Capote (2005): Na vanguarda do jornalismo
Falar em Truman Capote é falar de um dos grandes impulsionadores daquilo que conhecemos como New Journalism, sendo que o seu livro In Cold Blood é visto como um dos primeiros exemplos dessa nova fase do jornalismo. No entanto, a influência de Truman Capote não se esgota apenas na influência que teve numa nova fase do jornalismo, uma vez que também se destacou como ator e escritor (um dos melhores exemplos de uma adaptação de uma obra sua ao cinema é o filme Breakfast at Tiffany’s de 1961).
Realizado por Bennett Miller, Capote conseguiu a nomeação para nada menos que cinco categorias dos Óscares, entre as quais a de Melhor Ator, categoria na qual Philip Seymour Hoffman arrecadou a estatueta.
Assim, o filme homónimo do escritor e ator norte-americano relata-nos a história da investigação levada a cabo por Truman Capote quando este procurava escrever um artigo para o jornal The New Yorker acerca de um brutal homicídio ocorrido numa quinta do Kansas e do consequente julgamento dos seus autores. A trama remonta ao ano de 1959, e foi essa investigação que lançou, no fundo, as bases daquele que viria a tornar-se um dos seus maiores sucessos literários e um marco na história do jornalismo.
Chegado à pequena cidade, Capote estabelece como principal prioridade entrevistar todos os que conheciam a família que tinha sido vítima do massacre, a família Clutter, contando para isso com a ajuda da sua amiga de longa data Nelle Harper Lee, protagonizada por Catherine Keener (este papel valeu à atriz a nomeação para o Óscar de Melhor Atriz Secundária). No entanto, quando chega à cidade de Holcomb, Capote depara-se com uma população nada cooperante, o que se expressa principalmente através do detetive encarregue do caso, Alvin Dewey (Chris Cooper), que apenas acede aos pedidos de Capote quando persuadido pela sua esposa, uma devota fã do trabalho do, então já conhecido, ator e escritor.
Assim, à medida que Capote vai conhecendo melhor as diversas ramificações da história, decide alterar o foco do seu trabalho deixando de procurar apenas material para a elaboração de uma simples reportagem, mas, ao invés, assumindo como objetivo a recolha da maior quantidade possível de informações e de relatos por forma a criar aquela que viria a ser considerada a sua obra-prima, o livro In Cold Blood.
Assim, ao longo do filme vamos vendo os esforços levados a cabo por Truman Capote para conseguir aprofundar a história, que a dada altura conduzem a uma série de entrevistas aos suspeitos do crime, em especial a Perry Smith (protagonizado por Clifton Collins Jr.). Este é um homem calmo e com um passado difícil. A sua história de vida causa em Truman Capote uma estranha sensação de compaixão para com ele. Ao aperceber-se disso, Perry Smith tenta usar esse sentimento e a ligação que, entretanto, criara com Capote para fazer com que este o ajude.
No entanto, as tentativas de Perry para convencer Capote a ajudá-lo são infrutíferas, sendo que a dada altura o escritor se debate com um dilema: por um lado gostaria de ajudar os condenados; por outro apenas uma execução lhe proporciona o fim de que necessita para a sua obra.
É este conflito de interesses e de sentimentos que este filme capta na perfeição: a luta interna com a qual tanto o entrevistador como o entrevistado se debatem, uma mistura de sentimentos que apenas é passível de ser transmitida para o espectador através de grandes interpretações.
E é exatamente o que Phillip Seymour Hoffman conseguiu rubricar: uma extraordinária performance (totalmente merecedora do Óscar que acabou por conquistar) na qual captou a forma de falar, de andar e de estar de Truman Capote, sendo, inclusive, difícil para um observador menos conhecedor distingui-lo do original. Outro ator com uma performance deveras interessante é Clifton Collins Jr., que, na pele do assassino e condenado Perry Smith, consegue encarnar na perfeição o homem calmo e afetado que os relatos da época descreviam.
Assim sendo, aconselho vivamente o visionamento deste filme, pois para além de abordar, no fundo, a criação de um dos artigos que mais alteraram o panorama jornalístico ao longo da sua história, está repleto de grandes interpretações e é possuidor de um argumento interessante e cativante.