Covid-19, uma paragem imposta que deixou rastos
Há quatro anos, as nossas vidas estavam prestes a parar. Uma pandemia, Covid-19, ameaçava o mundo e a única solução à vista, apesar de pouco agradável, era darmos um tempo às nossas rotinas e hábitos. De um momento para o outro ficámos todos fechados em casa, sem saber muito bem o que o futuro nos reservava.
Deixámos tudo para trás. Os locais que frequentávamos e que ganhavam vida com a nossa presença ficaram vazios. Quase tudo passou a ser feito sem sairmos de casa, e através de ecrãs. Foram mudanças grandes e repentinas, de um momento para o outro.
Toda esta situação afetou a saúde mental de uma considerável quantidade de pessoas. E acho que não podíamos ter esperado algo diferente, visto que o ser humano precisa de se relacionar com pessoas que não integram o seu círculo familiar. Além disso, rotinas são essenciais, pois fazem-nos sentir organizados, e sair de casa para estar em ambientes diferentes é igualmente necessário.
O que aconteceu foi que tivemos de nos adaptar rapidamente a uma vida na qual já nada disto estava integrado, o que gerou consequências não tão positivas. Pretendo focar-me no impacto causado por tudo isto nos adolescentes, pois penso que este assunto tenha sido alvo de poucas análises, opondo-se à sua extrema importância.
Os adolescentes precisam do ambiente escolar, do convívio com amigos e da prática de hobbies para um crescimento saudável. Têm de viver novas experiências e correr alguns riscos para aprenderem novas lições que os vão preparar para a vida adulta futura. Devem aproveitar esses anos para se conhecerem e descobrirem o mundo em redor, e para se tornarem nas pessoas que querem ser. Têm de rir, explorar, conversar, alcançar metas e aproveitar cada uma das fases da adolescência.
Todavia, a grande interrupção proporcionada pela pandemia impediu tudo isto. E os ecrãs não se revelaram suficientes para compensar o que estava em falta. Muitos jovens sentem que foram “vítimas” disto. Desde o momento em que se começou a ouvir conversas e notícias sobre a doença até nos mandarem para casa foi um instante. De um dia para o outro, ficámos impedidos de ir à escola e de sair de casa. O tempo passava, e voltar à normalidade era o que mais desejávamos. Os dias eram monótonos e nada produtivos. Queríamos conviver. Fazer tudo aquilo que dá “combustível” ao corpo de um adolescente. Mas nada parecia melhorar, muito pelo contrário.
Quando voltámos à normalidade, começámos, finalmente, a viver de novo. Mas era como se nos tivessem “roubado” alguns anos das nossas vidas. Como se tivéssemos sido forçados a interromper o nosso crescimento. Isto é, o crescimento físico foi naturalmente inevitável, mas tudo o resto ficou parado. Pós-pandemia, já tínhamos uma idade muito diferente daquela que tínhamos no início de tudo, idade essa que também já correspondia a uma outra fase da adolescência. Todavia, não nos foi permitido viver algumas das anteriores, e isto causou problemas de adaptação.
Seria fácil reaprender a socializar ou a frequentar determinados espaços públicos depois de tanto tempo sem o podermos fazer? Como é que deveríamos agir em sociedade com a idade que tínhamos pós-Covid? Algo tão natural como adaptarmos a nossa idade aos nossos comportamentos em sociedade e que se aprende gradualmente dia após dia foi-nos tirado. A nova adaptação repentina foi, para muitos, complicada.
Oiço adultos dizer que os jovens, mesmo com idades compreendidas entre os 17 e os 20 anos, se revelam mais “infantis” do que aquilo por que seria esperado nessas idades. E considero que o motivo de isso estar a acontecer remete para o isolamento social a que fomos submetidos durante um largo período da nossa adolescência.
Assim, creio que a Covid-19 e tudo o que a envolveu tornou-se um entrave ao desenvolvimento dos jovens, pois privou-os de várias vivências, experiências e aprendizagens e, assim, de um crescimento saudável.
Fonte da capa: Unsplash
Revisto por Maria Batalha
AUTORIA
A Liliana tem 18 anos e está no primeiro ano da licenciatura em Jornalismo. A Liliana (Lili, como está habituada a ser chamada) era aquela menina que, em pequena, passava a tarde no quarto a escrever, a inventar histórias, a criar poemas. Adorava fazê-lo e era sempre elogiada pelos mais velhos, que admiravam esta sua capacidade. Até hoje, esse amor pela escrita não desapareceu e, por isso, está na Magazine da ESCS para fazer algo que sempre lhe deu muito agrado, aprender e, acima de tudo, divertir-se enquanto o faz.