Constança no País das Maravilhas das Candidaturas de Emprego
Constança no País das Maravilhas das Candidaturas de Emprego: este é o filme que vivo agora e esta versão spinoff é muito menos interessante, mas tem tanto de ridículo que, se nos soubermos rir da miséria, tem bastante piada.
As notícias reportam muitas e muitas vagas e o LinkedIn dá-nos muitas e muitas rejeições. As vagas existem, mas não são tantas nem tão boas como o Governo faz parecer. Estou convencida de que as empresas esperam pelo currículo do Super-Homem – e mesmo esse não teria o nível de mandarim esperado. Desde empresas que querem os clássicos “três anos de experiência por um estágio temporário sem esperança de ficar na empresa” a vagas para nível júnior que pedem dez anos de experiência, passando ainda pelo Vale dos Esquemas de Pirâmide – temos entretenimento garantido. Não é surpresa que o mercado esteja competitivo, mas parece-me que abandonámos o sentido do senso-comum.
O primeiro poço em que caio neste País chama-se “Só Contratamos Pessoas Com Experiência”. É um poço muito labiríntico e confuso, pois é difícil entender como posso eu entrar no mercado quando o critério para entrar é já estar no próprio mercado? Entendo o lado empregador – querem ter pessoas experientes na sua equipa -,mas a realidade é que os bons não ficaram bons sem ninguém apostar neles. E, para além disso, há tanto talento à espera de que lhe deem a primeira oportunidade… É preciso entender que os recém-licenciados não são sinónimo de falta de competência. Talvez não tenhamos tanta experiência, mas todos sabemos que tempo nem sempre se traduz em crescimento ou talento.
Conhecemos depois o Tesoureiro Louco, que nos diz que o nosso trabalho vai ser pago em “oportunidades de aprender com profissionais de excelência”. No desespero de colmatar a falta de experiência, muitos de nós dizemos que sim a esta condição e, por isso mesmo, os Tesoureiros Loucos continuam a existir. Contudo, acho que é um princípio errado. Se não há espaço no orçamento, então não se deve recrutar pessoas. E se há espaço e se escolhe não pagar a um colaborador capaz, então não sei se nos devíamos interessar por trabalhar neste tipo de empresas. Quando uma empresa nos diz que não nos quer pagar, o que nos diz é que o nosso trabalho não vale nada e isso não é verdade. O nosso trabalho, seja qual for e qual o grau de experiência, tem sempre valor, porque se a empresa não achasse que nós acrescentávamos valor à sua equipa não nos tinha contratado. E não, o subsídio de alimentação ou transporte não é suficiente – é o mínimo.
Por último, o relógio que parece sempre achar que são seis da tarde mantém-se nesta realidade, porque os empregadores parecem achar normal pedir, desde o momento da entrevista, que estejamos dispostos a trabalhar horas extraordinárias. Bem sei que por vezes vai acontecer, mas o meu problema é que não parece ser exceção, mas a regra. Precisa de ser valorizado o equilíbrio, o descanso e o desfrutar da vida enquanto benefício também para a nossa capacidade profissional.
E a parte mais engraçada: ninguém parece entender porque é que os jovens portugueses emigram.
Fonte da imagem de destaque: Google Play
Artigo revisto por Maria Ponce Madeira
AUTORIA
A Constança é aluna de Relações Públicas e Comunicação Empresarial, sendo uma nerd pela estratégia e pela comunicação interpessoal. Com uma paixão por escrever e debater, a escrita de opinião sempre foi o elemento natural desta autora. O seu objetivo é conseguir ser versátil na escrita ao abordar todo o tipo de temáticas e receber feedback que a ajude a elevar a sua escrita para o próximo nível.