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Anatomia de uma queda encarnada

O Sporting disse mata, o Porto disse esfola e o Benfica sofreu mais derrotas num espaço de quatro dias do que nos últimos quatro meses. A falta de identidade da equipa de Roger Schmidt ficou patente nos Clássicos e fez soar os alarmes para o resto da temporada.

Quase nenhuma equipa consegue ser bem-sucedida devido apenas à qualidade individual dos seus jogadores. O Benfica, durante grande parte desta temporada, desafiou essa lógica. Já que os rasgos de Di María, Rafa ou Trubin foram decisivos para a equipa chegar a Alvalade numa sequência de 22 jogos sem perder. Os resultados muito mais positivos do que as exibições antecipavam foi um choque de realidade que chegou em tons de verde.

Sporting 2 Benfica 1: 20 minutos de jogo não chegam

Minuto 69. Se disséssemos que o remate de Aursnes para o fundo da baliza de Franco Israel era o primeiro lance do Benfica no jogo, ninguém ficaria surpreendido. A jogar com uma frente de ataque móvel com David Neres e Di María nas alas e Kökçü nas costas de Rafa, os encarnados não conseguiram replicar as dinâmicas da vitória frente ao Portimonense, três dias antes.

A incapacidade de sair em transições rápidas organizadas confinou a equipa de Roger Schmidt ao seu meio-campo durante a primeira parte quase toda, onde Di María, sem bola, fechava o corredor direito. A falta de rotinas defensivas do argentino fez-se notar no primeiro golo leonino em que Pote aparece completamente sozinho ao segundo poste para faturar.

Fonte: Site do SL Benfica

Todas as fragilidades defensivas que os jogos contra equipas com menor caudal ofensivo tinham denunciado foram postas a nu no segundo golo do Sporting. Geny Catamo lançou Gyokeres na profundidade, habitat natural do sueco, que deixou Otamendi a repensar nas suas escolhas de vida, antes de alargar a vantagem. Para o argentino, esta foi apenas a parte um de um final de semana desastroso.

A reação encarnada nos últimos minutos da partida é o exemplo de uma época: uma pincelada de classe de Ángel Di María para salvar mais uma partida cinzenta. Desta vez, a intervenção do VAR evitou que o argentino voltasse a ser decisivo, bem como, dez minutos depois evitou que o Benfica fosse para o jogo da segunda mão com dois golos de desvantagem.

Mais do que a primeira derrota desde novembro, o fracasso em Alvalade parece ter marcado o fim da experiência do ataque móvel, que resultou apenas uma vez em toda a temporada. Seguia-se a partida no Dragão. 

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 Para a partida da jornada 24 da Liga Portuguesa, Roger Schmidt colocou Casper Tengsted na frente de ataque e Kökçü a fechar a ala esquerda que era defendida lá atrás por Morato. Por estas três posições passou muito a hecatombe encarnada na Invicta.

Comecemos pela exibição de Morato, a fazer lembrar David Luiz em 2011, num clássico com o mesmo resultado. Tal como para o seu compatriota, a lateral esquerda é para si um território traiçoeiro, ainda para mais quando tem pela frente um dos jogadores mais desequilibradores do campeonato. Morato não tem culpa de não ter agilidade para acompanhar Chico Conceição, que aproveitou o espaço concedido para participar no segundo golo portista, apontado por Galeno, que já tinha inaugurado o marcador.

Fonte: X

A responsabilidade do desnorte do lateral adaptado é a mesma de quem, em sete meses, colocou Kökçü a jogar na sua posição de origem apenas uma vez. Roger Schmidt é, semana após semana, traído pelas suas convicções e pela resistência em trocar para um sistema mais adequado às características dos seus jogadores.

Mesmo com o plantel mais caro do país à sua disposição, o alemão não abdica do seu núcleo duro e dificulta a integração no onze inicial dos reforços de inverno: Álvaro Carreras e Marcos Leonardo. O avançado brasileiro, que já leva quatro golos em 149 minutos de competição, não somou qualquer minuto nos dois clássicos. Esta situação somada à de Arthur Cabral, que saiu do onze depois de estar finalmente entrosado com a equipa e a contribuir com golos, aumenta a desconfiança em relação às decisões do treinador.

No Dragão, o alemão ainda colocou Florentino e Carreras ao intervalo, mas foi o Porto a alargar a vantagem, logo nos primeiros dez minutos, por Wendell. A expulsão de Otamendi aos 60 minutos confirmou o descalabro e o desnorte de uma equipa que se limitava a tentar minimizar os estragos de uma derrota humilhante. Pêpê e Namaso não estavam para aí virados e completaram a manita portista, que diminuiu a desvantagem para o rival para seis pontos.

O Benfica começa março no segundo lugar do campeonato, em desvantagem na Taça de Portugal e com os escoceses no horizonte na Liga Europa. Tal como no resto da temporada, os resultados não traduzem a dureza da realidade de uma equipa que está a passar por uma crise de identidade. Resta perceber se algo drástico será feito até maio para tentar resolver esse problema.

Fonte da Capa: Site do SL Benfica

Artigo revisto por Marta Sousa Mendes

AUTORIA

Desde miúdo que tinha duas paixões, a escrita e o desporto. Ao crescer percebi que combinar as duas áreas e tornar-me jornalista desportivo era o meu objetivo de vida. Gosto de dizer que fui criado por Pablo Aimar, Lionel Messi e Matías Fernández, dada a quantidade de horas que passei a vê–los distribuir classe e sonho pelos relvados. Tenho uma lista com duas páginas de estádios míticos que quero visitar e sim, a Bombonera está em primeiro lugar.