Aparição: Mais valia não ter aparecido
Desde que foi anunciado o início do desenvolvimento da adaptação do livro Aparição, de Vergílio Ferreira, para o grande ecrã, que antecipava ver o resultado final. Preferia não o ter visto. Não é que seja completamente mau, mas é decepcionante.
Aparição, tal como o livro homónimo, passa-se no final dos anos 50 e conta a chegada de Alberto Soares (Jaime Freitas) a Évora, para lecionar no liceu daquela cidade, e relata os diversos acontecimentos, alguns deles trágicos, que assolaram a sua estadia naquele local.
Alberto (Jaime Freitas)
O grande problema de Aparição é a forma como o livro é traduzido para o filme. O realizador tentou copiar a obra literária tal e qual para o cinema. Isso levantou diversos problemas porque a narração e o pensamento filosófico dominantes no livro, não resultam da maneira que foi apresentada no filme e nem sequer foram muito desenvolvidos neste. Sinto que era necessário arriscar mais e não jogar tanto pelo seguro como foi feito.
Além disso, a riqueza das personagens perde-se, principalmente de Ana (a mais velha) e Cristina (a mais nova), filhas de Dr. Moura, amigo do falecido pai de Alberto.
Alberto (Jaime Freitas), Ana (Rita Martins), Dr.Moura (Rui Morisson) e Cristina (Inês Trindade)
Até o próprio protagonista sai um pouco chamuscado pela transição para o grande ecrã.
Foi dado um foco exagerado no triângulo amoroso entre Alberto, Sofia (outra das filhas de Dr. Moura) e Carolino (aluno de Alberto), que levou a que o resto da narrativa não fizesse tanto sentido existir no filme como acontece no livro.
Infelizmente a grande atuação de Victória Guerra (que interpreta Sofia), não consegue salvar este filme.
Alberto ( Jaime Freitas) e Sofia ( Victória Guerra)
Falando no filme em si, esquecendo a sua ligação ao livro, sofre de uma grande confusão narrativa. Parece que tentaram colar diversas cenas entre si, só que se esqueceram da cola em casa.
Além disso, o filme sofre de uma lentidão extrema que em nada ajuda o espectador a manter-se atento e interessado na narrativa, algo em que a dispersão da história também tem grande peso.
Concluindo, leiam o livro. É muito melhor do que perder tempo com este filme, que não consegue fazer justiça nem a um décimo do livro.
Só espero que esta não seja a única tentativa de trazer o livro quer para o pequeno, quer para o grande ecrã, pois ele merece-o.