Como ser uma pessoa supersticiosa (e ligeiramente paranóica)
“Não acredito em bruxas, mas que as há, há”. Esta expressão descreve bastante bem a minha posição perante as superstições. Racionalmente, sei que não fazem sentido e que o facto de eu bater três vezes na madeira quando digo algo que não quero que aconteça dificilmente vai evitar que essa coisa aconteça. Por outro lado, eu dizer algo que não quero que aconteça não devia resultar no acontecimento dessa coisa. Perceberam? É complexo, mas o dia-a-dia de uma pessoa supersticiosa é tudo menos simples. Há muita coisa a ter em conta, muito que fazer, muito que evitar. Este texto é para os supersticiosos que se sentem sozinhos, para os não-supersticiosos que não sabem o quão difícil isto é e para os não-supersticiosos que querem muito entrar para esta vida.
Descobrir novas superstições
O truque é ouvir falar de uma nova superstição e imediatamente tomá-la como verdadeira. Vamos tomar como exemplo “deixar as gavetas abertas”. A partir daí, nunca mais deixamos as gavetas abertas, mesmo que já o tenhamos feito milhares de vezes na nossa vida sem que nada tenha corrido mal.
Ser selectivo com as superstições
Quando já somos veteranos nisto das superstições, começamos a saber escolhê-las. Assim, acreditamos piamente em algumas e desprezamos outras, mesmo que sejam das mais conhecidas. Por exemplo, nunca me verão pôr sapatos em cima da cama, mas não tenho qualquer problema com gatos pretos ou com sextas-feiras 13.
Receber boas notícias ou esperar por algo muito bom (como férias, uma saída, um trabalho…)
- Não ficar demasiado entusiasmado(a);
- Só partilhar a notícia quando tivermos toda a certeza de que é seguro fazê-lo ou se não tivermos outra opção;
- Estar até à ultima à espera de que algo corra mal, porque assim, se correr, já não sofremos tanto (em teoria);
- Não pensar muito no assunto para não ficarmos com demasiadas expectativas.
Generalidades
- Ter muita atenção ao movimento das nossas amigas para evitar que façam algo que lhes possa dar má sorte (ainda não decidi bem como me sinto em relação à palavra “azar”);
- Quando se trata de algo demasiado estranho, tentar que o movimento passe despercebido (por exemplo: pôr os sapatos direitos como se simplesmente fôssemos muito arrumados ou não soubéssemos o que fazer às mãos; fazer uma cruz no chão (depois de andar de costas) como se estivéssemos só a brincar com os pés);
- Ficar terrivelmente obcecado(a) quando algo não está bem (uma gaveta aberta, um chapéu aberto dentro de casa…) e não o podemos mudar;
- Encarar TUDO como um possível sinal;
- Dizer que somos supersticiosos como se estivéssemos a ser irónicos ou a brincar;
- Construir cenários de destruição na nossa cabeça, ficarmos aterrorizados com eles e depois fazer figas para que não aconteçam;
- Ficar sempre em pânico com notícias como doenças, epidemias, desastres naturais, terrorismo, mesmo que tenhamos consciência de que é esse o objectivo. Nós NÃO somos daquelas pessoas que pensam “só acontece aos outros”. Definitivamente.
Só por curiosidade, e caso estejam a precisar de mais superstições na vossa vida, aqui vai uma lista das que eu conheço (incluindo aquelas em que não acredito muito):
- Passar por um gato preto;
- Ser sexta-feira 13;
- Passar por baixo de um escadote;
- Deixar gavetas abertas;
- Deixar os sapatos ao contrário;
- Pôr sapatos ou chapéus em cima da cama;
- Tirar as migalhas da mesa com a mão (arrastando a mão pela mesa);
- Sacudir a toalha-de-mesa à noite;
- Dizer “azar”;
- Fazer figas e bater três vezes na madeira para evitar que algo mau aconteça;
- Andar de costas;
- Quando andamos de costas, fazer o sinal da cruz no chão com o pé;
- Cruzar os talheres;
- Fazer qualquer coisa que produza o som de lata (dar um pontapé numa lata ou em qualquer coisa feita de lata).
Aqui está tudo aquilo de que precisam se quiserem ser supersticiosos profissionais. É um trabalho a tempo inteiro e que dá muitas dores de cabeça. Caso sejam supersticiosos, como eu, aguentem: estamos juntos.
A Inês Rebelo escreve ao Abrigo do Antigo Acordo Ortográfico.
AUTORIA
A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.