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A arte de beber um café

Saio do metro numa sexta-feira de manhã, na estação mais próxima da universidade onde estudo, e quase que sou atropelada por uma senhora de camisa branca, bolsa de ombro e etiqueta de identificação pendurada ao pescoço, que marchava em direção à saída num passo, extremamente, acelerado. Na maioria dos dias, os toques e encontrões de estranhos passam-me (e a quem habita em Lisboa) despercebidos – é impossível evitá-los, especialmente, durante a hora de ponta na estação de metro. Nas grandes cidades toda a gente tem pressa para chegar a algum sítio! Mesmo quem não tem, verdadeiramente, pressa, corre de um lado para o outro, dando por si a ser engolido pela onda urbana.

Mas por que é que vivemos em constante correria? Porque não tiramos um momento para respirar e abrandar o passo? Os Japoneses têm um conceito chamado “Ma” – uma pausa no tempo, um intervalo ou vazio no espaço. Esta ideia está enraizada na mentalidade das pessoas da cultura japonesa e, consequentemente, tem uma forte presença no seu quotidiano. As decisões nunca são apressadas, mas, sim, cuidadosamente, consideradas. O tempo e o espaço são, não só respeitados, como também encorajados. A forma como se comporta, tipicamente, o povo Japonês está fora dos padrões ocidentais. Talvez devêssemos adotar alguns dos seus hábitos para que possamos cultivar a calma e a descontração.

Fonte: CBN Vale do Iguaçu

Na verdade, “Ma” está presente em tudo: música, poesia, arquitetura, pintura,… Por exemplo, em Ikebana, a arte de composição floral japonesa, encontramos “Ma” entre os ramos, folhas e pétalas. A própria contemplação do arranjo deve ser cuidadosa e pausada: quem observa deve olhar para um elemento de cada vez, dando especial atenção às linhas, formas e espaços.

Fonte: Food 52

Este método, que o povo japonês segue para admirar a arte, pode ser aplicado a muitos aspetos do nosso dia a dia, tornando-o mais calmo e compassado. Tendo isto em mente,  comecei a abordar as minhas idas ao café de forma diferente. Durante um intervalo da escola ou dos estudos, dirijo-me a um café e peço uma meia de leite. Começo por apreciar a simplicidade do pratinho branco onde descansa a colher e a chávena de café. Antes de abraçar a taça com as minhas mãos, admiro a preparação da minha bebida. Inspiro o aroma do café. Levo uma colher da espuma suave e sedosa à boca, e deixo que se desfaça na minha língua. Curvo os dedos em volta da chávena, sentindo o calor na minha pele, e aproximo-a dos meus lábios, dando apenas um golo da mistura deliciosa de café e leite, antes de a pousar novamente. 

Durante este processo não verifico a caixa de correio, nem leio as notícias no meu telefone. Sinto-me tentada a responder às mensagens no Instagram ou a ver vídeos no Youtube, mas não o faço. Muitas vezes caímos na tentação de fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo – o famoso multitasking -, mas a verdade é que o cérebro só consegue focar-se numa tarefa de cada vez. O malabarismo com afazeres baixa a eficiência e a eficácia! Então, começa por eliminar este mau hábito, oferecendo toda a tua atenção às pequenas tarefas que fazem parte da tua rotina, assim como beber café.

Fonte da capa: Unsplash

Artigo revisto por Ana Damázio

AUTORIA

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Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.