A chegada do equinócio vernal – em que consiste?
De seis em seis meses, uma vez em março e outra em setembro, o equinócio divide a Terra quase ao meio, dando-nos cerca de 12 horas de luz do dia e 12 de luar.
A 20 de março de 2025, o equinócio vernal assinalou a chegada da primavera ao hemisfério Norte. Mais tarde, em setembro, a natureza trará o equinócio outonal: a época do ano que dá início ao outono. No hemisfério Sul, como é sabido, as estações do ano encontram-se trocadas relativamente ao hemisfério Norte. De qualquer modo, o equinócio anuncia sempre a chegada de uma nova estação e de diversas festividades pelo mundo fora. Eis como acontece este fenómeno – e por que razão as pessoas o celebram desde os tempos antigos.

Fonte: imagem de um vídeo da National Geographic
O termo equinócio, que vem da palavra latina “equinoxium”, significa “igualdade entre o dia e a noite”. Os equinócios ocorrem quando a órbita da Terra e a sua inclinação axial se combinam para que o Sol se situe diretamente sobre o Equador. Num equinócio, cerca de metade do planeta fica clara, enquanto a outra metade fica escura. À medida que as estações avançam, a posição do Sol continua a mudar e, dependendo do hemisfério em que se vive, os dias tornar-se-ão progressivamente mais claros ou mais escuros até à chegada do próximo solstício.
Os solstícios marcam os dias mais claros e mais escuros do ano. São também determinados pela inclinação da Terra e marcam o início do verão e do inverno, na perspetiva da astronomia. Quando o hemisfério Norte está inclinado para o Sol, este parece mais brilhante, criando um cenário próximo do verão – enquanto que, ao mesmo tempo, no hemisfério Sul a menor incidência e a distância do Sol proporcionam um mergulho num inverno escuro.
Este método de medição das estações apresenta alguns desafios. O ano solar tem aproximadamente 365,2422 dias terrestres, o que torna impossível que qualquer calendário esteja perfeitamente sincronizado com a rotação da Terra em torno do Sol. Como resultado, as estações, vistas pela lente astronómica, começam em dias e horas ligeiramente diferentes todos os anos, o que torna difícil manter os cálculos climáticos, que são utilizados na agricultura e no comércio, por exemplo. De modo a ser possível fazer previsões e comparar estações, a adesão às estações meteorológicas foi-se tornando mais comum, uma vez que se aproximam às temperaturas anuais e ao calendário civil.

Fonte: Shayanne Gal/Business Inside
O nosso planeta orbita o Sol num eixo inclinado de 23,5 graus, o que significa que os hemisférios trocam entre si a obtenção de mais calor do Sol. Duas vezes por ano, a órbita da Terra e a sua inclinação axial combinam-se de modo a que o Sol fique mesmo por cima do equador terrestre, lançando a linha divisória entre as partes claras e escuras do planeta – o chamado Terminador – através dos polos norte e sul.
O Terminador, também referido como “linha cinzenta” e “zona crepuscular”, é a linha que separa o dia da noite. O Terminador não divide perfeitamente o planeta em claro e escuro, uma vez que, dependendo da inclinação do Sol em relação à superfície da Terra, essa mesma luz percorrerá uma distância maior ou menor na atmosfera terrestre. Tomando a atmosfera da Terra como um vidro e o Sol como uma lanterna, quando apontada diretamente para o vidro, a luz percorre o tamanho da espessura normal do vidro, mas quando a mesma é inclinada, o mesmo raio de luz percorrerá uma distância maior. Além disso, quando a luz solar entra na atmosfera, ela interage com as moléculas de ar, poeira e outras partículas. Esse processo faz com que a luz se espalhe em várias direções e, num trajeto maior, a luz é ainda mais espalhada, fazendo com que, mesmo depois de o Sol já se ter “escondido”, o céu continue iluminado por um tempo. Há assim uma transição suave entre luz e escuridão, mesmo num equinócio.

