Assim o Sporting devia acabar
O Sporting é um clube sofredor. A seca de títulos notórios, sem querer tirar mérito a Taças de Portugal e Supertaças, tem causado, ao longo dos últimos anos, um clima de mau-estar e de certo desespero em torno da massa associativa, e esse desespero nem se deve tanto a essa seca: deve-se muito, também, ao Benfica ganhá-los ou disputá-los pelo Sporting. Em 2005, à boa moda leonina, a equipa desperdiçou a oportunidade única de ganhar o seu maior título de sempre (a Taça UEFA) no seu próprio estádio. Chorei bastante nesse dia, como adepto incondicional do meu clube, aos 7 anos. Mas à medida que fui crescendo e me fui habituando às piadas maior parte das vezes amigáveis de colegas e conhecidos benfiquistas e aos constantes momentos de palhaçada vividos dentro do clube que eu, os meus pais, e os meus avôs sempre apoiámos, a oscilação emocional provocada pelas peripécias do Sporting foi decrescendo ao ponto de passarem a ser, à luz desta mente infantil mas niilista e destrutiva, meros momentos dignos dos Gato Fedorento. Desde a porrada com Godinho Lopes, às contratações de lendas como Gerson Magrão, Onyewu, Naby Sarr, Angulo, entre outros, ao sétimo lugar em 2013, fui-me habituando a estas desgraças menores.
Quando Bruno de Carvalho subiu ao seu tão digno e merecido trono nesse mesmo ano, um gostozinho a esperança foi-se entranhando no meu palato, esfomeado por momentos dignos de regozijo por parte do clube do qual sou sócio desde os 3 meses. Leonardo Jardim trouxe a “mística” necessária (perdoem-me o cliché) para atacar um título, ao apostar em rapazes da academia. Também teve Naby Sarr pelo meio, mas há sempre males menores, não é, amiguinhos? Por seu lado, o presidente ia mandando umas postas de pescada bem valentes. Odeio pescada, e por isso, não me mostrei muito interessado. No entanto, parecia que o presidente ia desviando as atenções para ele: parecia proteger os jogadores de uma certa atenção indesejada, sacrificando-se em prol deles. Apesar da sua controversa e repreensível imagem pública, Bruno de Carvalho parecia no caminho certo para fazer do Sporting um verdadeiro grande do futebol português de novo. Qualquer semelhança com outras personagens de comédia não serão meras coincidências. Também parecia que este novo presidente ia tomar iniciativa em relação à violência no nosso futebol, como também minha crença no sucesso do Sporting com Bruno de Carvalho ao leme era genuína. Aliás, eu já tinha dito ao meu pai, na altura da eleição de Godinho, para votar no querido Bruninho. No Verão de 2014, Jardim sai para o Mónaco, e é substituído por Marco Silva, que continuou com o bom trabalho do madeirense. Os títulos não chegaram, mas se o Marquinho continuasse, seria apenas uma questão de tempo até que ganhasse o campeonato, e não seriam mais 15 anos, para quem se digne a poupar a piadinha, apesar de reconhecer o potencial. Mas o Bruninho já estava com os calores, e após o tal episódio do fato contra o Vizela, algo fez com que perdesse a paciência com o Marquinho, que também não é nenhum santo. O querido líder já não podia esperar muito mais pelo título. No meio do desespero, a comunicação do Sporting foi ganhando contornos cada vez mais cáusticos, e era sobretudo direcionada ao Benfica e aos seus aparentes atos ilícitos. Atualmente, há certamente algo a investigar a relação a isso, mas no meio de turbulência interna, o foco era atacar o “rival”, independentemente da veracidade das acusações. O travozinho começou a azedar.
A apresentação de Jorge Jesus como treinador do Sporting Clube de Portugal, no dia do 109º aniversário do clube, foi o momento mais espetacular da história do clube, desde o último campeonato ganho, em 2002. Podia dizer que já fomos campeões duas vezes durante a minha vida, mas se não tinha cabecinha para me lembrar e disfrutar à grande, não conta. De qualquer maneira, a vinda do Messias, do Boçe, big dog, el patrón, profeta foi a devida promessa de Kim Jong-Brun, que permanecia crente apenas nele mesmo e no seu cabelo atigelado. Duas figuras bíblicas juntavam forças contra o “estado lampiónico”, contra o perigo vermelho, no Verão escaldante de 2015. JJ foi o trunfo final no ataque ao título. Nada podia falhar. Naquela que foi a melhor época do Sporting desde que foi campeão, o Sporting estava bem encaminhado para quebrar esse jejum. Ganhámos na Luz 3-0, resultado que transitou do intervalo. Estava-se a jogar bom futebol. Vários jogadores despontaram, e nem todos necessariamente muito jovens: uns como Adrien e Slimani consolidaram o seu estatuto de jogadores de qualidade superior à da nossa liga, enquanto outros como Gelson e Rúben Semedo começaram a demonstrar o seu potencial. Dava algum orgulho ser sportinguista.
