Moda

Jeans: muito mais do que umas meras calças de ganga

É provável que seja uma das peças de roupa mais populares em todo o mundo e em toda a indústria da moda. Jeans ou, em português, calças de ganga, são um artigo intemporal no nosso armário. Desde pequeninos que as vestimos e acompanham-nos ao longo das nossas vidas. Sim, porque alguns jeans duram mesmo uma vida! Mas quem é que teve a ideia de criar umas calças de um material confortável e versátil como a ganga? Como é que esta moda se tornou numa das mais populares e reconhecidas? Este artigo dar-te-á as respostas que precisas de saber, bem como algumas curiosidades que talvez não saibas sobre esta peça.

As origens

Foi em 1792 que se fabricou, pela primeira vez, o tecido que veio a caracterizar as calças de ganga. Na região de Nimes, em França, surge então o designado “tecido de Nimes”. Com a sua crescente popularidade foi abreviado para denim apenas. Numa primeira etapa, este tecido foi usado para fabricar as roupas dos trabalhadores do campo e dos marinheiros italianos do porto de Génova, por ter uma grande robustez e durabilidade.

Muitos anos mais tarde, em 1853, a moda destas calças chegou aos Estados Unidos da América. Levi Strauss, um jovem judeu, abriu uma loja em São Francisco, onde começou por vender produtos secos e lona para as carroças dos mineiros. Rapidamente, Strauss, apercebeu-se de que as roupas dos mineiros não eram adequadas para o trabalho que desempenhavam e, por isso, decidiu produzir umas calças com o tecido que vendia normalmente para cobrir as carroças.

Fonte: Levi Strauss

Esta nova peça de vestuário, criada por Levi Strauss, tornou-se rapidamente um sucesso para os mineiros. No entanto, havia um problema: a lona era pouco flexível para calças, o que dificultava um pouco os movimentos. Perante esta questão importante, Strauss, procurou um tecido mais flexível, resistente e confortável, tendo encontrado no tecido denim, feito de algodão sarjado, a solução que tanto ansiava. Com esta conquista, o seu nome virou marca: a Levi Strauss & Co.

 Primariamente, as calças eram de cor castanha, tendo-se tornado rapidamente num modelo famoso e clássico. Jacob Davis, um costureiro da época de Strauss, introduziu várias modificações significativas na peça de vestuário, principalmente o reforço das costuras das calças.

Levi’s Vs. Lee

A figura do cowboy aventureiro e livre tornou-se numa das imagens de marca associada aos jeans mas, como já referi, a verdade é que os primeiros destinatários das calças de ganga eram os homens que trabalhavam em situações de dureza extrema, quer nas minas, na agricultura, ou mesmo na construção civil. Os vaqueiros surgem algum tempo mais tarde. Quem os torna populares e o seu público-alvo é a marca Lee e não a Levi’s.

 A Lee surge em 1912, no estado do Kansas. Começando,desde a sua criação, a ser a grande rival da Levi Strauss & Co. À marca Lee deve-se a aplicação de fecho éclair/zíper nos jeans, para substituir os botões e a invenção do fato de macaco muito usado por mecânicos, operários e até reclusos. A concretização do mito da imagem das calças de ganga como roupa de cowboys e cowgirls fez-se através do cinema – dos primeiros westerns, ainda no cinema mudo, às épicas aventuras de John Wayne, nos anos 30. A indústria de Hollywood ajudou na venda de muitas calças de ganga e, mais do que isso, passou a relacioná-las com rancheiros ricos, destemidos e aventureiros, ultrapassando a ideia associada aos trabalhadores pobres da classe baixa da sociedade.

Jeans em Hollywood e no mundo

Na década de 1950, esta peça de vestuário passou a ser associada à juventude insurgente e antissistema. Nomes como Marlon Brando e James Dean popularizaram a imagem do ídolo adolescente rebelde vestido com jeans, protagonizando uma imagem de apelo sexual. As estrelas do rock’n’roll ajudaram também a consolidar a peça, integrando-a num estilo cool que conquistava os seus fãs. Os hippies e os manifestantes anti guerra usavam jeans nos anos 60 e no início dos anos 70, como uma forma de mostrar apoio à classe trabalhadora. As feministas e organizadoras da liberdade e emancipação feminina escolheram as calças de ganga como um símbolo da igualdade de género e de defesa dos direitos das mulheres.

James Dean em Los Angeles, 1955
Fonte: Vogue France

Em 1960, perante esta associação dos jeans a uma imagem revolucionária, algumas escolas secundárias, restaurantes e teatros dos EUA proibiram o seu uso, o que serviu apenas para aumentar ainda mais a sua força na sociedade. Os jeans massificam-se e tornam-se profundamente políticos. Encontramo-los nas manifestações contra a guerra no Vietname e contra a segregação racial. Marcam presença no cinema, na Nouvelle Vague, no corpo de mulheres famosas como Brigitte Bardot e Jane Birkin, bem como Audrey Hepburn e Elizabeth Taylor. A concorrência e procura são enormes e a evolução faz com que as calças de ganga justas dos anos 50 deem lugar a um novo modelo, os jeans “boca-de-sino” dos anos 60 e 70.

Fonte: Observador

Fonte da capa: Pexels

Artigo revisto por Mariana Saião

AUTORIA

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O maior sonho da Patrícia, estudante de Jornalismo da ESCS, é viver da escrita e da publicação de livros. Adora dar o seu sentido às palavras e acumular conhecimento sobre as mais diversas áreas - desde a política à culinária. Responsável, determinada e resiliente são os três adjetivos que melhor descrevem a Patrícia. Com esta experiência na redação da ESCS Magazine espera aguçar ainda mais a sua curiosidade, desafiando a sua personalidade mais introvertida e conquistando o interesse dos leitores.