Fonte: NASA e de Robert Simmon, utilizando dados ©2010 EUMETSAT
A forma da curva do Terminador muda conforme as estações do ano. Esta diferença é especialmente percetível entre o Terminador de um equinócio e o Terminador de um solstício. Uma vez que no equinócio não há inclinação da Terra em relação ao Sol (ou seja, 0 graus), a linha do Terminador é paralela ao eixo da Terra e às linhas de longitude. O solstício ocorre quando o eixo da Terra se inclina mais na direção do Sol ou se afasta dele, fazendo com que o Sol esteja mais a norte ou a sul do equador do que em qualquer outra altura. O dia mais curto do ano é o solstício de inverno e o dia mais longo é o solstício de verão. Quando a Terra está inclinada para longe do Sol, este aparece a sul do equador e, quando a Terra está inclinada para o Sol, ele aparece a norte do equador. Durante o solstício, a linha do Terminador está no seu maior ângulo em relação ao eixo da Terra (aproximadamente 23,5 graus).
A Terra não é o único planeta que passa por equinócios, todos os planetas do nosso sistema solar os têm. Em 2009, a sonda Cassini, em órbita de Saturno, captou um equinócio no planeta anelado. Tal como na Terra, os equinócios ocorrem de meio em meio ano em Saturno, mas isso equivale a 15 anos na Terra, o que torna a sessão fotográfica da Cassini um acontecimento único.
Com a conclusão da missão principal da Cassini da NASA, começou a missão Cassini-Equinox. Através destas missões, foi possível estudar os anéis de Saturno em condições de luminosidade nunca antes vistas e monitorizar as mudanças sazonais, à medida que o ângulo da luz solar se desloca para o topo do plano dos anéis e para os hemisférios norte de Saturno e das suas luas.
As culturas antigas acompanharam, pelo mundo todo, os equinócios de diferentes formas ao longo dos milénios. Desde monumentos construídos, como as pirâmides, a gravuras em pedra que funcionavam como calendários, até igrejas que incorporavam o Sol na sua arquitetura, as civilizações marcavam a passagem do Sol e das estações com grande precisão. Hoje em dia, muitas são as pessoas que continuam a celebrar o fenómeno primaveril e outonal.
No México, o Chichén Itzá tem ligações especiais com os equinócios. No local, a impressionante pirâmide conhecida como “El Castillo” foi alinhada de modo a que uma sombra com a forma de uma serpente de luz (Kukulcán) desça os degraus nos equinócios.

Fonte: Hugo Borges/AFP/Getty Images
Em Inglaterra, a misteriosa estrutura de pedra de Stonehenge tem sido um local de encontro popular para os solstícios e equinócios desde há muito tempo. Monumentos deste tipo não só serviam para festejar eventos relacionados com a astronomia como também eram utilizados para observar e estudar a posição da lua e do sol, prevendo assim alguns eclipses.

Fonte: Fotografia de Gerd Ludwig, National Geographic
E nas celebrações do equinócio de Stonehenge, na Inglaterra, druidas, pagãos e quaisquer outras pessoas que se queiram juntar a eles reúnem-se para testemunhar o nascer do Sol sobre as pedras antigas.

Fonte: Observador
Na ilha mediterrânica de Malta, um antigo templo megalítico do complexo de Mnajdra está alinhado de forma a que os raios de Sol da manhã do equinócio da primavera e do outono passem diretamente pela entrada principal.
No Japão, o Dia do Equinócio Vernal é um feriado público. Muitas pessoas continuam a aderir a tradições antigas, como visitar as campas da família e realizar reuniões familiares para assinalar o equinócio da primavera.

Fonte: Zhang Xiaoyu/Agência de Notícias Xinhua/Getty Images
Nowruz é o Ano Novo persa. Também é conhecido como Nauryz, Navruz ou Nowrouz e significa “novo dia”. Não é por acaso que coincide com o primeiro dia da primavera. O calendário iraniano é um calendário solar, o que significa que o tempo é determinado através de observações astronómicas, pelo movimento da Terra em torno do Sol. Assim, o primeiro dia do ano começa sempre com o equinócio vernal. É uma celebração de novos começos: desejar prosperidade e dar as boas-vindas ao futuro, ao mesmo tempo que se liberta do passado. É por isso que as famílias aproveitam esta altura para fazer uma limpeza profunda às suas casas e armários e comprar roupa nova.
Na China, tentar pôr um ovo na vertical é um jogo popular durante o equinócio da primavera. Pensa-se que este costume remonta a milhares de anos e acredita-se que, se as pessoas conseguirem pôr um ovo de pé, terão boa sorte. Nesta altura do ano, a população chinesa consome diversos legumes locais.

Assim, se estivéssemos num ponto perfeito sobre o Equador à hora exata de um equinócio, a nossa sombra estaria no seu mínimo absoluto. O Sol também apareceria quase diretamente por cima das nossas cabeças. No entanto, o momento de ausência de sombra seria fugaz, uma vez que a Terra se move em torno do Sol a cerca de 107.280 km/h.
Fonte da capa Marco Ugarte | Associated Press
Artigo revisto por Inês Gomes
AUTORIA
Vive num mundo onde mil e uma curiosidades vagueiam nos seus pensamentos, Ambre, aluna do 1.° ano da licenciatura em Jornalismo, sonha em, talvez um dia, poder conciliar todos os seus desejos... Animais, ciência, moda e cultura são algumas das milhentas paixões que tecem a tão confusa teia que é a mente de Ambre. Por enquanto (e como sempre fez), refugia-se na escrita, um sítio em que pode expressar cada milímetro que percorre o seu espírito e onde deseja ficar eternamente. Na ESCS Magazine anseia por poder explorar metros e, quem sabe, quilómetros, desses mundos e do tão vasto universo da escrita.