Literatura

“A maldade sempre me causou curiosidade”, Gustavo Ávila

O sorriso da hiena, Quando a luz apaga e Pá de cal.

Estas são as três obras que catapultaram o nome Gustavo Ávila para as estantes das livrarias e dos amantes de thrillers. De modo a conhecermos mais a fundo a história deste fenómeno recém-aparecido no panorama brasileiro, a ESCS Magazine entrou em contacto com o autor para uma entrevista.

A  paixão pela escrita surgiu relativamente tarde e de forma inesperada na vida de Gustavo:

“Eu não cresci em uma família onde a leitura era um hábito, nem possuía muitos livros em casa. Mas eu sempre fui um curioso por histórias. Porém, somente na época da faculdade é que meu interesse pela leitura despertou, com o grande incentivo de um dos meus professores que, ao me oferecer um emprego na agência de publicidade dele, me alocou como redator publicitário. Só a partir daí tive um contacto mais constante com os livros”, explica.

Gustavo Ávila

Com o passar do tempo, graças ao contacto direto com a escrita natural da sua profissão, algumas luzes eram acendidas na mente do autor, que iniciava a sua caminhada no mundo literário: “Eu sou redator publicitário, sempre trabalhei com a escrita, mas na área da publicidade. Em diversos momentos tive ideias que não se encaixavam no trabalho publicitário, então, a partir disso comecei a me questionar como poderia tirar essas ideias da cabeça, por um outro meio. Foi assim que surgiu a ideia de escrever essas histórias através da literatura”

O ano era 2017, e a primeira obra de Gustavo Ávila fora publicada, apresentando ao mundo um novo escritor de thriller/suspense. Normalmente, a primeira obra não obtém os resultados esperados, mas estamos perante uma exceção: “Honestamente, eu não sabia qual seria o retorno. Para colocar uma ideia no mundo é preciso sangue frio para não se deixar abater pelas possíveis críticas negativas. Mas uma coisa eu sempre tive em mente: as críticas negativas irão existir, isso é certo, agora é torcer pelas positivas. Mas foi maravilhoso ser tão bem recebido logo no primeiro livro. A grande maioria das pessoas que leram O Sorriso da Hiena adoraram o livro, então começar assim foi de grande incentivo para continuar escrevendo

No entanto, nem tudo foi um mar de rosas: “A maior dificuldade no começo foi conseguir publicar o livro. Percorri todos os caminhos possíveis. Falei com todas as editoras, agentes literários, mas, apesar de receber bons retornos, nada de publicação. Por isso resolvi começar publicando eu mesmo, de forma independente”, ressalta.

Quando questionado acerca da origem para  a inspiração da premissa desta obra, o escritor revela:

“A maldade sempre me causou curiosidade. Por que existem pessoas que são tão frias e ruins com outras?

Gustavo Ávila

Essas pessoas nasceram assim ou se tornaram más? O Sorriso da Hiena nasceu da premissa: uma pessoa má, que sofreu um grande trauma na infância, quer saber se ela é má por causa desse trauma, então ela decide repetir esse trauma com outras crianças e faz uma proposta para um psicólogo infantil acompanhar o desenvolvimento delas para descobrir se essas crianças se tornarão pessoas ruins. Por isso o livro é um estudo sobre o desenvolvimento da maldade”

Dividido entre dois empregos, infelizmente, por não proporcionar o sustento ideal, a escrita acaba por ficar para segundo plano:

“Acho que o maior desafio da escrita é poder se dedicar a ela.”

Gustavo Ávila

“Infelizmente a literatura por si não é o suficiente, por enquanto, para pagar as contas, então é necessário um outro emprego, que acaba ocupando grande parte do dia. O que há de árduo é escrever mesmo cansado, física e mentalmente, após diversas horas em outro trabalho. Porque escrever, mesmo não sendo uma tarefa fácil, é muito prazeroso, pelo menos para mim”

Apesar do reconhecimento já atingido pelos autores brasileiros, Gustavo desabafa: “Temos ótimas obras, uma pena que ainda é dado mais valor ao que vem de fora. E não digo isso pelos leitores, falo, principalmente, das editoras e do investimento na divulgação das histórias nacionais”

Algo que não pode faltar num romance policial é um bom detetive. Um detetive original, que conquiste o leitor. Protagonista em duas das suas obras, o detetive Artur já se tornou uma personagem de referência, e Gustavo promete trazê-lo novamente no futuro. “Quando estava desenvolvendo O Sorriso da Hiena já tinha o assassino e o psicólogo. Precisava do detetive, mas queria que ele tivesse algo que fizesse sentido para a história. Então um dia eu assisti ao filme Adam e o personagem principal tinha Asperger e achei uma condição interessante para a história. No livro, o assassino quer entender sobre ele; o psicólogo quer entender sobre as pessoas; e o detetive, além de investigar os crimes, também tem o lado de tentar entender como se relacionar com os outros. Então os três tem essa questão de tentar entender algo do mundo e da sociedade onde estão inseridos.”

Escrever é um processo demorado e que difere de autor para autor. Como será que a mente de Gustavo funciona? “Gosto de estruturar a história pensando nas possibilidades de acontecimentos e de amadurecimento das personagens. Só começo a escrever quando já tenho a história na mente, principalmente o final, mas não me prendo. Durante a escrita permito que as coisas mudem à medida que a história avança e toma outros caminhos. Leio de forma lenta e escrevo mais devagar ainda, então levo entre três e quatro anos para desenvolver a história”, clarifica.

Com a sua última obra publicada em janeiro de 2022, o autor anuncia que já possui mais dois romances na mira, um deles já em curso. Além disso, um projeto no formato de banda desenhada também é uma das suas ambições para o futuro.

“Se minhas histórias puderem dar um pouco de respiro para as pessoas nessa vida tão cheia de problemas já me sinto realizado. E se além disso a história fizer a pessoa pensar um pouco mais sobre determinado assunto descrito no livro, ótimo.”

Gustavo Ávila

Fonte da capa: Literatura Policial

Artigo revisto por Joana Gonçalves 

AUTORIA

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Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.