Capitão Fausto: Fazer música até o último dia estar contado
Com um novo álbum, Capitão Fausto Têm os Dias Contados, editado no passado dia 15 de abril, os Capitão Fausto vieram até à Escola Superior de Comunicação Social para falarem com a tua Magazine sobre este trabalho.
Com os concertos na Casa da Música e no Lux, com uma das datas já esgotada (não sei se a outra está prestes a esgotar [viria a esgotar])…
Tomás: Está já bem encaminhada.
Francisco: Mais de metade está cheio.
Como foi ver que o público reagiu tão bem ao regresso dos Capitão Fausto e que esgotaram uma data antes de lançarem o álbum?
Tomás: É muito agradável, mete um sorriso na cara. É fixe.
Francisco: Ainda ontem tivemos uma experiência, porque é bom saber que estão a ser vendidos os bilhetes e que estão a gostar do disco, mas notamos mais isso na pele quando vamos tocar ao vivo e vemos as pessoas lá e a cara delas ou o modo como estão a reagir às músicas. Isto ainda só aconteceu na Casa da Música, na semana passada [15 de abril], e foi fixe; foi curioso ver a diferença entre como as pessoas se divertem nas músicas antigas e as novas, mas tudo positivo.
A maioria das reviews aponta para que este álbum seja o vosso melhor. Quando estão a criar novos sons, novas músicas, pensam sempre em superar-se a vós próprios ou sentem que não devem nada a ninguém e fazem o som de que gostam mais?
Tomás: Acho que à partida… Não é que não devamos nada a ninguém mas estamos a tentar ficar satisfeitos com nós próprios. No entanto, acho que seria mau sinal se não achássemos que estamos a fazer uma coisa com a qual estamos mais entusiasmados do que com a anterior; ou seja, é normal que eu agora esteja mais entusiasmado com este disco do que com o anterior, mas na altura em que saiu o anterior também estava mais entusiasmado do que com o seu antecessor.
Francisco: É isso mesmo, aliás a tua pergunta… acho que consegues… são dois percursos diferentes que vão dar ao mesmo caminho. A coisa de nos tentarmos superar a nós próprios e ao mesmo tempo cagarmos para tudo e concentrarmo-nos só no que nos põe mais felizes vai dar ao mesmo caminho, que consiste em fazermos a coisa com que nós estamos mais entusiasmados agora.
As vossas letras estão mais confessionais, mais adultas, e até em ‘Alvalade Chama Por Mim’ dizem ‘nunca esquecer que a mocidade pra nós chegou ao fim’. Esta é uma fase mais madura do que a do ‘Pesar o Sol’?
Tomás: É, já passaram alguns anos, portanto é natural…
Francisco: A próxima fase também vai ser mais madura porque vai passar outro tempo.
Amanhã Tou Melhor foi o single de apresentação do novo disco.
Já pensaram na internacionalização da banda, em explorar outros mercados e outras línguas e sons? Ou acham que as vossas letras em português, para o público português, são um dos vossos pontos fortes, e que o mercado nacional ainda tem muito por onde explorar?
Tomás: Acho que é um bocadinho dos dois. Nós gostamos do mercado nacional porque foi onde nascemos e temos muito amor por este sítio; e acho que também não exclui a hipótese de haver pessoas que não percebem a língua e que gostam da música, portanto é fazível, parece-me.
Francisco: A internacionalização não devia ser sinónimo de nós mudarmos o nosso som ou a língua em que cantamos. É só um passo administrativo. É só decidir se queremos investir dinheiro, porque é preciso dinheiro e não sei quê, e se queremos investir dinheiro em ir tocar lá fora – e nós queremos tocar o máximo possível… Mas temos noção, temos consciência – não queremos ser cegos – de que a língua é de facto uma barreira e não a vamos mudar só porque é uma barreira. Mas o facto de ser uma barreira faz com que não surjam tantas oportunidades, e como não surgem tantas oportunidades precisamos de dedicar mais tempo e de investimento para planear essa internacionalização. É um plano, mas não é um plano imediato.
Inspiraram-se em alguma banda enquanto gravavam este álbum? O que é que tem estado ultimamente nas vossas playlists?
Francisco: Tem estado muito…
Tomás: Todd Rundgren.
Francisco: Ya, Rundgren é fixe… Tobias Jesso Jr, Neil Young, mas também está mais ou menos sempre, umas alturas um mais do que o outro. Não sei, epá, ainda há bocado estivemos a fazer isso e a olhar para o iPod e a ver… Mas, se olhares para um iPod, olhas para coisas muito estranhas.
Tomás: Apesar de tudo, nem toda a música que nós ouvimos vem contaminar a… Quer dizer, todas são influências, umas por nós nos parecermos mais com elas e outras por nós nos parecermos menos.
Mas há alguma influência mais direta no álbum?
Francisco: Não… Acho que o que houve mais foi influência na nossa maneira de viver e no nosso dia a dia e isso influencia tanto; e às vezes mais do que as músicas que ouvimos. Muitas vezes, as músicas e discos que ouvimos são uma grande influência para a estética, para o som e para partes mais técnicas do que é gravar uma música. Mas, no que diz respeito à mensagem que queremos transmitir e ao ambiente geral das músicas e canções, isso vem muito do nosso dia a dia e da vida que levamos. E a vida que levamos hoje em dia resulta muito nessas canções.
O vídeo de Morro na Praia foi lançado também a 15 de abril.
Há algum artista ou alguma banda com que gostariam de colaborar para gravar uns sons?
Francisco: Muitos.
Tomás: Há muitos, mas para já nenhum. [risos]
Nem nacional, nem internacional?
Tomás: Acho que, para já, estamos bem. Acabámos de gravar, agora não queremos gravar mais nada.
Francisco: Só queremos é tocar ao vivo.
Muitos artistas têm o sonho de, por exemplo, esgotar uma grande arena, ganhar prémios… Qual é o sonho dos Capitão Fausto? Ou já se sentem realizados?
Francisco: Hm, acho que o sonho máximo não são as arenas; é poder continuar a tocar e não termos de nos preocupar com mais nada. Tocar e gravar e não ter mais nenhum stress na vida…
Até terem os dias contados?
[risos]
Francisco: Isso já temos! Até o último dia estar contado, não termos de nos preocupar com nada, a não ser fazer música. Isso é o sonho máximo.