CD e Vinil: Uma morte anunciada que nunca aconteceu
Há umas semanas fui à Fnac e dei por mim a fazer a melhor compra dos últimos tempos: dois álbuns, cada um deles com três CDs no interior e um total de 120 músicas, por apenas 12 euros. O que para algumas pessoas é uma memória longínqua e pode até já não fazer sentido, para mim é algo bastante recorrente e do qual não abdico.
“Mas quem é que ainda compra CDs?” É das frases que mais ouço quando mostro a alguém a minha coleção sagrada de discos, que guardo cuidadosamente no porta-luvas do carro. Jamiroquai, Linda Martini ou Seu Jorge – uma panóplia de estilos musicais que nada têm em comum mas que me acompanham nas minhas viagens. Para alguém que ainda nasceu nos anos 90, há certos momentos do passado que devem ser preservados no presente.
Os tempos mudam, e, da mesma forma que o aparecimento do CD levou ao fim da era gloriosa das cassetes e dos vinis, quando o streaming surgiu e plataformas como o iTunes ou Spotify tomaram conta do nosso quotidiano, a grande maioria das pessoas deixou de comprar CDs e o físico deu lugar ao digital. A própria evolução da tecnologia já não permite que se ouça música da mesma forma que fazíamos na década de 2000: os leitores de CDs dos carros foram substituídos por computadores de bordo sofisticados e o rádio que tínhamos religiosamente em cima da secretária deu lugar ao MP4, ao iPod e, mais recentemente, ao smartphone.
A sociedade em que vivemos tem uma constante necessidade de se reinventar mas ao mesmo tempo procura recuperar do passado aquilo a que no presente chamamos de vintage e que acaba, ironicamente, por se tornar moda outra vez. O que ontem estava outdated hoje é a new thing e apesar da venda de CDs apresentar valores negativos e já quase não justificar a sua produção (com muita pena minha), em oposição a esta tendência e de forma inesperada, o Vinil tem vindo a ganhar cada vez mais fãs. Os culpados deste sucesso? A Gen-Z e os Millennials.
Quem diria que as duas gerações que mais consomem música e que exigem poder fazê-lo em qualquer lugar se iriam render aos encantos de uma caixa com um prato e uma agulha.
São cada vez mais os artistas que decidem incorporar no lançamento dos seus álbuns versões em vinil, sem se limitarem apenas às típicas plataformas digitais. Harry Styles, Taylor Swift, Kendrick Lamar ou Tyler, The Creator são alguns nomes do mundo da música que vêem no vinil uma forma de imortalizar e dar credibilidade à sua arte. Indiscutivelmente, a qualidade do som proveniente de um vinil em nada se compara com a qualidade do digital e essa é uma das razões que tem atraído cada vez mais pessoas a investirem nesta “antiga nova forma” de ouvir música. No entanto, a ideia de nostalgia e de prestígio em redor do que é antigo e o sentimento de pertença a uma comunidade mais culta musicalmente acaba também por ser um fator de peso.
Apesar do fanatismo pelo Vinil ter vindo a crescer nos últimos tempos e se prever que essa tendência se mantenha no futuro, ainda é algo visto como um hobby de colecionadores e, por isso, os preços praticados são bastante elevados tanto para os gira-discos como para os próprios álbuns. As exigências das novas tecnologias obrigaram os gira-discos a disponibilizar novas funcionalidades – bluetooth ou entradas USB – algo que não existia nas primeiras versões. Também o seu design foi sendo alterado ao longo dos anos. Agora os gira-discos são desenhados para se difundirem com a decoração em seu redor e se parecerem com peças dignas de serem expostas num museu, mas com um carácter funcional.
Para quem, como eu, não resiste em ter nas mãos ou na sua coleção um bom álbum em CD ou Vinil, ficam algumas recomendações das melhores lojas de discos em Lisboa:
- Louie Louie – Baixa de Lisboa
- Carbono – Perto da Avenida da Liberdade
- Collect – Cais do Sodré
- Chasing Rabbits – Cais do Sodré
- Sound Club Vinyl Store – Espaço Chiado
Fonte da capa: Justin Katigbak
Artigo revisto por Marta Nobre
AUTORIA
A Mariana Jerónimo tem 24 anos é aluna do Mestrado em Jornalismo e tem o sonho de produzir e apresentar um programa dedicado à música numa rádio de renome do nosso país. Enquanto isso não acontece, é através da secção de Música que quer dar a conhecer aos leitores o que de melhor há na vida: a Música. Ao mesmo tempo na secção de Desporto escreve sobre outra das suas paixões, a Fórmula 1. A Mariana costuma dizer que as suas maiores qualidades são o seu sentido de humor e o gosto musical: desde o Hip-Hop e R&B, ao Indie, passando pelos Clássicos do Rock e sem esquecer o MPB, ela é o Spotify em pessoa.