Vida Animal “escondida” Debaixo do Fundo do Mar
Cientistas descobriram diversas comunidades de animais a viver por baixo das fontes hidrotermais, sob o fundo do mar, abrindo as portas a um ecossistema tanto misterioso como promissor.
Não são apenas vírus ou micróbios que podem viver sob a crosta do oceano. Caracóis, mexilhões e vermes, como o Riftia pachyptila, um verme tubícola “enfeitado” com plumas vermelhas, também conseguem desenvolver-se nesses ambientes extremos. Nos fundos marinhos arenosos encontram-se, frequentemente, os vermes tubícolas. Estes vivem no interior de um tubo que constroem com variadas matérias como areia, conchas ou até plantas aquáticas.
Água quente, carregada de gases, metais e minerais oriundos do interior da Terra, torna estas manifestações vulcânicas constantes, mais conhecidas como fontes hidrotermais, em ambientes tóxicos. A base da cadeia alimentar nestes ambientes, onde a luz solar não chega, são microrganismos que usam como nutrientes minerais trazidos do interior da Terra, recorrendo à quimiossíntese, em vez da fotossíntese, para produzir energia. Alguns seres aglomeram-se à volta das fontes, produzindo elementos que ajudam as bactérias, os mexilhões, os vermes tubícolas e outros animais a sobreviver nestas profundidades.
Em colaboração com o Instituto Ocean Schmidt, diversos cientistas partilharam com a revista Nature Communications, no passado dia 15 de outubro, uma das maravilhas do mundo aquático. Esta espantosa descoberta ocorreu durante uma expedição de 30 dias a bordo do navio de investigação “Falkor (too)” do instituto americano, com o objetivo de explorar um vulcão subaquático na América Central, mais concretamente na Elevação do Pacífico Oriental, uma cordilheira escondida sob o oceano.
A extensa elevação provém de duas placas tectónicas no fundo do Oceano Pacífico que criam uma crista vulcanicamente ativa. Ao longo da crista encontram-se muitas fontes hidrotermais, onde a água do mar e o magma quente da crosta terrestre se juntam para criar uma espécie de fonte termal submarina.
Existem dois habitats dinâmicos nas fontes hidrotermais. Os animais acima e abaixo da superfície desenvolvem-se em uníssono, dependendo do fluido das fontes hidrotermais, que vem de baixo, e do oxigénio na água do mar, que vem de cima. A água do mar fria entra no subsolo crustal pouco profundo, através de fissuras nas plataformas lávicas, e mistura-se no subsolo com o fluido das fontes hidrotermais quentes que aflora, para ser então levado para cima através de fissuras nas plataformas lávicas.
A descoberta de vida neste sub-habitat sugere que pode haver muitos mais organismos do que os cientistas documentaram e até mesmo inúmeras espécies desconhecidas ao longo das profundezas do leito oceânico. É também provável que estes ecossistemas subterrâneos permaneçam depois de as fontes se tornarem inativas, pelo que poderão formar novos habitats para outras espécies.
Os autores desta investigação acreditam que as larvas do Riftia pachyptila, criaturas imóveis que podem chegar até 3 metros de comprimento, sejam transportadas na coluna de água das fontes hidrotermais por fluidos e, assim, consigam alcançar o submundo oceânico.
Para explorar as profundezas do oceano Pacífico, uma tarefa difícil, devido à elevada pressão no fundo do mar (a mais de 2500 metros de profundidade), a equipa de cientistas teve de recorrer a um veículo operado remotamente (ROV), que detém ferramentas capazes de perfurar e levantar placas de lava. O robô “ROV SuB-astian”, ao revirar um pedaço da crosta, deixou à mostra cavidades habitadas por espécies nunca antes vistas em tais níveis de profundidade, incluindo vermes tubícolas gigantes, minhocas e caracóis. Estas novas informações foram diretamente transmitidas a quem estava a bordo do navio de investigação, através de imagens enviadas por equipamentos das operações de mergulho.
O ecossistema das chaminés tem sido estudado em profundidade, mas as áreas abaixo dessas fontes têm permanecido, em grande parte, fora do alcance dos cientistas.
“O artigo contribui para a nossa compreensão dos ecossistemas das chaminés, da forma como as populações de organismos das chaminés se mantêm e da quantidade de vida que existe nestes sistemas.”
Alex Rogers, biólogo marinho e diretor científico do Ocean Census.
Os oceanos constituem 70% da superfície da Terra e mais de 90% da biosfera terrestre. Apenas 20% do oceano foi explorado. Ao compreender diversas destas pequenas partes do oceano, talvez possamos ter uma visão ligeiramente maior dos vastos e tão desconhecidos mares… Neste momento, sabemos tão pouco sobre estes “submundos” que se torna cada vez mais importante obter mais informação para compreender de que forma as alterações climáticas, a exploração mineira do mar profundo e outros potenciais interesses humanos podem afetar comunidades.
Com o conhecimento que detemos atualmente, sabemos que não só precisamos de proteger o que vemos à superfície, como também devemos proteger o que não conseguimos vislumbrar, porque tudo, mesmo o menor dos detalhes, é um componente importante da nossa biosfera.
AUTORIA
Vive num mundo onde mil e uma curiosidades vagueiam nos seus pensamentos, Ambre, aluna do 1.° ano da licenciatura em Jornalismo, sonha em, talvez um dia, poder conciliar todos os seus desejos... Animais, ciência, moda e cultura são algumas das milhentas paixões que tecem a tão confusa teia que é a mente de Ambre. Por enquanto (e como sempre fez), refugia-se na escrita, um sítio em que pode expressar cada milímetro que percorre o seu espírito e onde deseja ficar eternamente. Na ESCS Magazine anseia por poder explorar metros e, quem sabe, quilómetros, desses mundos e do tão vasto universo da escrita.