Artes Visuais e Performativas

Cárin Geada ilumina os “esquecidos” do teatro

A designer de luz Cárin Geada é a vencedora da terceira edição do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II de 2021.

Após dois adiamentos, no dia 12 de outubro o lustre da Sala Garrett voltou finalmente a descer e, desta vez, a lágrima de cristal foi para uma artista “invisível”, com posto comum nos bastidores dos espetáculos.

O teatro D. Maria II e o grupo Ageas Portugal aliaram-se para criar esta homenagem à cultura portuguesa – de reconhecimento e promoção de jovens artistas, de todas as áreas da criação teatral. O prémio, com valor pecuniário de cinco mil euros, é atribuído anualmente a um profissional de teatro que tenha até 30 anos de idade e cujo trabalho artístico se tenha destacado, de alguma forma. A distinção é feita pelo júri, composto, neste momento, por 16 profissionais representativos de várias áreas do meio artístico e cultural português. 

Ao contrário da tendência que se verificou nas duas primeiras edições – com os vencedores Sara Barros Leitão e Mário Coelho – este prémio não se destina apenas a atores e encenadores. Nesta terceira edição, Cárin ilumina os bastidores, mostrando que não é só no palco que se faz teatro. 

A vencedora nasceu em Lamego, em 1991,  formou-se em luz e som pela Academia Contemporânea do Espetáculo e em produção e cenografia pela ESMAE, no Porto.  

Em entrevista à ESCS Magazine, a artista revela que o papel do design de luz na criação teatral é muito maior do que aquilo que se pode pensar à primeira vista. “A luz é tudo. Tem de acompanhar o espetáculo inteiro, com mudanças constantes.” Refere que  a maioria dos espetadores pode nem se aperceber de como o desenho de luz modifica um espetáculo, por não ser algo mencionável. 

A homenagem não era esperada. “Foi uma grande surpresa. Fico muito feliz por dar mais visibilidade aos meus colegas. (O prémio) é bastante importante porque ajuda a mostrar que existe mais para além da encenação e da dramatização.” Cárin Geada afirma ainda que a distinção a faz encarar o seu trabalho de forma diferente. “Se calhar, levo-me mais a sério”, afirma.

Revela, ainda, que o valor pecuniário do prémio ainda não tem um destino inteiramente definido, mas que pelo menos uma parte será utilizada para aprofundar os seus estudos na área: “vou continuar a estudar iluminação, para aprofundar, para me dar mais algumas bases. Acho que é sempre bom manter um refresh. Se não, ficamos muito formatados.”

Se há algo que Cárin Geada não é, é uma artista formatada. “Todos os trabalhos que já fiz apresentam algum tipo de desafio diferente.”, conta a designer. Já desenhou a luz de diversos espetáculos, tanto de talentos emergentes como de nomes já afirmados no mundo do teatro. Tais como: Última Hora de Rui Cardoso Martins e Gonçalo Amorim e Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa de Sara Barros Leitão. Trabalhou ainda na direção técnica de importantes festivais de teatro em Portugal, como o Alkantara Festival, o Interferências e o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. É no centro do palco e não no backstage que Cárin recebe o prémio que honra a relevância da sua área. A luz que paira sobre ela promete chegar a muitos outros jovens artistas.

Monólogos de uma mulher chamada Maria com a sua patroa
Fonte: Município Paredes de Coura
Teatro Nacional D. Maria II – Última Hora
Fonte: Filipe Ferreira

Fonte da capa: Francisco Romão Pereira / Time Out

Artigo revisto por Andreia Batista

AUTORIA

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Uma vida sem arte e literatura seria impensável para Catarina. A aspirante a jornalista vê na ESCS Magazine a oportunidade perfeita para ouvir novas histórias e conhecer diferentes perspetivas. É sonhadora por natureza, mente aberta por convicção, e encontra-se atualmente a fazer de tudo para não acabar num trabalho de escritório.