Celebrar a Ciência por entre Livros
Hoje, dia 24 de novembro, celebra-se o Dia Mundial da Ciência e até na secção de literatura gostamos de festejar estes dias com o maior estilo possível!
Como a ciência pode ser vivida e experienciada através das mais diversas formas, decidimos apresentar quatro obras de ficção científica para aguçar o apetite e festejar este dia científico por entre livros.
Frankenstein, Mary Shelley
Fazemos a pergunta atualmente: desde quando é que podemos considerar ficção científica as obras de ficção científica,? Talvez tenhamos de recuar bem mais do que o que estávamos a contar, mas Frankenstein, de Mary Shelley, está referenciada como a primeira obra de ficção científica.
Obra esta que aborda um jovem médico, totalmente apaixonado pelas ciências, que está determinado a mudar a humanidade, criando vida sem usar os métodos mais convencionais. O Dr. Frankenstein (sim – não é a criatura -, é o médico) consegue fazê-lo e a sua criatura, feita de remendos de outros corpos, ganha vida. Digamos que é uma réplica assim estranha do ser humano.
Graças à sua estranheza, a criatura é deixada sozinha no mundo que não está de todo preparado para a sua natureza. Assim, o nosso monstro, ao ver que não é aceite pelos humanos, pretende vingar-se do Dr. Frankenstein, devido ao abandono.
A ficção científica, neste caso, está presente nos meios que o jovem médico utilizou para dar vida à nossa criatura. Shelley mostra que toda a sua reanimação é esclarecida cientificamente, mas a abordagem da criação não é algo normal (é algo criado de uma forma diferente) – é como se fosse “anticientífico”. Já a aprendizagem comunicacional e a sua inteligência advêm das leituras feitas de obras clássicas.
Mary Shelley mostra em Frankenstein, que a energia elétrica é como uma ideia mítica, porque não podemos esquecer que a eletricidade ainda não estava muito desenvolvida.
Brave New World, Aldous Huxley
Esta obra, publicada no início dos anos 30, leva-nos a uma altura em que a própria sociedade estava muito abalada depois da loucura que foram os anos 20 (nós também não podemos falar muito com o início da nossa década), que aconteceu por causa do crash da bolsa de valores no início dos anos 30.
A distopia criada por Huxley, ao contrário de uma utopia, faz-nos entrar numa história e num cenário todo ele criado para que se demonstre uma sociedade, na qual não se quisesse viver.
Existe um questionamento da divisão da novidade e daquilo que era familiar. Em contextos europeus, a indústria em série ainda está para chegar, mas ainda existe alguma contestação. A história vem no seguimento do perigo da automação do Homem, levando à ausência dos sentimentos.
Dito isto, a ficção científica presente neste livro encontra-se através dos avanços na biotécnica, contudo, isto associado aos dados já conhecidos pelo menos no contexto americano.
Brave New World é uma sociedade aparentemente contente e confortável. Os requisitos para uma vida feliz estão todos lá, porém, não há felicidade, porque não existe liberdade de pensamento e de sentimento.
A obra de Huxley tem um regime ditatorial rodeado por uma aura satisfatória artificial, devido à alienação das vontades e do condicionamento.
2001: Odisseia no Espaço, Arthur C. Clarke
A ficção científica tem um olhar unicamente virado para o futuro de algo que não aconteceu daquela forma, acabando por formular várias hipóteses. Os autores querem ir mais longe do quadro conhecido. Contudo, existe o modelo de não ter informação – é apenas ter um gosto pelo próprio mundo e isso leva-nos a 2001: Odisseia no Espaço.
Arthur C. Clarke mostra que isto não é apenas uma aventura no espaço. Como foi dito, é ter um gosto pelo próprio mundo e o autor leva-nos a uma reflexão sobre o nosso lugar no Universo, mesmo quando começamos a abordar temas como o despertar da inteligência humana.
Para além deste livro, o autor também conta com 2010: Segunda Odisseia cuja ocorrência é nove anos depois do enredo deste nosso livro em destaque. Em referência a isso, a segunda metade de 2001: Odisseia no Espaço acontece em Saturno com Monólito na superfície da lua Saturniana. Neste segundo livro temos a continuação que coloca Monólito e a descoberta em órbita entre Júpiter e a lua Io.
A ficção científica tem aquele mistério de quase conseguir ver o futuro. É o escrever sobre um tempo distante e conseguir manter o tema atual. É um ver mais além, mas manter a coesão e a coerência daquilo que se lê e se fala no dito presente.
1984, George Orwell
Nesta obra distópica tem-se uma visão desencantada da sociedade, quase como um fim de linha para encontrar uma solução.
A obra mostra uma sociedade onde ninguém quer viver, na qual contém todas as características negativas, mas é uma obra de ficção científica. É uma obra de 1948 muito dominada pelo início da Guerra Fria e pelos preliminares da construção do Muro de Berlim. Notava-se que o mundo se dividia em dois blocos e tínhamos os EUA e a União Soviética como as grandes potências desta época. Dito isto, a obra por si já foi escrita num contexto de guerra.
George Orwell mostra uma vontade de lutar por ideais de igualdade social, mas sempre de uma forma deslocada. Vê-se uma grande desavença e uma grande crítica aos regimes totalitários.
Neste livro, toda a comunidade é controlada por um Big Brother (um bocadinho diferente do nosso Reality Show), que é um dos grandes paradoxos da obra. Estamos sempre a ser observados, havendo uma grande quebra da privacidade, no entanto, existe aquela ideia de se ser observado para que haja uma dita proteção.
Esta inovação é o grande elemento da ficção científica no livro de Orwell. Os quartos têm sempre um ecrã ligado que está sempre a vigiá-los, que transmite e capta tudo aquilo que vê e ouve.
Para além do Big Brother, também contamos com um aparelho de tortura tecnologicamente avançado, devido à quebra do indivíduo através da sua anulação e através do temor e da piedade.
Qualquer extremismo que oprime o individualismo acaba por tirar ao Homem aquilo que o opõe a ser efetivamente humano. Neste caso, a importância da ciência e da tecnologia pode ser um molde para todos os cidadãos sem qualquer tipo de divergência.
Celebramos o Dia Mundial da Ciência e aqui estão as nossas escolhas para podermos abraçar de uma outra forma a ciência, porque esta não precisa de ser complicada para se gostar dela.
Porque ela não aparece sempre em fórmulas. A ciência também pode estar na ficção, fazer-nos imaginar e ver o futuro daquilo que poderá ser em breve o nosso presente.
Feliz Dia Mundial da Ciência!
Fonte de Imagem de Capa: Conhecimento Científico
Artigo revisto por Inês Paraíba
AUTORIA
Nascida, ao mesmo tempo que alguém igualzinho a ela, em julho de 1998. Veio de Cultura e Comunicação e está no segundo ano de Mestrado em Jornalismo. O seu grande amor são os livros, tanto que ouvir audiobooks, quando está a trabalhar para manter o foco e sanidade, é o seu guilty pleasure. Diz sempre que “é só mais um capítulo”, mas sabe que é mentira. É aquela que gosta de ananás na pizza.