Desporto

O passado, o presente e o futuro do Goalball no mundo

Se és um leitor assíduo dos nossos artigos, já deves estar a par daquilo que é o Goalball. Caso contrário, podes dar uma olhada no artigo do mês passado, onde introduzo esta modalidade.

Cada país tem a sua cultura, os seus costumes, e no desporto isto não é diferente. Seja por preferências sociais, por falta de apoio ou de condições, cada país acaba por nos apresentar realidades distintas. Realidades estas que, ainda mais no Goalball, sendo uma modalidade paralímpica, se acentuam de uma forma gritante de país para país. Ao longo deste artigo vamos poder contar com o contributo de João Pereira (PORT), 48 anos; Javier Serrato (ESP), 31 anos; e Amanda Dennis (EUA), 27 anos, para nos mostrarem as diferentes realidades vividas no Goalball, nos respetivos países.

Portugal

No nosso país o Goalball teve início, ainda que de uma forma embrionária, em 1993, após um contacto por parte de Espanha. António Santinha e Tiago Mendes foram os responsáveis por trazer a modalidade para solo português, ao voltar de Espanha onde adquiriram experiência para divulgar a modalidade. Com isto, o processo de captar e organizar  equipas começou, tendo ocorrido a primeira edição do campeonato nacional na época 1995/1996.

Apesar das condições precárias, devido à novidade da modalidade, desde equipamentos a usar, a estratégias de jogo e métodos de treino, o Goalball teve uma evolução notável ao longo dos anos. Uma das mudanças que marcou as regras do Goalball com o passar dos tempos foi o aumento do tempo de jogo. Antigamente, o jogo era dividido em duas partes de sete minutos; de seguida, passando a dez; e, por fim, passando aos habituais 12 minutos. Com toda esta evolução, João Pereira afirma: “É muito bom estar aqui há 25 anos para poder viver toda esta evolução do Goalball”.

João Pereira começou por representar a equipa de Os Moinas, por três anos, o que coincidiu com a primeira edição do campeonato. Seguiu-se o clube Os Minas, por sete anos; três anos no Alcoitão; três anos na UCAS; e seis anos no Sporting, onde se encontra atualmente.

Hoje em dia, o Goalball português está dividido em três competições principais: Campeonato Nacional (divisão única), Taça de Portugal e Supertaça.

O Goalball no meu país é um Goalball bipolarizado. Sporting e Porto. É um Goalball fraco. Os atletas que não integram uma destas duas equipas são atletas que não conseguem corresponder à exigência pretendida para uma boa competição”, lamenta João.

Fonte: Sapo
Espanha

Do outro lado da nossa fronteira, já são evidentes as diferenças entre os nossos campeonatos. Em Espanha,  primeiramente, existe uma divisão entre géneros. No panorama masculino, existe uma primeira divisão constituída por sete equipas, uma segunda divisão com dez, e entre oito e 12 na terceira. Do lado feminino, contamos com sete equipas na primeira e entre cinco e seis na segunda. Porém, apesar deste desenvolvimento ao nível de competição, Javier Serrato aponta os defeitos da modalidade no seu país. “O Goalball no meu país atravessa uma má fase. Não estamos a conseguir inovar e acompanhar a evolução do Goalball a nível técnico e tático. Na minha opinião, o problema são as mentalidades. Eu penso que as pessoas ainda estão muito presas ao passado e isso não nos permite inovar e progredir”, critica.

Javier pratica desde 2002 e enfatiza que foi paixão à primeira vista: “Antes praticava outros desportos, mas notava a diferença que existia entre mim e os meus amigos normo-visuais, e vi que no Goalball essa diferença se esvanecia”.

Logo em 2002, começou por representar o Sevilha (até 2009); de 2010 a 2014, representou o Valência, regressando em 2014 ao Sevilha; e em 2016 começou a representar o Sporting, jogando em simultâneo pelos dois emblemas até hoje.

EUA

A uns milhares de quilómetros (ou milhas, como eles preferem chamar) de distância temos os EUA e o seu Goalball de elite.

Neste mundo em forma de país podemos presenciar uma das melhores seleções nacionais ao redor do globo. Obviamente que os resultados não aparecem do céu e a competitividade nos campeonatos internos é apenas um dos ingredientes na receita do sucesso norte-americano.

Do lado masculino, existem duas divisões com um total de 21 equipas, enquanto que do lado feminino existe apenas uma divisão que vai de oito a nove equipas.

Apesar de todo este desenvolvimento, Amanda Dennis reforça: “Os EUA continuam a desenvolver-se. Graças aos Paralímpicos, o Goalball tem vindo a ganhar mais visibilidade e essa cobertura ajuda imenso no trabalho de captação de novos atletas a cada dia que passa”.

Amanda conheceu a modalidade aos sete anos de idade, durante a sua estada num campo de férias para pessoas com deficiência visual.

A atleta de 27 anos já conta com os Georgia Phantoms, NJ Hineybees, Sporting e SSG Blista Marburg (na Alemanha, onde vive atualmente) no seu currículo desportivo.

Fonte: Diário de Noticias
Escolas e o futuro

Quando questionados relativamente ao papel dos estabelecimentos de ensino, é possível observar um consenso entre os entrevistados. João Pereira afirma: “As escolas poderiam ter, sim, um papel importante relativamente à divulgação destas modalidades, mas, infelizmente, ou por falta de informação ou de pessoas qualificadas, tal não acontece. Deveria haver mais workshops e demonstrações da modalidade nas escolas, com fim a captar a atenção das pessoas com deficiência visual para a prática do Goalball”. “Pessoalmente, acho que as escolas devem integrar desportos adaptados nos seus programas de educação física.  É importante que as pessoas com deficiência se integrem com os seus colegas. Também é útil para esses colegas aprenderem algumas das lições que estas modalidades lhes podem ensinar e ganhar algumas noções a respeito das pessoas com deficiência”, completa Amanda.

Relativamente ao futuro do Goalball, a preocupação na renovação de atletas é geral, embora nos EUA não seja algo tão crítico, graças ao bom investimento na modalidade. Infelizmente, tal não é possível afirmar no nosso país. “Na minha visão, o futuro da modalidade no meu país não aparenta ser próspero. Não há renovação de atletas. Não existe novo sangue a entrar para o Goalball. Os que cá estão não vão durar para sempre e, se não houver uma captação de crianças para a modalidade com fim a desenvolvê-las, o Goalball em Portugal, na minha perspectiva, tem os dias contados”, conclui João.

Artigo revisto por Lara Alves

AUTORIA

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Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.