Coragem Líquida
Sair à noite nunca esteve no topo da lista das minhas atividades preferidas. Obviamente, não censuro quem tem uma predileção muito grande pela “farra”. Compreendo perfeitamente o gosto pela conversa ébria e pelas “tolices” alcoólicas.
Tenho um grau significativo de ansiedade quando lido com pessoas que não conheço. Ainda mais, quando me encontro num ambiente caracterizado por um aglomerado de claustrofobia, por um bafo irrespirável e por uma overdose de estimulação sensorial. Além do mais, essas pessoas estão num nível de consciência, digamos… volátil. Já tenho suficiente adversidade da minha psique quando o ambiente está estéril. Este acrescento de circunstâncias não favorece as minhas inibições.
Perder a racionalidade é dos meus maiores medos. Gosto de beber, sim, mas não sou fã da falsa coragem que o álcool transmite. Este tipo de lubrificação social recorda-me algum género de teoria Goffmaniana sobre representação social. A sensação que tenho do outro, que só quer largar as amarras sociais quando está quimicamente alterado, é a de alguma mascarilha ou fingimento. É, até certo ponto, uma cobardia involuntária: ter de deixar o verdadeiro “eu” à porta, para deixar o falso “eu”, corajoso e inconsciente, capaz de tarefas hercúleas que o meu “eu” sóbrio não consegue, apoderar-se do meu corpo.
A “coragem líquida” é, no fundo, um descartar do rácio para uma sedimentação 100% emocional. Quantos de nós já nos arrependemos das mensagens que enviámos às nossas ex-namoradas/os quando estávamos bêbados? Quantos de nós já traíram “inconscientemente”? Quantos de nós entraram em conflitos físicos ou agressões verbais devido àquela vodka-limão que “bateu mal”?
A minha posição é clara: a bebida deve ser um objeto com o intuito de ser desfrutado, e não uma ferramenta. Se calhar é por isto que prefiro beber em casa. Com esta conversa toda pareço um santo. Acreditem ou não, fui tão ou mais vítima da perigosa “coragem líquida” quanto vocês. Eu aprendi a lição, mais a bem do que a mal, infelizmente. Oiçam este conselho de amigo: bebam até cair, mas não até cair em cima de outra pessoa.
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.