Babylon: a banda sonora jazz dos novos anos 20
Babylon, o mais recente filme do realizador Damien Chazelle, foi lançado no final de 2022, tendo apenas chegado às salas de cinema portuguesas no mês passado. Embora a receção, tanto dos críticos como do público, esteja longe de reunir consenso, todos parecem concordar no que diz respeito à qualidade da grandiosa banda sonora que acompanha o filme.
Babylon resulta da quinta colaboração do compositor Justin Hurwitz com Damien Chazelle. Esta amizade que se formou durante os estudos da dupla em Harvard já deu origem a sucessos como Whiplash e La La Land, tendo este último filme garantido Óscares a ambos.
Hurwitz começou a trabalhar na banda sonora ainda em 2019, após ter lido o guião escrito por Chazelle. O entusiasmo pelo projeto foi imediato, pois o enredo do filme iria retratar a transição do cinema mudo para o cinema falado durante os anos 20 do século XX, possibilitando uma reinvenção do jazz da época. O grande objetivo de ambos era, então, ir além de uma reprodução da música mais associada a esse período, procurando imaginar a pluralidade de melodias dos loucos anos 20 que não tiveram a oportunidade de serem gravadas. Para tal, o compositor decidiu usar uma banda de jazz com uma configuração semelhante à dos anos 20, aumentando apenas o número de instrumentos de sopro. Para criar a desejada fusão entre o antigo e o moderno, Justin Hurwitz compôs ainda várias canções em torno de riffs, inspirando-se em algumas bandas de rock (como por exemplo, nos Rolling Stones). Ao serem tocados por vários instrumentos de sopro em uníssono, estes riffs acabaram por conferir uma sonoridade exuberante e muito própria a Babylon.
A banda sonora desenrola-se durante cerca de 1 hora e 40 minutos, começando por apresentar composições vibrantes como Welcome, Coke Room e Voodoo Mama, inserindo o espetador no ambiente fervoroso e boémio da festa retratada logo ao início. Outro dos grandes destaques é Manny and Nellie’s Theme, um dos temas principais desta obra. Como aconteceu anteriormente em La La Land, Hurwitz idealizou uma composição que simboliza a relação dos protagonistas do filme, utilizando uma melodia agridoce, que é uma versão mais lenta da canção Coke Room (contando ainda com a harmonização de três pianos diferentes). Este tema insere-se ainda noutras composições, tais como Ain’t Life Grand, New York, See You Back in LA, Meet Miss LaRoy e Te Amo Nellie, criando um fio condutor na história das personagens e uma coesão sonora.
Podem ainda ser encontrados paralelos entre canções de Babylon – tais como Champagne e Gold Coast Rhythm (Wallach Party) – e a composição Someone in the Crowd de La La Land, referenciando assim, Hurwitz, o seu trabalho anterior. Já a última composição de Babylon, intitulada de Finale, funciona como uma amálgama de várias composições apresentadas ao longo do filme, condensando um turbilhão de emoções na despedida final.
Muito se tem dito sobre Babylon. Há quem goste da duração do filme, outros consideram três horas um exagero. Alguns criticam ainda a narrativa dizendo que é demasiado fragmentada e frenética, enquanto outros a aclamam. No entanto, uma coisa é certa: a banda sonora de Babylon é a alma do filme, conseguindo enaltecer e conferir uma nova profundidade a qualquer cena que acompanhe. Prova disso são as inúmeras nomeações e vitórias que tem acumulado nas cerimónias de prémios, podendo ainda garantir mais um Óscar a Justin Hurwitz.
Fonte da capa: The New York Times
Artigo revisto por Beatriz Neves
AUTORIA
Desde cedo que a Ana Sofia se interessou pelo mundo das palavras e pela forma como estas conseguem moldar a nossa realidade. No futuro, gostaria de trabalhar na promoção do setor artístico e cultural, tendo por isso ingressado em Publicidade e Marketing. Nos seus tempos livres pode ser encontrada na companhia de um livro, imersa num filme, ou ocupada a dissecar a letra de uma canção.