Ri e chora por mais
Recensão: “Crónica dos Bons Malandros” de Mário Zambujal.
Este não é um livro para todos. Certamente, não foi escrito para as meninas de trancinhas direitas que não suportam que se lhes mexa no cabelo ou para os meninos que nunca tiveram o desplante de substituir os pneus do carro do professor menos simpático por tijolos. Também não é para o vizinho que não suporta que lhe toques à campainha porque “te enganas no interruptor da luz” ou para “o pica” que não fica satisfeito depois de te perseguir pelo comboio, quando na verdade tens bilhete. Então, para quem foi escrito? Para todos aqueles que, numa altura ou noutra, fizeram alguma “malandrice” apenas com o objetivo de fazer rir alguém.
Mário Zambujal conta-nos uma história de rir e chorar por mais. O romance descreve as peripécias de Renato – o Pacífico -, Marlene, Flávio – o Doutor -, Arnaldo Figurante, Pedro Justiceiro, Adelaide Magrinha e Silvino Bitoque. Uma quadrilha que quer dar o golpe final antes da reforma: um assalto a um museu. Mas não a um museu qualquer. A um daqueles em que o feito receba o merecido destaque.
Num mundo onde jornais e teatros são vítimas de atentados terroristas ou onde pessoas inocentes morrem a fugir da guerra, é difícil ficar aborrecido(a) quando um jovem rouba a porta da casa de banho das raparigas e as culpas recaem no detestado professor de Francês. Esta e outras façanhas muito particulares desafiam a nossa integridade, obrigando-nos a torcer pelos maus da fita.
Publicada pela primeira vez em 1980, esta obra representa uma abertura na literatura portuguesa, marcada por um estilo descontraído, divertido e irónico. A “Crónica dos Bons Malandros” já enfrentou as luzes da ribalta nos palcos e à frente das câmaras, mas nunca se deixou intimidar e continua a deslumbrar sucessivas gerações.
Os “certinhos” que fiquem à porta. Aqui só entram malandros. Já li e reli e sei que um dia vou, inevitavelmente, voltar a este livro, porque de vez em quando todos precisamos de desafiar o aceitável.