Chamem o CPR. A escrita parou de respirar.
Já tentaste mesmo tudo? “Sim”. Colocaste as palavras deitadas de costas sobre uma superfície dura? “Sim”. Sobrepuseste as mãos na metade inferior do externo do abecedário? “Sim”. Esticaste bem os braços e pressionaste as letras? “Sim”. De certeza que comprimiste as metáforas contra os paradoxos? “Sim”. Comprimiste e descomprimiste? “Sim”. Concluíste cinco ciclos de 30 compressões seguidas de duas respirações? “Sim”. A situação é crítica, mas não desistas. Chama o CPR. Eles têm 26 casos de sucesso de reanimação da escrita.
O CPR – Grupo de Reanimação da Escrita foi criado em outubro de 2015 e desde esta data que tem como objetivo lançar desafios criativos aos seus membros, incentivando-os a escrever. O segredo não é a alma do negócio, porque ninguém nega que o que é preciso é escrever, sem desculpas. A alma são precisamente os 26 peritos em respiração criativa, nem todos a escrever para o grupo de momento. Embora nem todos se conheçam, uma vez que estão espalhados um pouco por todo o país, estão unidos nesta missão para salvar a escrita.
“Eu e a Joana quisemos criar o CPR e começar a escrever dentro deste projeto porque sempre adorámos escrever, mas com o trabalho e a azáfama das nossas vidas acabámos por abandonar um bocadinho o hábito da escrita, embora nunca tenhamos abandonado a paixão e a vontade de escrever”, disse Catarina Alves de Sousa, uma das duas coordenadoras deste grupo.
Tempo para escrever era o que não faltava à então recém-licenciada Edna Loureiro. A estudante de 24 anos de Viseu decidiu integrar o projeto depois de ter visto uma publicação no blogue de uma das fundadoras do CPR.
“Pessoalmente sinto que consigo melhorar a minha escrita, estar em constante movimento com as palavras e desafiar-me com temas que por certo nunca teriam sido abordados por mim espontaneamente. Nas suas vantagens coletivas é uma fonte de inspiração, porque podemos partilhar palavras e textos entre nós, descobrir visões diferentes das nossas e apercebermo-nos de como um tema comum pode ser abordado de diferentes perspetivas e isso é muito enriquecedor”, disse Edna Loureiro.
No caso de Beatriz Nascimento Conceição de 23 anos, os textos que redige para o CPR são um escape à “estrangeirada” típica do seu dia à dia. A estudante de turismo admite que esta é uma forma de escrever na sua língua materna.
Para que Edna, Beatriz, Catarina e toda a equipa pudessem ter tempo para amadurecer as suas ideias, inerentes a um tema proposto, os desafios passaram a ser lançados mensalmente em vez de semanalmente, como nos primeiros tempos do projeto. Assim, todos os meses há um tema novo pronto a ser objeto de reflexão, como uma viagem contada na primeira pessoa por uma personagem já existente, um conto de terror ou uma fábula.
“O tema é sempre diferente e tentamos que seja o mais longe possível da zona de conforto da maioria dos membros do grupo. Porém, se no mês anterior o desafio foi bastante difícil, tentamos compensar com um tema ligeiramente menos exigente no mês seguinte para haver uma boa harmonia”, afirmou Catarina Sousa.
O tema é a imposição que tens de aceitar para integrar este grupo, onde qualquer pessoa com vontade de escrever é bem recebida; basta enviar um mail para cpr.grupodeescrita@gmail.com. Mas, se não tens feitio para reanimar a escrita, podes sempre tornar-te leitor: cprgrupodeescrita. Mas atenção: não esperes que escrevam para ti. No CPR escreve-se porque se gosta de escrever.
“Escrevo porque é a minha forma de expressar o que sinto e de usufruir da minha liberdade de expressão e de expressá-la e isso torna as reações controversas. Existem pessoas que não reagem muito bem ao facto de eu escrever com muita verdade à mistura e poucos filtros (penso que as pessoas, mesmo no século XXI, ainda não estão abertas à escrita sem censura ou pensam que partilho demasiado) e tenho aquelas pessoas que me leem constantemente e que gostam bastante, incentivando para que eu nunca o pare de fazer”, declarou Edna Loureiro.
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