A Guerra no Hard Rock e no Heavy Metal
Guerra. A história do ser humano é marcada pela vontade de roubar e matar o próximo. É impossível determinar o último ano em que a Terra não viu uma guerra a ocorrer. Tal visão contrasta (e muito) com as leis básicas que cada criança aprende com os seus pais, que podem ser resumidas à frase “Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti”.
Dada esta discrepância entre o dever moral de cada pessoa e as suas ações, a guerra sempre foi um tema que inspirou muitos poetas – e é difícil encontrar poetas mais eloquentes do que aqueles que estão em bandas de rock/metal.
Esta é uma lista sobre as principais músicas desse mesmo género musical que abordam a guerra de diferentes perspetivas e que, esperançosamente, ajudam a criar pessoas menos violentas.
Brothers in Arms
Referindo-se aos irmãos de batalha, poucas músicas descrevem os horrores da guerra de forma tão dolorosa como esta. Os irmãos não são apenas os que lutam ao nosso lado, são todos os soldados envolvidos numa guerra que agrega pessoas de diferentes partes do mundo e que as obriga a morrer no mesmo local.
Com a voz de Mark Knopfler a contar a história e a guitarra a expressar a sua dor, é difícil seguir esta letra sem sentirmos um arrepio.
Wind of Change
Dos alemães Scorpions, a música foi lançada um ano após a queda do Muro de Berlim e aborda o vento da mudança que esse acontecimento levou à capital alemã, graças à queda do comunismo no país.
A letra da música foi alterada no ano passado, homenageando a Ucrânia na sua luta contra a invasão russa, esperando que o país também sinta, tal como a Alemanha sentiu, o vento da mudança.
Civil War
“O que temos aqui é uma falha de comunicação” – o primeiro verso desta obra-prima dos Guns N’ Roses explica o início de todos os conflitos bélicos. Esta música não se foca em ideologias, dá um passo atrás e tenta perceber como é que a guerra – “um supermercado de humanos” – pode fazer sentido para a humanidade. Não pode. Apenas o faz para uma elite: “alimenta os ricos e enterra os pobres”.
One
Baseado num romance de Dalton Trumbo (“Johnny Got His Gun”), a música dos Metallica trata de um soldado que perdeu os membros, a visão e a audição na Primeira Guerra Mundial, tornando-se por isso prisioneiro dos seus pensamentos e do seu próprio corpo.
Com um dos melhores videoclipes de sempre, mostram-se “as máquinas que me fazem viver” e a sua vontade inabalável de morrer.
War Pigs
A banda que não inventou o heavy metal é das mais icónicas de sempre e a primeira estrofe desta música é uma perfeita descrição de tudo o que envolve a guerra, desde as mentes que a criam (que enfrentam o seu destino quando “Satanás se ri e abre as asas”), até aos que não têm outra escolha senão morrer nela.
A voz de Ozzy Osbourne, aliada ao riff tenebroso de Tony Iommi, ao forte baixo de Butler e à bateria memorável de Bill Ward fazem desta uma das canções mais marcantes de todo o metal.
Great War
Ninguém aborda a guerra como os Sabaton. A banda sueca foca-se mais em feitos heróicos de soldados, mas, aqui, centra-se nos horrores que a guerra provoca. Incluída no álbum homónimo sobre a Primeira Grande Guerra, parte da noção de que, antes da mesma, lutar por um país era dos atos mais honrosos que um cidadão podia fazer. Mas as trincheiras, os químicos e as batalhas intermináveis subverteram essa noção.
A letra leva-nos a procurar, naquela guerra, “onde está a grandeza de que ouvira falar”, sendo que a mesma se baseava “em mentiras que nos haviam contado”, chegando à questão sem resposta: “vale a pena este sacrifício?”, referindo-se em particular à batalha de Passchendaele, onde se estima terem morrido quinhentos mil soldados.
Também é feita uma descrição aterrorizante do que é a vida de um soldado em guerra, com corpos aos seus pés, “balas com o seu nome”, generais sem misericórdia pelo batalhão que lideram e a chegada a uma conclusão arrepiante: “como entendo aquilo em que me tornei?”.
B.Y.O.B. (Bring Your Own Bombs)
Os System of a Down abordam a guerra em várias canções (War?, Boom! e P.L.U.C.K., por exemplo), sendo esta a mais emblemática sobre o tema.
Direcionada à guerra dos Estados Unidos no Iraque, acusa esse acontecimento de ser, para o governo norte-americano, uma grande festa: “Todos vão para a festa divertirem-se”. Compara bombas ao nascer do sol (algo belo), o que se pode traduzir na alegria que alguns sentem em explodir com coisas e pessoas. Também vai mais fundo, com o verso “Vocês alimentam-nos de mentiras” – governos, políticos e até religiões já incentivaram à guerra, fazendo-nos crer que essa é a melhor solução para a resolução de um conflito, quando devia ser a última.
Com um estilo lírico inigualável – agradeçamos a Daron Malakian e Serj Tankian –, cada estrofe apresenta novas construções sobre a obsessão das pessoas em começar guerras, como se isso fosse algo inerente ao ser humano.
Fonte da capa: Steve Brown
Artigo revisto por Bruno Silva
AUTORIA
A Música sempre fez parte da sua vida. Após uma iniciação na música clássica, passou para o rock clássico de Rolling Stones e depressa se focou em bandas de hard-rock e metal (sendo Scorpions e Iron Maiden, respetivamente, as principais referências nesses campos). Hoje, gosta de ouvir um pouco de tudo, desde Mozart a John Coltrane, e desde Guns N’ Roses a System of a Down.
Muito boa dissertação sobre os horrores das guerras. Não sendo fã de hard rock nem de metal fiquei c/ curiosidade de ouvir os temas referidos