A Ostracização do Dromedário
No passado fim-de-semana fui a uma loja de brinquedos. A minha prima está grávida e, uma vez que o momento está próximo, a minha mãe decidiu ir comprar uma prenda para o futuro membro da família. Entrámos e a minha mãe foi perder-se nas prateleiras à procura de um entretenimento para o futuro Carlitos, enquanto eu me fui perder para umas prateleiras com peluches e bonecos em forma de animais. O meu olhar logo murchou quando não encontrei um boneco de um dromedário. Havia camelos em peluches, em bonecos e até num jogo cujo objectivo era prender vários objectos em seu redor sem que este se levantasse e mandasse tudo pelos ares. Fiquei desiludido. Afinal, onde foi parar o culto do dromedário?
A mesma situação repete-se vezes sem conta, seja no jardim zoológico ou num circo. Nunca há dromedários, apenas camelos. E a minha pergunta é porquê. Porquê? A única coisa que os difere é o número de bossas: o dromedário tem apenas uma. É a versão desportiva do camelo, perfeita para o árabe solteiro e apreciador de altas velocidades. Deixo-vos aqui algumas curiosidades sobre o dromedário:
– A sua bossa não é composta de água (ao contrário do mito popular), mas sim de gordura, acumulada pelo animal em períodos de alimentação abundante, que lhe permite sobreviver em condições de escassez;
– Consegue beber até 57 litros de água de uma só vez;
– Pode atingir os 3 metros e pesar até 750 quilos;
– Pode percorrer centenas de quilómetros e aguentar com 150 quilos de carga;
– Está em vias de extinção.
Leram bem o último tópico? Está em vias de extinção. Estão arrepiados, não estão? Eu também estou, só de pensar que as próximas gerações podem vir a crescer tendo o dromedário como apenas um mito, tal como têm o unicórnio. O que está por detrás disto? A poligamia que a religião muçulmana permite. Com várias mulheres e com tantos filhos, o típico árabe abdica do seu dromedário e opta por um camelo, mais espaçoso e mais familiar.
O deserto não são só camelos. Os dromedários são igualmente importantes e é igualmente importante que as indústrias dos animais, do circo e dos espaços zoológicos lutem para que as novas gerações não pensem que apenas existem animais do deserto com duas bossas. Não! Também existe uma espécie de camelo que nos deixa andar sozinhos, que nos permite dar longos passeios no deserto sem ninguém atrás a melgar-nos. Por exemplo, os reis magos. Podiam-se ter arranjado e ter sido organizados e ido em apenas dois camelos. Relatos e ilustrações mostram, no entanto, que estes indivíduos viajavam em seres de uma só bossa, ou seja: dromedários. Pergunto-me quando é que se perdeu este afecto, este carinho e esta importância dada a um mamífero tão menosprezado nos dias de hoje, como o dromedário…
Eu admito, sempre quis ter um dromedário e não fosse o câmbio funcionar com a troca de uma mulher por um animal, eu já teria um.
AUTORIA
O Tomás é um gajo com a mania de que sabe escrever e que tem opinião sobre tudo. Tem uma farta barba e reza a lenda que sem uma boa imperial nenhuma palavra lhe sai das mãos.