As ilhas que denunciam a atuação chinesa
O Mar do Sul da China é o coração de uma busca incansável por influência, que conduz à intensificação das tensões entre os países do sudeste asiático.
O desafio diplomático complica-se com a presença da China nas Ilhas Spratly. Os chineses ocupam militarmente sete ilhas do território e têm adotado uma atitude hostil perante as Filipinas, a Malásia, o Vietname e Taiwan; países que também reivindicam a região insular.
O arquipélago, composto por mais de uma centena de ilhas, ilhéus e recifes, está localizado a norte da costa malaia, entre as Filipinas e o Vietname, e é rico em recursos naturais, como o petróleo e o gás natural, que os chineses cobiçam. É, no entanto, a posição estratégica, favorável às rotas internacionais de comércio, que motiva o conflito de interesses entre os países.
Pequim, durante os últimos dias de janeiro, tem solidificado a sua presença nas Ilhas Spratly através de uma troca de acusações com Manila. A Guarda Costeira filipina emitiu um comunicado no qual acusava as forças marítimas chinesas. Nesse comunicado estava uma acusação de assédio a um grupo de barcos de pesca filipinos que realizava um estudo científico junto de Sandy Cay, uma ilha do arquipélago Spratly. De acordo com a Associated Press, o encontro ocorreu no dia 24 de janeiro e a intervenção dos navios e do helicóptero chineses levou à retirada das embarcações que conduziam a pesquisa.
Esta imposição de soberania alerta para as ambições da China no domínio do arquipélago. A resposta dada por Pequim parece comprovar o “comportamento agressivo” criticado pelas Filipinas acerca da atuação chinesa na região. A China afirmou ter desviado embarcações que trespassavam ilegalmente águas que estão sob o controlo chinês, e disse que continuará a proteger a sua “indisputável soberania”, invocando os seus “direitos marítimos”.
A obsessão com a disputa pelas Ilhas Spratly pode parecer inusitada. No entanto, a localização destas centenas de recifes e ilhéus permite o controlo e supervisionamento das rotas comerciais do Mar do Sul da China, cuja importância estratégica se alicerça na conexão aos oceanos Índico e Pacífico. A China, que vê o seu poderio económico assente no comércio internacional, é o país com a maior presença no arquipélago.
A Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia (AMTI) expõe os investimentos chineses na edificação de instalações com potencial militar, cuja construção tem registos que datam desde o início do século. As imagens mostram hangares, estruturas portuárias, radares, sistemas de telecomunicação e pistas de aterragem que podem chegar aos 3000 metros de comprimento: verdadeiras bases navais implementadas em pequenos recifes ao longo do arquipélago.
Apesar de os seus investimentos em meios bélicos intimidarem o ocidente, a China é confrontada com os estreitos laços diplomáticos que os Estados Unidos da América mantêm com países como o Japão, as Filipinas, a Malásia e, até mesmo, Taiwan, que ocupam posições incomodativas às rotas marítimas chinesas.
Estes países podem, em alturas de tensão diplomática e de conflitos armados, limitar a passagem dos navios chineses que tentem aceder aos oceanos Índico e Pacífico. A este enclausuramento das tropas chinesas soma-se o poderio naval norte-americano, que, estacionado em bases navais por todo o sudeste asiático, mantém a sua presença nos mares envolventes da República Popular da China.
No decurso das recentes divergências, o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., ofereceu a retirada dos sistemas de mísseis norte-americanos do seu território, caso Xi Jinping pare aquilo a que Ferdinand se refere como comportamento “coercivo”. Esta proposta é uma chamada de atenção para o “cerco americano” acima descrito. Os mísseis Tomahawk são capazes de percorrer cerca de 1600 quilómetros. Posto isto, parte de território chinês está dentro dos limites do alcance desta arma de guerra, que se apresenta como uma ameaça iminente impossível de ignorar.
O problema desta situação é, como em muitos outros casos, a relação entre a China e os Estados Unidos, que se traduz numa competição por influência. Uma vez retirados os mísseis Tomahawk do território filipino, efetivando a proposta do líder filipino, a posição norte-americana na região tornar-se-ia vulnerável. Deste modo, a China desfrutaria de uma zona livre do alcance das armas dos Estados Unidos, podendo adotar esta estratégia com outros países além das Filipinas, através de uma promessa de atenuação das suas ações.
Tudo indica que isto está muito longe de acontecer e, para os norte-americanos, será uma ideia distópica. Mas é inegável que a proposta em questão fragiliza o papel estadunidense de presença militar na região.
Numa altura em que a questão de Taiwan parece assinalar o Sudeste Asiático como mais uma região bélica, o Mar do Sul da China e, mais concretamente, a disputa pelas Ilhas Spratly é uma problemática conflituosa a ter em atenção este ano.
Fonte de Capa: Reuters/Tingshu Wang
Artigo revisto por Diogo Bértola
AUTORIA
A entrada na licenciatura em jornalismo presenteou o Fernando com o desafio de trabalhar com a ESCS Magazine.
A curiosidade perante as rápidas mudanças que o nosso mundo tem vindo a sofrer, aliada ao interesse pelas relações internacionais, levam-no a explorar a escrita e partilhá-la com a comunidade de alunos. Escreve para aprender e vê esta iniciativa como um exercício que lhe dá liberdade para criar e conhecer mais.