Desporto

Bayer Leverkusen continua a lutar contra a história

À 18.º Jornada, o Bayer Leverkusen lidera a Bundesliga sem derrotas e com quatro pontos de vantagem para o Bayern Munique, segundo classificado. As campanhas irrepreensíveis na Taça da Alemanha e na Liga Europa aumentam a expetativa em relação a uma equipa que começou a ser construída ainda na temporada passada.

Início de outubro de 2022. O 17.º lugar na Liga levou o diretor desportivo, Simon Rolfes, a trocar de treinador e a apostar num velho conhecido dos tempos de jogador: Xabi Alonso. Apesar de esta ser a estreia do antigo médio espanhol no comando técnico de uma equipa sénior, o seu modelo de jogo estava bem definido e surtiu efeito rapidamente. A troca para um sistema de três centrais foi imediata de forma a potenciar as qualidades do plantel que herdou, com destaque para Moussa Diaby que saiu para o Aston Villa no verão seguinte. O sexto lugar na Bundesliga e a chegada às meias-finais da Liga Europa apresentaram a versão treinador de Xabi Alonso à Alemanha, que, contudo, queria mais.

A ambição refletiu-se em contratações cirúrgicas de jogadores experientes que fossem um upgrade imediato em posições chave – Alejandro Grimaldo, Granit Xhaka e Jonas Hofmann. No verão chegou, também, Victor Boniface, que rapidamente se tornou no bombardeiro dos farmacêuticos, com 16 golos e nove assistências em 23 jogos. Contudo, uma lesão na virilha irá afastá-lo dos relvados até abril. Já no mercado de inverno, Borja Iglesias foi contratado para substituir o nigeriano.

Selecionadas as peças, era tempo de colocá-las no tabuleiro no sistema predileto 3x4x2x1 e começar a longa partida que é a Bundesliga. A filosofia de Alonso é clara e transporta-nos para os seus tempos de jogador: troca de bola intensa sempre com várias opções de passe, seja na fase de construção ou no momento da finalização, no meio ou nos corredores.

O impacto dos alas no caudal ofensivo da equipa é inegável, seja na esquerda com Grimaldo, ou na direita com Frimpong. Enquanto o espanhol recua numa primeira fase para fazer uma linha de quatro com os três centrais, o holandês atua quase sempre como um extremo, com menos responsabilidades defensivas. Além de o habitual pedido de largura, no sistema de jogo de Alonso os alas são convidados a aparecer em zonas de finalização, somando entre si 35 contribuições para golo, até ao momento.

Fonte: Sport

O duplo pivot composto por Granit Xhaka e Exequiel Palacios controla os ritmos no meio-campo. Depois de uma das melhores temporadas da carreira a jogar como médio interior mais avançado no terreno, o antigo capitão do Arsenal tem agora a missão de iniciar a construção. Quebrada a primeira linha de pressão adversária, Florian Wirtz, a estrela da companhia, recua para receber e funciona quase como um número 10.

Totalmente recuperado de uma rotura de ligamentos sofrida em 2022, o criativo de 20 anos tem explodido esta temporada, registando já oito golos e 11 assistências. A mobilidade do ataque composto habitualmente pelo jovem alemão, por Hofmann e por Boniface é um pesadelo para defesas adversárias, que muitas vezes têm de lidar com cinco ou seis homens de preto e vermelho na sua grande área.

Apesar da proposta atacante, a principal diferença entre 22/23 e 23/24 tem sido do ponto de vista defensivo. A presença de um duplo pivot mais seguro associada a uma subida de rendimento do trio de centrais e especialmente do guarda-redes Hradecky ajudam a explicar os 14 golos sofridos até ao momento na liga alemã.

Fonte: Marca

A profundidade do plantel às ordens de Xabi Alonso permite gerir as três frentes que tem até ao final de época, sem perder qualidade no onze inicial. Nathan Tella, Adli, Schick ou Hlozek são opções válidas, normalmente utilizadas a partir do banco de suplentes ou em partidas a contar para a Liga Europa. A capacidade de Xabi Alonso de potenciar os talentos ao seu dispor associada a uma maior experiência de alguns jogadores ao mais alto nível competitivo ajudam a explicar o fenómeno Bayer Leverkusen.

27 jogos sem perder refletem uma temporada praticamente perfeita, até agora, em que os farmacêuticos mantêm o sonho do triplete vivo, sempre com 2002 na memória. Em duas semanas, a equipa encabeçada pelo lendário Michael Ballack perdeu a Bundesliga na última jornada, a final da Taça da Alemanha e a final da Liga dos Campeões.

O “Neverkusen”, como ficou conhecido por vacilar nos momentos de decisão, conta agora com um plantel capaz de aguentar a pressão. Nas últimas duas jornadas fora de casa, contra Augsburg (0-1) e Leipzig (2-3), os comandados de Xabi Alonso chegaram à vitória nos últimos minutos por intermédio de Palacios e Hiancapé, respetivamente. Estrelinha ou Maturidade? Só os próximos meses o dirão, mas por agora, na BayArena domina o otimismo de que este ano será diferente.

Fonte da Capa: Getty Images

Artigo revisto por Irina Figueiredo

AUTORIA

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Desde miúdo que tinha duas paixões, a escrita e o desporto. Ao crescer percebi que combinar as duas áreas e tornar-me jornalista desportivo era o meu objetivo de vida. Gosto de dizer que fui criado por Pablo Aimar, Lionel Messi e Matías Fernández, dada a quantidade de horas que passei a vê–los distribuir classe e sonho pelos relvados. Tenho uma lista com duas páginas de estádios míticos que quero visitar e sim, a Bombonera está em primeiro lugar.