Literatura

“Aquorea” e dilemas adicionais

Não sei se ainda haverá surpresas quanto ao género que vou escrever hoje… realismo mágico. Realismo mágico, explicado de forma sucinta. Para quem não sabe exatamente do que estou a falar, é o nosso Universo conhecido com uma “pitada” de fantasia – ou seja, continuam a reger as regras principais da vida, mas com uma adição de um elemento desconhecido. No decorrer da obra, bem como no decorrer deste artigo, será mais percetível o tipo de universo no qual vamos estar inseridos. 

Hoje trago-vos uma review – e não só – de Aquorea, o primeiro livro da nova coleção de M. G. Ferrey que consiste num tema de realismo mágico, como já mencionei, com vários POV diferentes (sendo que POV são point of views, ou seja, pontos de vista de personagens diferentes), um romance intoxicante e várias escolhas complexas. 

Começamos por conhecer Arabela Rosialt que vai com a sua família e o seu melhor amigo Colt (que está apaixonado por ela, dando um possível cenário de melhores amigos para namorados) ao Brasil para o funeral do seu avô. Nesse mesmo dia, Arabela, num passeio pelo mesmo rio onde o seu avô havia falecido, cai na água e é transportada para um lugar completamente desconhecido, mas, simultaneamente, familiar . 

Nesse lugar – Aquorea – que aparenta ser um mundo debaixo de água, Arabela conhece várias pessoas novas, numa sociedade quase utópica mas, obviamente, com os seus defeitos. Uma dessas pessoas foi Kai, um dos responsáveis por proteger todo aquele novo mundo, em que Arabela se encontrava – descobrindo, posteriormente, que estava destinada a encontrar. Sem dar demasiados spoilers, tenho apenas a dizer que é um livro que não consegui pousar. Detalhes dados de uma forma fantástica, reviravoltas, conflitos – tanto intrapessoais como entre personagens – e um plot envolvente, são apenas alguns dos aspetos que tornam este livro um must read.

Entrando no devaneio, hoje trago um tema mais de ‘’propósito divino’’. Como já mencionei, quando Arabela entrou neste novo mundo, que era Aquorea, foi-lhe revelado que não tinha “caído” lá por acaso. Havia um propósito quase profetizado e ela tinha uma missão a cumprir. Com isto, coloca-se um dilema, tanto à personagem como aos leitores: se aquilo que nos é destinado implica separarmo-nos de tudo o que nos é conhecido, agarramos o nosso destino? Ou simplesmente existimos no conforto da vida que já criámos?

Há quem diga que todos nós temos um propósito nesta vida, seja esse propósito grande ou pequeno no esquema geral das coisas e do Universo. No entanto, há que argumentar pelo lado mais cético da discussão… será que o nosso propósito não somos nós que definimos? E será que esse dito propósito nos obrigaria mesmo a largar tudo o que temos e construímos? 

Não é que pensar nestas questões existenciais da vida alterem muito do nosso percurso, contudo, e falando por mim, torna tudo muito mais interessante e abre muitas mais possibilidades e pensamentos paralelos que nos enriquecem como seres humanos.

Fonte da capa: Behance

Artigo revisto por Beatriz Merêncio

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