A importância do figurino na criação de uma personagem
No universo ficcional, o figurino exerce a função de narrar visualmente certas características da personagem. A criação deste é feita na fase final da produção após a definição estrutural do desenho da encenação (luz e cenário), de modo a realizar uma espécie de “vestimenta” final do espetáculo.
Por seu intermédio, é possível criar uma linguagem através das formas, cores e texturas; transmitir a época em que a peça decorre e o seu contexto político e económico; e indicar a região ou cultura da personagem através do seu estilo. É possível afirmar que o figurino há muito deixou de ser apenas a roupa que a personagem está a usar quando entra em cena, sendo agora parte integrante tanto do espetáculo como da personagem.
Até ao século XIX, os figurinos limitavam-se a ser meramente ilustrativos, representando apenas tipos específicos de personagens que fossem de fácil entendimento para o público. Era necessário que os figurinos tivessem entrançados na imagem do espetáculo, para que as cores em si contidas se harmonizassem com os restantes elementos cénicos.
Ao longo do século XX, o figurino estabelece-se como parte importante do espetáculo, acumulando novas funções. Neste século nasce a profissão de figurinista. Este aparecimento deve-se ao facto de os textos teatrais se terem tornado mais complexos e as personagens mais detalhadas ao nível psicológico, sendo posta de parte a interpretação meramente tipificada da personagem.
Nos dias de hoje, ainda é possível observar uma fronteira na questão do género. A androginia é ainda tabu no vestuário masculino e feminino, embora seja mais aceitável no segundo caso. A construção da imagem tanto do homem como da mulher ainda aparecem muito ligadas a estereótipos como o de que a mulher deve usar um vestido e o homem umas calças.
Assim, o figurino tem duas funções básicas: a de ajudar o ator a “encontrar” a personagem e a de auxiliar no estabelecimento daquilo que irá ser o espetáculo, ou seja, o tema, a atmosfera de produção, o que é que vai estar em cena, quais vão ser as cores centrais da peça e o que elas pretendem transmitir.
Artigo revisto por: Andreia Jesus