Opinião

First world problems e uma sociedade consumista

Inicialmente, pensei em escrever um artigo repleto de dados assustadores que pudessem retratar o atual flagelo da economia portuguesa ou de frases motivacionais que mudassem a perspetiva de algumas pessoas face aos seus first world problems. A verdade é que me apercebi, após um curto período de reflexão, de que o tema “economia” não é, definitivamente, o meu forte e de que também não sei ser agradável o suficiente para proferir palavras acolhedoras em momentos de stress

Posto isto, penso que seja melhor resumir-me ao ser pequenina como sou e afundar-me nos problemas e angústias que me tiram o sono à noite. Sim, porque isto de andar a juntar dinheiro para comprar um telemóvel e depois cair, todos os dias, na tentação de ir almoçar fora traz-me demasiadas preocupações à cabeça e ao bolso. 

Estudos revelam que, no mês de dezembro de 2019, os portugueses gastaram oito mil milhões de euros em compras, mais 500 milhões de euros do que em igual período no ano de 2018. Perante estes dados, não sei se fico feliz por não pertencer à elite consumista do nosso país e não contribuir para um consumo exagerado de produtos de que não necessito ou se fico triste porque a razão pela qual não o faço é pelo simples facto de não ter uma conta recheada que me permita também fazer as minhas compras de Natal. 

Em contrapartida, este ano, no auge do confinamento, os portugueses deixaram, em média, mais de 20% do seu rendimento por gastar, colocando a taxa de poupança no valor mais alto desde o ano de 1999. Ora, face ao que disse anteriormente, parece-me agora que isto seja um ponto positivo, certo? Pois, pelos vistos, também não é, porque, neste momento, aquilo de que o país precisa é que os portugueses gastem dinheiro e contribuam para a economia. Ou seja, se há um ano se “julgava” o dinheiro que a população gastava em produtos de que não precisava, hoje apela-se à mesma que o gaste, se não vai tudo à falência. Confuso, não é? 

Bem, como eu já tinha referido, ando a juntar dinheiro para um telemóvel, porque, nas minhas mãos, nenhum dura muito tempo. Infelizmente, face ao período de crise que agora vivemos, percebi que não podia pedir um no Natal – como vejo toda a gente fazer – e tive de pensar numa solução para o conseguir comprar. Como já tenho poucas coisas para fazer no meu dia a dia, decidi ser consultora de beleza (de uma marca que não vou dizer o nome, porque não me paga suficientemente bem para isso) e tentar que a minha família contribuísse de alguma forma, acabando por me dar o dinheiro de que eu precisava sem que eu o tivesse de pedir. O golpe do baú, não é? Afinal, percebo um pouco de negócios. 

No entanto, quando comecei a pensar nesta bela atividade que “criei”, apercebi-me de que eu própria estava a cooperar com aquilo que criticava há pouco: a compra de produtos que não são necessários. Não posso dizer que esteja a colaborar com uma sociedade consumista, até porque a palavra “consumismo” significa, de acordo com o dicionário Priberam, “hábito ou ação de consumir muito, em geral sem necessidade”. Ora, no meu mini-negócio ninguém compra nada em excesso (quem me dera), portanto, posso ficar descansada relativamente a este assunto. Todavia, a verdade é que, num período crítico como este em que vivemos, eu nem sequer estou a ajudar a economia do país. 

Para ser sincera, pouco me importa se tenho ou não o meu telemóvel. Há problemas maiores do que os meus. No entanto, os pequenos problemas também contam. Lembram-se de quando a Kim Kardashian perdeu os brincos na piscina? Coitada. E se eu agora conseguisse encontrar os brincos dela e os vendesse? Já podia comprar um telemóvel. Quer dizer, um não. Dez! 

Apesar do facto de o meu pensamento consumista parecer algo fútil, todos nós precisamos de o ter neste momento. Não, não é necessário gastar oito mil milhões de euros em compras de Natal. Isso é ridículo e tipicamente português. Mas é imperativo contribuir para o reerguer do país, para manter os postos de trabalho ou para ajudar o dono da loja da tua rua. Agora, mais do que nunca, é essencial que se ajude os pequenos negócios e que se compre com consciência. A pandemia há-de morrer, mas a nossa economia não pode ir com ela.

Artigo revisto por Ana Janeiro 

AUTORIA

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Com quase duas décadas de vida, aqui vos apresento a rapariga mais extrovertida que possam vir a conhecer. Nascida e criada na margem sul, sítio onde são feitos os sonhos, garante que tem uma mão cheia deles. Foi na área da comunicação que encontrou o melhor que a vida lhe podia oferecer – a oportunidade de conhecer histórias e de contá-las a quem mais as deseja ouvir. Prazer, chamo-me Margarida.