As redes sociais sempre existiram
Ponto Prévio. Escrevi este artigo com um fio condutor em mente: demonstrar o meu ponto de vista sobre alguns mitos relativos às redes sociais.
O autor Marshall McLuhan é o ponto de partida desta breve reflexão (throwback-aulas-de-Teorias-da-Comunicação). Na sua obra Understanding Media (1964), o pensador da comunicação surge com uma ideia inovadora: a de que os media são extensões do ser humano. Segundo o pressuposto, por exemplo, o computador é encarado como uma extensão do sistema nervoso central humano. O autor defende que as novas tecnologias — ou, se preferirem, as tais extensões do Homem — influenciam a acção dos indivíduos ao nível da esfera social. Com base nesta teoria de McLuhan, arrisco afirmar que as redes sociais são (apenas) mais uma extensão de nós mesmos.
Um outro preconceito que eu gostaria de desmistificar é o de que, embora pareça tratar-se de uma tendência exclusiva do século XXI, o conceito de redes sociais não é uma novidade. A verdade é que o ser humano, enquanto agente social, sempre viveu em redes sociais, ou, dito de uma maneira mais pomposa, em redes de sociabilidade. Os social media, esses sim característicos da era da web 2.0, são plataformas digitais que suportam a existência das redes sociais, isto é, redes de pessoas que partilham algo em comum. Daqui advém mais um erro comum. As pessoas utilizam os conceitos redes sociais e social media indiferenciadamente, como se da mesma coisa se tratasse. Errado!
Portanto, a ideia que diaboliza a existência dos social media como apocalipse da nossa era — dado encerrar os indivíduos em si mesmos, alheando-os de qualquer contacto interpessoal — é, no meu entender, vazia de sentido. Trata-se somente de uma nova maneira de nos relacionarmos uns com os outros, ou seja, apenas mais uma extensão daquilo que somos enquanto seres humanos.
Os social media possuem a característica única de facilitar e potencializar as redes (de sociabilidade) nas quais nos inserimos no nosso quotidiano. No mundo offline (digamos assim, embora eu não simpatize particularmente com os termos online e offline, na medida em que a nossa vida é apenas uma e uma só) desempenhamos diferentes papéis. Há quem defenda que no mundo real (seja lá o que isso é, sendo que aqui estou a referir-me ao âmbito offline), somos uma coisa e que no mundo virtual (online) somos outra. Qual é a anormalidade disso? Nós desempenhamos diferentes papéis ao longo da nossa vida. Veja-se, por exemplo, o LinkedIn e o Facebook. No primeiro vestimos o papel de profissional e no segundo o de amigo. Assim como o nosso comportamento varia consoante o contexto em que nos inserimos (não somos exactamente a mesma pessoa em casa e no trabalho), também nas redes sociais desempenhamos outro ou outros papéis. Mas, repito, somos apenas uma e uma só pessoa.
Resumindo numa breve frase as ideias principais deste artigo (embora muito mais haveria a dizer): as redes sociais sempre existiram e os social media são apenas mais uma extensão da nossa vivência enquanto seres humanos.
(Este artigo é escrito segundo o antigo Acordo Ortográfico.)
AUTORIA
Diz que é o cota da ESCS MAGAZINE. Testemunhou o nascimento do projeto, foi redator na Opinião e, hoje, imagine-se, é editor dessa mesma secção. Recuando no tempo... Diz que chegou à ESCS em 2002, para se licenciar, quatro anos mais tarde, em Audiovisual e Multimédia. Diz que trabalha há nove no Gabinete de Comunicação da ESCS – também é o cota lá do sítio. Diz que também por lá deu uma perninha como professor. Pelo caminho, colecionou duas pós-graduações: uma em Comunicação Audiovisual e Multimédia (2008) e outra em Relações Públicas Estratégicas (2012). Basicamente, vive (n)a ESCS. Por isso, assume-se orgulhosamente escsiano (até ser cota).