Música

Afro Fado: o álbum que deu que falar

Quando se aborda o tema da música portuguesa, emerge um nome que ecoa mais alto do que todos os outros nos últimos tempos: Slow J. Este talentoso cantor, cuja arte transcende fronteiras, lançou recentemente o seu terceiro álbum, Afro Fado – uma obra-prima musical que alterou toda a trajetória da música portuguesa.

No mês de novembro do ano passado, o mundo testemunhou o nascimento de um fenómeno musical. Afro Fado não apenas conquistou os corações dos portugueses, como também estabeleceu um novo padrão ao tornar-se o álbum mais ouvido nas primeiras 24 horas em Portugal, de acordo com dados fornecidos pelo Spotify.

Duas simples palavras capturam a essência deste álbum da melhor forma: mistura e singularidade. Afro Fado é um turbilhão sensorial, uma fusão incessante de culturas, cores, sons e experiências que transcendem o convencional. O título em si é uma obra-prima lexical, entrelaçando as palavras “Afro” e “Fado”, remetendo-nos tanto para a cultura africana como para a portuguesa. Slow J, ou João Batista Coelho, como é conhecido fora dos palcos, mergulha nas suas raízes, oriundas de uma mãe portuguesa e de um pai angolano, para trazer ao público um conto musical que transcende barreiras geográficas e culturais.

Se, nas obras passadas do cantor, a música africana, nas suas diversas manifestações, e o fado já se destacavam como grandes influências, agora testemunhamos a sua harmonização.

14 músicas, um sentimento e diversas histórias por partilhar. O álbum é considerado uma jornada musical que reafirma a identidade única de João. O artista utiliza a sua música como uma plataforma para questionar as complexidades da sociedade atual e, assim, o seu papel num mundo intensamente polarizado. Nesse contexto, aborda questões como a apropriação cultural e a influência da globalização. Através da sua arte, João explora o seu lugar nesse cenário complexo, refletindo sobre as dinâmicas sociais e culturais que moldam o mundo contemporâneo. 

A valorização do passado, notável devido à referência de figuras memoráveis, como Eusébio e Amália Rodrigues, é algo muito presente em Afro Fado. “Quero ensinar ao meu filho que antigamente / A cor da pele dele era como um dístico / Isto já numa terra depois do racismo”, excerto de Origami em que Slow J aborda o passado, apenas confirma esta afirmação.

O reconhecimento global veio de forma estrondosa, com Afro Fado a conquistar a 8.ª posição no top 10 de novos lançamentos mundiais no Spotify. Uma posição de destaque que não só reflete a genialidade do álbum, mas também marca a história da música portuguesa, sendo o primeiro álbum de um artista nacional a atingir tal feito.

Slow J, que durante muito tempo esteve associado ao rap e ao hip-hop, mantém a sua habilidade inata no jogo das palavras, mas afasta-se dos padrões instrumentais convencionais do hip-hop. Afro Fado é uma metamorfose musical, uma prova de que a verdadeira evolução artística não conhece limites.

O culminar desta jornada musical extraordinária será celebrado nos dias 7 e 8 de março, em concertos já esgotados no Altice Arena. O público anseia por testemunhar a magia do cantor ao vivo.

Slow J não lançou apenas um álbum; ele criou uma obra musical épica que ultrapassa as barreiras da música portuguesa. Afro Fado é mais do que uma coleção de músicas: é uma experiência auditiva que cativa e emociona qualquer ouvinte.

Fonte da capa: Bantumen

Artigo revisto por Maria Batalha

AUTORIA

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A arte da comunicação sempre a fascinou. Aluna do primeiro ano de jornalismo, ficou muito entusiasmada ao ver que, ao entrar para a ESCS Magazine, poderia interligar as suas maiores paixões, entre elas a escrita e a música. Interessada pelos diversos géneros musicais, acredita que a música é a forma mais bonita que o ser humano tem para expressar os seus sentimentos. A curiosidade por conhecer melhor o mundo à sua volta e, assim, transmitir esse conhecimento às pessoas ao seu redor, foi o que a cativou para esta área.