Mas não é época do Sporting sem que haja alguns desaires inesperados. Sim, Bryan Ruiz falha um cantado, gritado, berrado a um, contra o Benfica, num jogo que, em caso de vitória, colocava os meninos do Boçe na frente da tabela. Porém, à partida, os três pontos contra equipas como o União da Madeira e o Tondela devem estar garantidos. Há que preparar os jogos com o mesmo rigor e há que os jogar com o mesmo nível de intensidade, independentemente da qualidade do adversário. Esse último fator logo ditará se o plano resultou ou não. De qualquer maneira, equipas, treinadores e estruturas diretivas campeãs levam todos os adversários a sério, e não se deixam levar por regozijos e fracassos, quer sejam do próprio clube ou dos outros. Começou-se a perceber que a estrutura do Sporting, comandada por Bruno de Carvalho, não tinha mentalidade de campeã. Começou-se a perceber que o presidente do Sporting Clube de Portugal e os seus capangas não tinham estaleca. Apesar de tudo, o meu coração sussurrava-me para continuar a acreditar em tempos melhores: queria acreditar que o Sporting seria campeão neste ciclo. A vinda de jogadores como Bruno Fernandes, o melhor jogador que eu já vi de verde e branco para além do Zidane português, Pedro Barbosa, encheu-me de esperança e devolveu-me brio e brilho. A minha mente dizia-me algo diferente: se o Sporting não fosse campeão, estava tudo fodido.
Os acontecimentos do dia 15 de maio de 2018 são os mais tristes da história do Sporting. O episódio do very-light em 1996 foi uma tragédia. A derrota em Alvalade na final da Taça UEFA de 2005 foi uma desilusão. O sétimo lugar na época 2012/2013 foi o culminar de épocas de má gestão financeira e desportiva: por isso, era expectável. As agressões em Alcochete são incompreensíveis. Ditos 50 “adeptos” de um clube invadirem o supostamente bem protegido e isolado complexo de treinos da própria equipa para agredirem os jogadores, independentemente do nível de esforço demonstrado no passado domingo, é um ato de selvajaria por parte dos ignominiosos mongolóides salazarentos que levaram a cabo o ataque. É igualmente impressionante como é que entraram lá tão tranquilamente, tendo em conta que a Academia de Alcochete devia ter um nível de segurança alto o suficiente para que não entrem lá animais, visto aquilo ser uma zona de caça. Ambas as partes demonstram incomensurável burrice. Bruno de Carvalho, alguem tão apaixonado e um paladino tão honrado da verdade desportiva e do fim à violência no futebol, relativiza. “Amanhã é um novo dia; são coisas que acontecem”, diz. “Vai-se andando”, dizem as velhas. A cabeça e os tomates do homem estão espalhados pela Juventude Leonina. O senhor está demente. Já não é uma questão de demissão da presidência do clube: Bruno de Carvalho perdeu o juízo. Cinco anos de presidência foram demais. Aquilo que fez de bem já não pega. Já não há cá agradecimentos. O pior acontecimento da história do futebol português aconteceu com ele. Se tivessem sido os “cartilheiros”, como gosta tanto de ladrar, até espumava da boca. “Animais de merda deviam morrer no xadrez”, diria do seu trono, após descobrir a música do Halloween. Cadê Nuno Saraiva, já agora? Onde estão os aprendizes de papagaios?
Não há volta a dar. Acabou. Bruno de Carvalho tem de desaparecer da esfera mediática para sempre. O resto da trupe devia seguir-lhe o caminho. O paladino-mor da justiça no futebol engoliu tudo aquilo que disse em cinco anos de presidência. Alguém mentalmente são será o porta-voz das investigações contra a corrupção no futebol português, quer seja ao Sporting, ao Benfica, ao Porto, ou ao Gondomar. Continue-se a investigar os atos de alegada corrupção de todas as partes, e toda a gente é inocente até prova em contrário. Desejo muita sorte a Jorge Jesus, mas que faça boa viagem. Os jogadores que não fazem falta devem sair, dentro da normalidade. Que recuperem da cena. Investigue-se a Juventude Leonina e acabe-se com ela, se for necessário. Não se perderá muito sem uma máfia de “adeptos” que passam um jogo inteiro a berrar, uns de costas, outros gordos em tronco nú, outros sabe-se lá a fazer o quê. Ilegalizem-se todas as claques, se for realmente necessário.
À escumalha que levou a cabo o ataque, resta desejar aquilo que para toda a gente é o derradeiro castigo, para outros uma saída fácil, e para mim motivo de piada e necessidade extrema, até que me apareça de frente e me tire alguém que amo, tal como uma rapariga me devia tirar o coração para que eu deixe de escrever tais barbaridades: morram.