SMITHEREENS: Análise do novo álbum melancólico de Joji
Depois do sucesso do single “Glimpse of Us”, lançado em junho deste ano, o artista George Kusunoki Miller (mais conhecido como Joji) regressou no passado dia 4 de novembro com o seu 3ª álbum de estúdio intitulado “Smithereens”. O artista conta já com dois álbuns de estúdio lançados: “Ballads 1” (2018) incluindo o tema “Slow Dancing in the Dark” e “Nectar” (2020) do qual que fazem parte as músicas “Sanctuary” e “Run”.
Joji é filho de pai australiano e mãe japonesa, tem 30 anos e, apesar de ser conhecido pela sua carreira musical, começou no Youtube num canal de comédia. Chegando a lançar álbuns sob o nome de uma das suas personagens emblemáticas o “Pink Guy”. Acabou por abandonar o Youtube em 2017, tornando-se o artista que conhecemos na atualidade.
O novo álbum Smithereens tem um som melancólico e o seu nome significa small pieces. Tem um conceito de pós-breakup e é uma peça moody e sentimental que prima pela introspeção e que apresenta um interessante storytelling.
O novo álbum está dividido em duas partes, a primeira com cinco temas e a segunda com quatro, somando 9 músicas. Esta divisão é bastante perceptível no estilo das músicas, sendo que a primeira parte remete para emoções mais pesadas, típicas de quem está a passar pelo fim de um relacionamento e de que vê na outra pessoa um pedaço (daí o título do álbum!) de si mesmo que ficou perdido. Neste aspeto Joji foi incrível a transmitir a mensagem de que breakups são algo doloroso e que envolvem emoções que por vezes podem ser irracionais. A segunda parte do álbum apresenta músicas mais up-beat e melódicas, existindo uma interrupção no tom sério dos temas anteriores, dando espaço para o artista explorar diferentes formas de se expressar.
O álbum começa com o tema “Glimpse of Us” que retrata a infelicidade numa atual relação por comparação a uma relação anterior, encontrando conforto nas memórias passadas. É uma música que nos deixa com vontade de dizer “Ouch!” dada a descrição de um sentimento de impotência e desejo por reciprocidade. “Maybe one day you’ll feel lonely/And in his eyes, you’ll get a glimpse/ Maybe you’ll start slipping slowly/And find me again”. É, para mim, das músicas que melhor descreve este conflito interno. “Why then, if she is so perfect/Do I still wish that it was you?”
A segunda música intitulada “Feeling Like The End” serve como transição, tendo apenas 1 minuto e 42 segundos e explora o fim de uma relação “You used to promise me it would be forever/Feeling like the end, don’t think it will get better, baby”. Já o terceiro tema, “Die For You”, vai de encontro ao conceito da negação de que um relacionamento acabou e Joji relata sobretudo o medo de “deixar ir” e admitir que já não fazemos parte da outra pessoa. É a forma honesta com que o artista aborda o assunto que transforma esta narrativa (ligeiramente preocupante) em algo relatable. “I heard that you’re happy without me/And I hope it’s true/It kills me a little, that’s okay/’Cause I’d die for you/You know I’d still die for you”.
“Before The Day Is Over” e “Dissolve” são as duas últimas músicas da primeira parte e fecham a mesma carregando uma atmosfera idêntica aos temas anteriores. A primeira remete novamente para a questão da negação “And I was hoping that we could hold it this time/ I know you’re almost gone”; “Dissolve”, por outro lado, é mais uma reflexão do artista sobre o estado de uma relação e a forma como este se sente no que diz respeito à incerteza da mesma. É de certo uma espécie de hino às “situationships”. “Who are we?/Who have we become?/Are we counting sheep until we dissolve?”
A segunda parte é composta pelos temas “NIGHT DRIVER”, “BLAHBLAHBLAH DEMO” “YUKON (INTERLUDE)” e “1AM FREESTYLE” que fecham o álbum. Os próprios títulos remetem para uma atmosfera mais descontraída e os lyrics revelam que Joji está mais “in tune” com as suas emoções, sendo que se encontra mais conformado com a dor que sente, apesar desta relação o marcar para sempre.
“I love, I love, I love, no matter how/How much they take /Something tells me we were chosen so we keep on trying” (BLAHBLAHBLAH DEMO);
“My voice will be their voice until I’m free/My hands will be their hands until I’m free” (YUKON (INTERLUDE);
“I’ve been writing letters on the Wall/I hope one day you’ll see them all” (1AM FREESTYLE).
No geral, o álbum apresenta um bom equilíbrio entre as duas partes, mostrando as várias formas com que o artista lida com as suas emoções e relações e como enfrenta o fim das mesmas. Para quem é fã de Joji, fica de certeza a vontade de um futuro álbum com mais temas para além destes nove, em que o autor possa dar vida a novas histórias.
Fonte da capa: Getty Images
Artigo Revisto por Inês P. Gonçalves
AUTORIA
Quando era mais nova Carolina descobriu o interesse pelas histórias e ao crescer dedicou-se à escrita como uma forma de processar a sua realidade. Não vive sem a música e tem uma playlist para todos os momentos e moods. Encontrou na Publicidade e Marketing a sua vocação e no futuro espera unir o seu amor pela escrita ao design e ao digital. Agora passa os seus dias a explorar os seus interesses como a leitura, a pintura, a moda e obviamente a música.
Que artigo fantástico, você conseguiu desmembrar cada parte e fazer enxergar por perspectivas que apenas ouvir a música talvez não fosse necessário, amei muito.