros do nosso protagonista: Capitão Haddock, o grande homem do mar, em O Caranguejo das Tenazes de Ouro – capitão do navio que transportava ópio sem seu conhecimento. Graças a Tintim, o nosso Lobo do Mar descobriu que estava a ser enganado pela sua tripulação (e controlou-se na bebida).

É através da origem de Haddock que conhecemos o segundo grande amigo de Tintim: Professor Girassol. O professor, que tanto está presente na ação como parece que se perde nos seus pensamentos. Para juntar à equação, parece que é meio surdo (se bem que ele diz que é duro de ouvido). Conhecemo-lo em O Tesouro de Rackham, o Terrível, devido às suas invenções surpreendentemente sofisticadas. Girassol é uma das personagens que nos consegue arrancar umas belas gargalhadas à custa do seu problema de audição. Em grande parte das vezes, ele responde sempre algo totalmente disparatado e nada associado àquilo que lhe foi dito.

As duas personagens tendem a aparecer em várias das aventuras. Contudo, existe alguém que está sempre lá para Tintim, em qualquer situação, e que é mesmo o melhor amigo do nosso jornalista belga. 

Milu, o melhor amigo de quatro patas

Milu: o ladrão de ossos de dinossauro.
Fotografia de Joana Americano

O pequeno cão da raça fox-terrier apareceu logo na primeira história, Tintim no País dos Sovietes, e nunca mais largou o nosso repórter. É sem dúvida das personagens secundárias mais adoradas e foi graças a ele que Tintim teve sucesso em algumas das suas aventuras.

Milu é um cão muito bem treinado e a sua esperteza é vista como uma característica humana (até tem direito a falas). Além disso (espantem-se), o nosso amigo de quatro patas tem um problema com o álcool e, ainda por cima, tem um gosto apurado! O seu favorito é sem dúvida o uísque, mas não diz que não a um rum ou talvez a espumante. O seu dono não acha muita piada. Nem o seu dono, nem Haddock, apesar de o nosso capitão também ter um problema de bebida e ter ali um companheiro de copos (meio que à força).

Não nos esqueçamos das suas características caninas! É através do faro apurado que consegue ajudar o dono inúmeras vezes ou, por exemplo, quando Milu entrou à socapa num museu pré-histórico para poder roubar um enorme osso de dinossauro em O Ceptro de Ottokar.

Tintim visitou a Lua antes de Neil Armstrong

As histórias de Tintim no espaço.
Fotografia de Joana Americano

Em julho de 1969 contámos com um dos grandes marcos históricos que nos deu a frase icónica “One small step for man, a giant leap for mankind”: a primeira ida à Lua.

A narrativa de Rumo à Lua, e ainda mais em Explorando a Lua, veio muito antes da missão Apollo 11 ter sido um sucesso. Na realidade, foi tudo graças à intensa pesquisa de Hergé que Tintim conseguiu ir à Lua. As histórias foram publicadas no início dos anos 50, ou seja, mais ou menos 15 anos antes de Neil Armstrong deixar a sua pegada no Satélite Natural da Terra, e na história.

Nesta narrativa, contamos com Tintim, Girassol, Haddock (e, claro, Milu) para ir ao espaço, assim como vários experientes e personagens surpresa: os inesquecíveis Dupond e Dupont (nem eles sabem como foram lá parar)!

Na história de Hergé, Milu é o nosso primeiro cão no espaço – tudo graças à pesquisa do autor -, tendo conseguido fazê-lo antes de Laika, que apenas foi lançada para fora da órbita da Terra em 1957.

Existem personagens portuguesas na história de Tintim!

Mão ao peito e comecemos a cantar o hino nacional, porque, pelos vistos, há personagens portuguesas nos livros de Tintim! 

Apresentamos-vos Oliveira de Figueira.
Fonte: Tintim por Tintim

Hergé escolheu mesmo uma personagem portuguesa para aparecer assim de quando em vez na narrativa. O senhor Oliveira de Figueira, que afirma mesmo ser de Lisboa. Ele trabalha por conta própria, enquanto vendedor ambulante e vende de tudo e mais alguma coisa – aquilo que pensarem que é impossível ter, acreditem que este senhor tem. Ele aparece em várias histórias como Os Charutos do Faraó e, durante uma das suas interações, diz que Tintim é seu sobrinho, vindo de Lisboa.

Pedro João da Universidade de Coimbra.
Fotografia de Joana Americano

Hergé ainda cria mais uma personagem portuguesa em A Estrela Misteriosa e, desta vez, estamos no mundo da ciência. Pedro João dos Santos é professor de Física da Universidade de Coimbra e vai ajudar Tintim, bem como uma série de outros cientistas, na investigação sobre a dita estrela que caiu na Terra. Apesar de ele nunca ter falado na história, contamos com algumas aparições desta personagem portuguesa ao lado de Tintim.

Tintim é daquelas personagens que muda várias vezes de roupa

Tintim em Lótus Azul.
Fotografia de Joana Americano

Ao contrário do que acontece com outras personagens de Bandas Desenhas, como, por exemplo, Asterix e Obelix, Tintim é uma personagem que frequentemente muda de roupa (nem que seja para pijama como em As Sete Bolas de Cristal).

O repórter belga é conhecido pela sua camisola azul, ou camisa branca, e calças e sapatos castanhos. Por vezes, temos ainda a oportunidade de o ver vestido com o seu casaco também assim de uma cor mais neutra. No entanto, Tintim frequentemente se veste de acordo com a cultura representada na narrativa. Hergé pode ter usado o vestiário como uma ajuda extra para o entendimento cultural dos países visitados, dado que ele, no final de contas, nunca esteve lá para poder ver com mais detalhe. 

Tintim com Milu na sua aventura pelo Congo.
Fotografia de Joana Americano

A Banda Desenhada consegue trazer muitos adeptos, desde crianças até a uma faixa etária mais avançada. Estamos sempre dispostos a rir quando lemos as frases icónicas de Haddock como “mil milhões de macacos” ou quando vemos os amigos a gritar com Girassol e ele ainda acrescenta “não é preciso gritar, eu oiço perfeitamente”. E nunca nos esqueçamos de Milu.

É verdade que a narrativa é leve, mas é o que basta para que se ganhe hábitos de leitura. Um leitor é um leitor e ninguém está aqui para julgar que género lê. Não importa que estejamos a ler ficção científica, ciência, algo histórico, uma autobiografia ou se estamos a ler uma BD. 

Agora vocês perguntam, o que é que importa então?

Para nós? Ler.

Fotografia de capa de Joana Americano

Artigo revisto por Beatriz Campos

AUTORIA

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Nascida, ao mesmo tempo que alguém igualzinho a ela, em julho de 1998. Veio de Cultura e Comunicação e está no segundo ano de Mestrado em Jornalismo. O seu grande amor são os livros, tanto que ouvir audiobooks, quando está a trabalhar para manter o foco e sanidade, é o seu guilty pleasure. Diz sempre que “é só mais um capítulo”, mas sabe que é mentira. É aquela que gosta de ananás na pizza.