Lanceiros livres no mundo dos media
Corria o ano de 1820 quando Sir Walter Scott mencionou, pela primeira vez, no seu livro Ivanhoé, a palavra freelance. Mal imaginava ele que o vocábulo que denominava os cavaleiros medievais pertencentes ao exército dos nobres que oferecessem uma quantia mais elevada pelos seus serviços serviria, séculos depois, para intitular pessoas bastante distintas daquelas que descrevera.
“Trabalhar para nós próprios é a melhor coisa que pode acontecer”, afirmou Vasco Durão, um dos três oradores do debate Freelancer no Mundo da Comunicação, realizado no foyer do piso -1 da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS). Licenciado em Sociologia e Mestre em História de Portugal (do Séc. XX), pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, entendeu que a sua vocação passava pela arte e tirou um curso de fotografia no Ar.Co. “Trabalhava em agências e decidi largar tudo”, confessou, referindo-se aos dez anos que passou entre a Novodesign e a Mola Ativism.
Ivan Ferreira, ex-escsito e licenciado em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, admite: “Sempre senti um enorme desconforto relativamente às oportunidades, porque não espero que elas me caiam no colo” e, ao realizar um périplo pelo seu passado, apercebe-se de que talvez tenha sido esse o motivo pelo qual o seu espírito empreendedor nunca parou de evoluir. Para quem começou o seu percurso com a criação dos sites das escolas do Instituto Politécnico de Lisboa, Ivan acredita que ser o fundador da Trezentos – Digital Freelancers é um autêntico orgulho.
Diogo Rola, antigo aluno da ESCS e licenciado em Audiovisual e Multimédia, autodefine-se como “uma pessoa que trabalha todos os dias para ser a melhor a contar histórias”. Ainda que se encontre indeciso no que diz respeito a “ser freelancer a tempo inteiro ou parcial”, é certo que o seu mais recente trabalho de pré-produção, produção e pós-produção de conteúdos audiovisuais e fotografia na World Academy PT lhe trouxe satisfação pessoal.
No que concerne às adversidades que surgem nos caminhos destes profissionais, todos partilham das mesmas opiniões. Ivan realçou a “ausência de estabilidade financeira”, pois não existem subsídios, salários ou férias fixos. Já Vasco declarou que “não se deve ter pudor em negociar o preço de um trabalho”, embora o valor do trabalho dos freelancers esteja quase sempre dependente do preço que os clientes queiram pagar por ele. Na mesma linha de pensamento, Diogo esclareceu: “Ao início, é difícil saber quanto vale o nosso trabalho e dizer que não às pessoas, independentemente do valor que nos sugerem”, pois é necessário ter em atenção fatores como o material utilizado, o tempo gasto na captação, produção e edição e a existência (ou não) de ajudantes.
“Ser freelancer é ter 365 dias de férias e 365 dias de trabalho”, declarou Vasco num tom jocoso; mas a sua frase foi o mote para o resto do debate. Ivan deixou bem clara a ideia de que ser freelancer não significa ter horários totalmente flexíveis e que é muito complicado “desligar do trabalho”. Diogo expressou a sua vontade de gerir bem o quotidiano e salientou: “antes de tomar esta decisão, é importante compreender que o autossustento é obrigatório. Existem meses em que ganhamos muito, mas noutros não ganhamos nada”.
Entusiasmados e atentos a cada ensinamento proferido pelos oradores, estavam Tomás Delft, licenciado em Design pelo Instituto de Arte, Design e Empresa, e Afonso Morais, licenciado no mesmo curso pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e estudante do Mestrado em Gestão e Estratégia Industrial do Instituto Superior de Economia e Gestão. Tomás, fundador e diretor criativo da NUBA Design Experience, cujo principal objetivo é a valorização do bom design português, acredita que é necessário apostar na divulgação do talento dos designers que não têm emprego e, através desta plataforma online, almeja “combater o abismo que existe entre a formação e o mercado de trabalho”. Afonso, que teve conhecimento do evento através do Facebook e foi a única pessoa da audiência a colocar questões aos convidados, admitiu: “É preciso quebrar o gelo. Existe falta de intervenção. Vim aqui para aprender e, acima de tudo, para tentar a minha sorte. E consegui!”, disse, com um grande sorriso, após uma longa conversa com os oradores.
Talvez Sir Walter Scott diria que, no competitivo e desafiador universo da comunicação, as batalhas travam-se com lanças, mas a verdade é que o vencedor da guerra comunicacional é aquele que, com as suas capacidades, realiza os voos mais altos.
AUTORIA
Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!