Muitas decisões para um País
Duas semanas de campanha, apelos à maioria da coligação de um lado, apelos à maioria do Partido Socialista do outro. A esquerda reivindicava uma mudança. Todos lutaram por um voto a mais. Dia 4 de Outubro os portugueses falaram e negaram maiorias. O PAN elegeu um candidato, o Bloco de esquerda quase que triplicou o número de deputados e é a terceira força política.
Dia 4 de Outubro os portugueses falaram e decidiram: nem a coligação PàF nem o PS mereciam a maioria. Dos 16 partidos que foram a votos, tudo apontava para a entrada de um novo partido no Parlamento: o Partido Livre-Tempo de Avançar, comandado por Rui Tavares, que já tinha conseguido eleger um deputado nas eleições para as europeias.
Pouco se falou nos outros partidos, como o PAN (Pessoas, Animais, Natureza) ou o PNR (Partido Nacional Republicano). As sondagens não davam nenhuma representatividade parlamentar a nenhum destes partidos. Os portugueses estiveram atentos e decidiram contrariar as sondagens. O PAN tem agora acento parlamentar mesmo acima do Bloco.
As sondagens também apontavam para a manutenção da CDU como terceira força política no Parlamento e para o Bloco. Mais uma vez, os portugueses falaram e decidiram contrariar as sondagens. A CDU desceu para quarta força política e, se virmos a coligação PàF como dois partidos, o CDS superou por um deputado a CDU, relegando esta para quinta força.
Ainda assim, com este resultado, gritou-se vitória na sede do Partido Comunista, no Centro Vitória. Nas palavras dos apoiantes tinha-se conseguido alcançar o objectivo final: derrotar a maioria de direita. Mesmo com o Bloco mais à frente, “a questão não era essa para o Partido”, defendiam alguns membros da Juventude Comunista.
Também no hotel onde ficou a coligação se gritou vitória assim que saíram as primeiras projecções. Inicialmente, a coligação esteve perto da maioria, mas no final acabou com um resultado que precisava de outro partido para ter uma maioria segura no Parlamento.
E aqui entra o derrotado da noite: o PS. António Costa apelou sempre ao voto para alcançar a maioria, mas os portugueses não só não lha deram como também não lhe confiaram a vitória mesmo sem maioria.
Destas eleições saía um claro vitorioso. Correcção: uma clara vitoriosa. Catarina Martins conseguiu fazer esquecer os maus resultados do Bloco de Esquerda e quase triplicar o número de deputados. Uma clara vitória para os bloquistas que ultrapassaram tanto o PCP como o CDS em número de deputados. Um feito enorme para um partido que nas eleições autárquicas tinha perdido a única câmara que tinha, e cujo resultado nas europeias não tinha sido muito favorável.
E depois das eleições?
Passado o dia das eleições, era a vez de Aníbal Cavaco Silva falar. A coligação é chamada pelo Presidente e é obrigada a tentar chegar a acordo com um partido de modo a ter maioria para conseguir aprovar o Orçamento e o Plano do Governo.
PSD e CDS não fariam acordo com o PCP ou o BE, por toda a incompatibilidade de programas que existe entre eles – programas e ideias. Por isso a coligação teria de tentar chegar a acordo com o partido do centro: o PS.
Mas isto não é assim tão simples, porque se o PS decidir unir-se à esquerda (PCP e BE) tem maioria parlamentar e reúne assim condições para formar governo. O partido que supostamente saiu derrotado das eleições é agora “a noiva que todos querem para casar”. Da esquerda à direita todos lutam por um acordo com o PS.
Se durante a campanha a esquerda se mostrou pouco disponível para coligações com o PS e até teceu fortes criticas a António Costa, o cenário agora é diferente. O Bloco assim que os resultados saíram mostrou-se disponível para fazer governo com o PS, e Jerónimo Sousa, secretário-geral do PCP, afirmou que “o PS tem tudo para fazer governo”.
À direita do Parlamento, tanto CDS como PSD mostraram-se abertos a consensos com o PS, mas estão mais recatados. À porta fechada, já se contaram duas reuniões entre os três líderes partidários. António Costa também já falou com Catarina Martins, Jerónimo Sousa e o líder do PAN.
Parece estar tudo nas mãos do líder socialista, que pode vir a decidir o futuro do próximo governo de Portugal. Virar à esquerda ou apoiar a coligação que governou nos últimos 4 anos são as hipóteses em cima da mesa. Cavaco Silva pediu um governo estável e o PS pode fazê-lo tanto à direita como à esquerda, mas supostamente quem ganhou as eleições foi a coligação.
E venham mais eleições
Com o país mergulhado numa indecisão que tem de ser resolvida esta semana, surge outro tema: as presidenciais. António Sampaio da Nóvoa já antes das eleições legislativas tinha confirmado a sua candidatura à Presidência da República. Maria de Belém disse que só confirmaria após o dia 4 e Marcelo Rebelo de Sousa nunca disse se realmente o iria fazer.
Assim como uma explosão de reuniões para chegar a acordos entre partidos para se formar um governo, também os candidatos a Belém ganharam vida e apareceram para começar a campanha. Maria de Belém confirmou a sua candidatura e esta terça-feira apresentou-a oficialmente, no Centro Cultural de Belém. Marcelo, na sua terra, Celorico de Bastos, confirmou que iria candidatar-te para “pagar a Portugal o que Portugal lhe deu”.
Mas há mais nomes de que não nos podemos esquecer. Falamos de Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto e Edgar Silva. Quando Sampaio da Nóvoa surgiu especulou-se que teria o apoio do PS, mas até agora o partido não oficializou o apoio a nenhum candidato, deixando espaço para o nascimento de várias candidaturas. Henrique Neto, com 78 anos, foi o primeiro a apresentar a sua candidatura a Belém e mostra-se muito crítico à candidatura de Maria de Belém e Marcelo Rebelo de Sousa, afirmando que ambos não são aquilo de que Portugal precisa.
Edgar Silva aparece pelas mãos do PCP. Tem 53 anos e era o único deputado da CDU na Madeira. Foi padre e deixou o sacerdócio para se dedicar ao Partido Comunista. Jerónimo Sousa acredita que esta é uma “candidatura para valer na hora de ir a votos” e que este candidato tem a visão social de que um Presidente precisa.
São estes até agora os nomes mais famosos do panorama presidenciais. Marcelo segue na frente no que toca às sondagens feitas pela TVI, que lhe dão larga maioria em relação à segunda candidata, Maria de Belém, mas ainda sem maioria suficiente para não haver segunda volta.
Enquanto se discute que governo teremos nos próximos 4 anos, já a luta pelas presidenciais vai a passo de corrida. As eleições presidenciais são em Janeiro. Resta saber quando há um governo.
AUTORIA
Sempre a reclamar, lá vai escrevendo umas coisas.
Acha que tem tempo para fazer mil coisas e dormir deixou de fazer parte do seu dia-a-dia. Jornalismo é a sua paixão e escrever é o seu modo de ser.