Desporto

Campeão sem título

Em 2011, Derrick Rose estava a caminho de uma lendária carreira na NBA. Tornou-se o MVP mais novo de sempre ao serviço da equipa da sua cidade – a mesma equipa que foi representada pelo melhor jogador de sempre.

Carregou a equipa às costas, levando-a a conseguir o melhor registo da época regular (62-20). Ao mesmo tempo, o seu estilo eletrizante, baseado na sua incrível capacidade atlética, a agressividade a atacar o cesto e a capacidade marcadora fizeram dele um dos mais acarinhados jogadores por parte do público, independentemente de que equipa estes apoiassem.

D-Rose tornou-se a nova superestrela mundial: por todo o mundo, milhões de miúdos envergavam a sua camisola e tentavam imitá-lo no court, à medida daquilo que conseguiam fazer com a bola, quão rápido a levavam e de quão alto saltavam.

Seis anos depois, o base estava com pé e meio fora da liga. Há cerca de um ano, precisamente no mês de Novembro de 2017, Rose tirou umas semanas de folga dos Cavaliers para avaliar o seu futuro, após algumas pequenas lesões. Obviamente, houve quem exagerasse e dissesse que era o fim da carreira do jogador.

Derrick foi visto a treinar sozinho em courts de Cleveland para se manter ativo: aí treinava sem o constrangimento de ter de viajar com a equipa. Após um mês de recuperação física e mental, regressou a 18 de Janeiro numa vitória suada frente aos Magic. Três semanas depois, foi usado como peça na troca com os Jazz, juntamente com Jae Crowder. Dois dias depois, foi dispensado. Agora, os exageros seriam menos descabidos: a carreira de Derrick Rose podia ter acabado naquele momento, se assim entendesse o próprio.

Depois da época de sonho em 2010-2011, a carreira e vida de Derrick Rose tornaram-se num calvário: a 28 de Abril de 2012, rompeu o ligamento anterior do seu joelho esquerdo no primeiro jogo da primeira ronda dos playoffs frente aos Sixers, num momento partilhado por toda a Internet. Nem três semanas depois do seu regresso, a 22 de Novembro de 2013, Rose saiu a coxear no terceiro período do embate frente aos Blazers, e saiu da arena a utilizar canadianas. Uma entorse no menisco direito significava mais um ano de paragem. A 24 de Fevereiro de 2015, voltou a torcer o menisco e teria de ser operado. Acabou a época e regressaria apenas em Novembro desse mesmo ano.

Apenas alguém de tremendo caráter conseguiria, passado tantos infortúnios, ter a motivação necessária para tentar atingir um nível de excelência.

Derrick Rose acreditou sempre no seu talento. Em Nova Iorque, fez uma época muito respeitável, ao nível de um base titular, com quase 20 pontos por jogo. A sua lesão quase no final da época talvez o tenha desmotivado um pouco, mas foi recompensado pelos Cavaliers, que lhe proporcionaram uma oportunidade de lutar por um título. No entanto, foi injustiçado por um início de época fraco e pelo ambiente tóxico no balneário, que para um jogador low-key como Rose não ajudou em nada.

Os Jazz poderiam ter beneficiado com Rose, considerando a situação atual da equipa, que necessita de outro marcador à volta dos 20 pontos, consistente e que consiga criar para os colegas, sem que seja sempre Mitchell. O destino quis que se juntasse aos Timberbulls de Thibodeau, o seu encantador: o seu treinador de sempre deu-lhe a oportunidade de que necessitava. A novela de Jimmy Butler foi o combustível necessário.

Eu não estava a ver o jogo contra Utah. Estava pronto para ir para a cama. Abri o fórum/”sub” da NBA no Reddit para ver se existia alguma novidade e vi que já ia nos 35 pontos o amigo Derrick. Tinha de ver com os meus próprios olhos e valeu a pena.

Foi de longe dos momentos mais maravilhosos que pude experienciar não só como fã de basquetebol, não só como fã de desporto, mas como ser humano: foi tão maravilhoso como os 50 de Isaiah Thomas o ano passado nos playoffs, em que mal um dia tinha passado desde a morte da irmã.

Foi um momento de superação, o clímax de uma luta de anos entre um homem e o seu próprio corpo.

Derrick Rose pode não ser o mesmo atleta de há 7 anos, mas é claramente melhor jogador. Os seus lançamentos exteriores estão em máximos de carreira, tanto em eficiência, como em volume; continua a ser um excelente finalizador junto ao cesto, beneficiando não só (e ainda) da sua velocidade e do seu controlo corporal, que não desapareceram, mas também de uma melhor capacidade de decisão e da sua experiência.

Provavelmente, não veremos mais performances de 50 pontos de Rose. Os seus números provavelmente baixarão um pouco. Mas se continuar assim, Derrick Rose poderá ser all-star de novo. Mesmo se não for, a performance do início do mês em Salt Lake City foi, provavelmente, o melhor momento da época.

Corrigido por: Ana Margarida