Editorias, Opinião

O Mundo vs Zack Snyder

Recordam-se do Obélix, o galhofeiro personagem da banda-desenhada? Lembram-se de como ele adquiriu os seus superpoderes? Quando era bebé, caiu num caldeirão de poção mágica e desde esse dia ficou com uma extraordinária força sobre-humana. Algo parecido certamente aconteceu ao Zack Snyder. A única diferença estava no conteúdo do caldeirão. Enquanto o rechonchudo gaulês ficou marinado num líquido divino, o realizador estadunidense caiu num pote recheado de azul acinzentado e da mais pura ataraxia letárgica. Só assim é possível justificar-se toda a sua filmografia.

É preciso, com mais de 3 anos de projeto e de um quarto de um bilião de dólares em orçamento, alguém fazer um esforço genuinamente grande para conseguir com que um filme em que as duas personagens mais icónicas da banda-desenhada (e quiçá de toda a ficção literária) andam pegadas às turras se transforme num gigantesco snoozefest.

Lembram-se de toda a polémica que houve na altura em que se descobriu que seria o Ben Affleck a interpretar o Batman? Pois bem, estou aqui para declarar que o Ben Affleck é a melhor parte do filme – desempenha bem o papel que lhe é dado e o seu estilo ajusta-se confortavelmente ao de um bilionário playboy. Mas a culpa não morre solteira.

“Batman vs Super-Homem” sofre de um enorme leque de problemas: tenta enfiar muita coisa num único guião (aquilo a que carinhosamente chamo o síndrome Homem-Aranha 3), desrespeita violentamente o source material – nesta obra, o “Cavaleiro das Trevas” mata a sangue-frio (deve ser somático, mas doeram-me os dedos a escrever esta frase) – e não atribui suficiente motivo às ações do antagonista.

Não querendo estragar as surpresas cinematográficas que vos garanto não existirem, vou ficar por aqui.

A ausência do divertimento é a melancolia e chegou finalmente a hora de darmos ouvidos ao grito de atenção que o Zack Snyder nos tem feito desde o início da sua carreira – tirem-lhe a câmara das mãos, alisem-lhe o cabelo e dêem-lhe uma cópia do The Black Parade dos My Chemical Romance.

Nas imortais palavras dos Linkin Park: “I’ve become so numb, I can’t feel you there”.

AUTORIA

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João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.