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AC/DC: Reinvenção e Superação

Desastres naturais, mortes, acidentes, problemas de saúde e, mesmo assim, os AC/DC continuam a incendiar o mundo do rock (porque, como os próprios admitem, eles não são uma banda de heavy metal). Em 2024, vão estar em tour pela primeira vez em oito anos, após o vocalista Brian Johnson quase perder a audição. Nada demais, apenas uma nova lomba na estrada deste grupo que já leva mais de 50 anos disto. 

Afinal, esta é uma banda que prospera nas dificuldades que encontra. Quando a Europa recuperava da Segunda Guerra Mundial, William Young não arranjava trabalho na sua cidade-natal de Glasgow e, por isso, emigrou para a Austrália com a mulher e os oito filhos. 

Foi na longínqua ilha que Malcolm e Angus começaram a tocar guitarra aos cinco anos de idade e, em 1973, formaram os AC/DC graças à forte influência da irmã mais velha Margaret, que escolheu o nome da banda (corrente alternada/corrente direta) e introduziu o par ao rock n’ roll.Após a família Young superar as dificuldades do maior conflito global de sempre, os AC/DC viveram um período dourado nos cinco anos em que tiveram Bon Scott como vocalista. Os álbuns High Voltage, T.N.T., Highway to Hell, Powerage e Let There Be Rock são intemporais e saíram entre 1975 e 1979! No ano seguinte, Bon Scott morreu, tragicamente, em fevereiro. Hora de a banda superar o primeiro grande desafio.

Em março do mesmo ano, Brian Johnson é contratado como vocalista e, em abril e maio, grava o álbum seguinte. Back In Black é lançado em julho e o sucesso é cintilante. Mas mais do que se tornar num dos álbuns mais vendidos de sempre (mais de 50 milhões de cópias), esta foi uma homenagem ao talento ímpar de Scott e uma nova prova de que é nas adversidades que as pessoas devem florescer. Este sucesso é ainda mais notório quando se nota que os AC/DC consideraram acabar a banda após a morte de Scott, como recordou Angus Young (citado pela Loudwire).

Bon Scott em palco com os AC/DC. Fonte: AC/DC

A morte de Scott foi o momento mais difícil para nós – continuávamos ou parávamos? Porque o Bon Scott, quando morreu – com o seu estilo e carácter únicos e a forma como atuava – sabíamos que não íamos encontrar alguém tão único.

Malcolm Young

Não há AC/DC sem Malcolm Young. Angus será para sempre a imagem de marca dos AC/DC, com o uniforme escolar e os solos inimitáveis. Mas esse sucesso só aconteceu devido ao seu irmão mais velho, responsável pelos riffs que apaixonaram meio mundo e que suportavam toda a loucura da banda. Por isso, o afastamento do guitarrista rítmico em 1988 devido à sua adição ao álcool foi um duro golpe para todos. Depois de passar por reuniões nos Alcoólicos Anónimos, voltou à banda e escreveu com Angus todas as músicas do álbum Razor’s Edge, como o clássico Moneytalks e o eterno Thunderstruck.

Não fazemos música para os críticos. Vamos é pela reação das crianças”, dizia Malcolm, que encontrou a criança dentro de qualquer fã dos AC/DC. 

Infelizmente, Malcolm sairia de vez do grupo em 2014 por problemas de saúde. Pouco depois, foi-lhe diagnosticado demência. Mas já se sabe que a banda prospera na estrada acidentada que marca a vida de cada um. No mesmo ano saiu o álbum Rock or Bust, com Stevie Young, sobrinho de Malcolm e de Angus, no lugar do tio. Já em 2016, Brian Johnson foi avisado de que corria o risco de ficar surdo se não parasse de dar concertos. A resposta dele? “Não vou desistir e quero acabar o que comecei”. Para bom entendedor, meia palavra basta. Brian foi substituído por Axl Rose nos concertos que faltavam da tour de 2016 (e que passou por Portugal).

Pouco mais de um ano depois, Malcolm Young morreu com 64 anos. “Como guitarrista, compositor e visionário ele era um perfecionista e um homem único”, recordou a banda numa nota oficial. Como já se percebeu, o modus operandi do grupo não é parar. Assim, a 13 de novembro de 2020, foi lançado Power Up, uma compilação de músicas escritas (em parte) por Malcolm que nunca tinham sido publicadas.

Este álbum originou o regresso aos palcos do já septuagenário Brian Johnson no primeiro concerto da banda em sete anos, no festival Power Trip, em outubro de 2023, e que mostrou que o grupo ainda está  para as curvas.

Ao longo das 24 músicas, tocaram todos os clássicos desejáveis e surpreenderam com If You Want Blood (You’ve Got It) a abrir pela primeira vez (de sempre) e trouxeram músicas perdidas no seu extenso repertório como Stiff Upper Lip (em concerto pela primeira vez em 20 anos) e Riff Raff (executada pela primeira vez em concerto com Brian Johnson, segundo o site Setlist).

Na sequência deste regresso triunfante, a 12 de fevereiro, anunciaram uma tour europeia para este ano. Já foram adicionadas três datas extra à lista inicial de 21 e a passagem mais próxima de Portugal será em Sevilha (29 de maio e 1 de junho). 

Os membros em palco serão Angus Young, Brian Johnson, Stevie Young, Matt Laug a substituir Phil Rudd na bateria e Chris Chaney no baixo, no lugar do retirado Cliff Williams.

2024 adivinha-se, assim, explosivo para os AC/DC. E dado o seu historial, nada indica que este será o último ano ativo desta lendária banda.

Fonte da capa: AC/DC

Artigo revisto por Bruno Filipe Silva

AUTORIA

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A Música sempre fez parte da sua vida. Após uma iniciação na música clássica, passou para o rock clássico de Rolling Stones e depressa se focou em bandas de hard-rock e metal (sendo Scorpions e Iron Maiden, respetivamente, as principais referências nesses campos). Hoje, gosta de ouvir um pouco de tudo, desde Mozart a John Coltrane, e desde Guns N’ Roses a System of a Down.