Dawn FM: um purgatório radiofónico
Não abandonando o estilo pop dos anos 80 presente em Save Your Tears e Blinding Lights, The Weeknd apresenta Dawn FM: uma viagem por um purgatório radiofónico que surge como o perfeito sucessor de After Hours.
Após dois anos desde o seu último projeto que foi bastante aclamado pela crítica, Abel lançou de surpresa o seu quinto disco no passado dia 7 de janeiro, após ter publicado um trailer apenas quatro dias antes da estreia. Dawn FM conta com a participação de Tyler The Creator, Lil Wayne e até mesmo do ator Jim Carrey. Para complementar o início desta nova era, o cantor realizou um concerto virtual que foi transmitido na plataforma Twitch e na Amazon Music.
The Weeknd descreve Dawn FM como sendo uma “meditação purgatória sobre o amor e a luxúria” e não podia ter sido mais certeiro com a sua descrição. O álbum não é apenas uma simples coletânea de músicas, mas sim uma experiência onde o ouvinte é transportado para um programa de rádio de uma hora guiado pela voz de Jim Carrey.
Nesta hora, The Weeknd ajuda o ouvinte numa espécie de transição entre a escuridão e a luz, como se este estivesse morto e a rádio fosse a única maneira de ultrapassar o purgatório e alcançar o paraíso. Esta ideia fica bem marcada na última faixa Phantom Regret by Jim, onde o ator canadiano Jim Carrey recita um poema de auto-reflexão sobre o perdão da alma, como poder para avançar e ultrapassar a obscuridade.
Dotado de um synthpop de excelência com marcas de influência de Michael Jackson, Dawn FM é um álbum experimental que tem de ser ouvido do início ao fim, sem pausas e sem contratempos, para que a essência do disco seja sentida de uma forma completa.
Este lado experimental foi conseguido devido ao excelente trabalho de The Weeknd com Max Martin e Oneohtrix Point Never na produção, que contou também com a participação do DJ escocês Calvin Harris.
Uma das marcas mais valiosas deste álbum é a transição perfeita entre músicas. Esta técnica de deixar uma música fundir até à música seguinte sem nenhum tipo de interrupção funciona de forma perfeita entre a faixa How do I make you love me? e Take My Breath deixando o ouvinte num estado de transe.
Dawn FM poder ser dividido em dois momentos. O primeiro é muito mais eletrizante e com uma batida mais pesada. A mudança acontece em Tale By Quincy, um monólogo narrado pelo produtor Quincy Jones sobre os problemas que teve durante a sua educação e como isso afetou as suas relações com as suas duas mulheres e filhos. Este interlúdio introduz assim o segundo momento do álbum caracterizado por ser mais calmo e contemplativo.
Apesar das suas diferenças de ritmo, as duas partes não são distintas, mas sim complementares. Pode-se mesmo afirmar que o primeiro momento simboliza um lado mais obscuro e de escuridão e que o segundo momento simboliza o amanhecer.
Numa missão quase impossível de superar After Hours, The Weeknd volta a surpreender com um álbum que consegue estar ao mesmo nível que o seu antecessor. Dawn FM é uma obra de arte que não pode ser simplesmente ouvida, mas sim sentida no seu total.
A experiência desta estação de rádio leva o ouvinte a viajar por ritmos que lembram Random Access Memories de Daft Punk e que têm o poder de transportar quem se aventura por estas 16 faixas num caminho experimental sobre a autodestruição e o amor pouco saudável. Sobre o futuro da discografia deste grande artista pouco se sabe, mas pode-se ter a certeza de que o seu caminho pelo dance pop é a opção perfeita.
Fonte de capa: União FM
Artigo revisto por João P. Mendes
