Literatura

Festival Mostra de Artes da Palavra 2022 – Entrevista a Alexandre Cortez

A associação A Palavra cresceu.

Após o seu primeiro ano de atividade enfrentando a pandemia, a associação conseguiu editar quatro livros CD, desenvolver projetos de Spoken Word, concretizar o Festival Mostra de Artes da Palavra (MAP) e dedicar-se à editora Cidade Nua, onde atualmente está a ser trabalhada a coleção Batimento. Este ano, será ainda lançado o novo álbum da Lisbon Poetry Orchestra com a participação de Adolfo Luxúria Canibal, Garota Não e Tó Trips, sendo trabalhado a partir de poemas dos autores surrealistas portugueses.

Segundo Alexandre Cortez, organizador do MAP e fundador d´A Palavra, a primeira edição do Festival teve resultados bastante positivos, tendo funcionado num modelo híbrido, com eventos presenciais e em streaming. Os artistas tiveram a necessidade de se adaptarem à situação pandémica e de se reinventarem. Desta forma, tornou-se possível um crescimento e uma maior projeção de eventos como conversas, debates ou conferências, através do modelo híbrido. Segundo o organizador, o digital não substitui o presencial, mas é uma descoberta que trouxe novidades à indústria cultural.

Numa entrevista à ESCS Magazine, Alexandre Cortez falou sobre a edição deste ano do Festival MAP e sobre a importância da cultura.

Festival da Mostra das Artes da Palavra 2022.
Fonte: A Palavra.
Que expectativas existem para o MAP deste ano?

Alexandre Cortez: As expectativas vão crescer sempre um bocadinho. Este ano vamos ter uma programação mais “apelativa”. Vamos ter um espetáculo dedicado ao Chico Buarque, um grande compositor brasileiro, que conta com a presença de Jorge Palma, da Luísa Sobral e da Garota Não. Este ano, uma grande novidade em relação ao ano anterior é que os locais onde os eventos acontecem vão estar muito mais centrados no Parque dos Poetas; o segundo palco vai ser dentro da Escola Secundária Luís de Freitas Branco, e vão por lá passar artistas como o Sir Scratch e a Maria Reis, artistas de uma nova geração. Depois temos um palco principal, onde vamos ter espetáculos, no próprio Parque dos Poetas. Vamos tentar fazer uma grande festa em torno d’ A Palavra; e que muita gente passe por ali, porque há espetáculos a decorrer durante o dia todo, de todos os géneros e feitios. Há um atelier de poetry slam, vários workshops de diferentes categorias… O nosso objetivo é que o público seja integrado e venha fazer parte da programação deste festival direcionado à comunidade.

Por que razão o Brasil é o país convidado no MAP 2022?

A.C.: Este ano celebram-se os 200 anos da independência do Brasil e, como achamos que neste festival a matéria primeira é a língua portuguesa, seria interessante assinalar este facto e, por outro lado, poder ter alguns dos protagonistas da nossa língua com maior expressão a nível mundial. É preciso não esquecer que são cerca de 255 milhões de falantes de português no mundo inteiro, sendo que a maior parte deles são do Brasil. Portanto, para nós faz todo o sentido que, este ano, um país de língua portuguesa, nomeadamente o Brasil, seja privilegiado. Não quero dizer com isto que não possamos vir a ter como tema ou convidados outros países fora da esfera da língua portuguesa, porque há portugueses espalhados pelo mundo inteiro. Por exemplo, nós temos de ter em linha de conta que em França vivem um milhão de portugueses. Ou seja, o facto de a língua portuguesa estar espalhada pelo mundo também é algo que demonstra a força e o poder da nossa língua.

Quais serão os possíveis países convidados no futuro?

A.C.: Ainda é prematuro pensar nisso. É um processo de avaliação, mas depende muito das circunstâncias. Se houver alguns apoios internacionais para esse tipo de situações, nós provavelmente lá estaremos a candidatar-nos. É uma decisão que demora sempre algum tempo. À partida não excluímos línguas nem países. A questão aqui é fazer mais ou menos sentido. Há países que, pela sua proximidade geográfica, nos dizem muito. Há outros, pela língua ou por tipos de circunstâncias, que mantêm também uma forte relação com a nossa cultura… Tudo isto é passível de ser avaliado. O festival, agora de repente, não é um festival “Brasil-Portugal”. Nós é que privilegiámos alguns eventos e assumimos desde já que assinalámos o ano 2022 como um festival em que o Brasil foi o país convidado. A temática da programação não é toda nesse sentido. O que nós temos é um festival da língua e da cultura portuguesa, e este ano temos mais algum cuidado neste aspeto.

Qual é a importância de inserir a população nestas iniciativas culturais?

A.C.: Nós tendemos muitas vezes a desvalorizar o peso da nossa língua no mundo global. E se nós pensarmos que, por exemplo: no Japão há mais de 400 palavras que derivam da língua portuguesa; que nós andámos um pouco pelos cinco continentes e que deixámos raízes culturais em quase todos eles; que, por exemplo, nos Estados Unidos e no Canadá há comunidades fortíssimas de portugueses, onde neste momento há uma 2.ª, 3.ª, 4.ª geração e que muitos deles ainda falam a nossa língua – é fácil perceber a importância do contexto geral que a palavra e a língua têm para a nossa cultura e para nós próprios. Nós achamos que faz todo o sentido que este festival exista. É mais uma ferramenta para defender a nossa língua, dar-lhe visibilidade e mostrar que é bom que tenhamos orgulho nos nossos autores, poetas, escritores, protagonistas da cultura. É essencial para a identidade de um país que a cultura seja privilegiada e protegida e que a língua seja defendida. Nós estamos cá para ajudar a defender a nossa língua, a nossa cultura e a nossa identidade enquanto país, povo e língua.

Que importância tem a literatura na cultura de um país?

A.C.: É uma forma de aproximar os povos. Temos escritores de língua portuguesa maravilhosos. Autores como Jorge Amado; o próprio Chico Buarque, que é um escritor extraordinário; Machado de Assis; etc. Há um universo de escritores de língua portuguesa muito bons e muito importantes, já para não falar de escritores como Mia Couto, Pepetela, Agualusa… A nossa língua tem esta particularidade: como cobre muitas culturas diferentes acaba por ser muito rica, e a produção literária é neste momento uma produção universal. Temos bons autores em língua portuguesa de diferentes latitudes e diferentes culturas. Isso é uma riqueza e é um património que não nos deixa ficar indiferentes. Já dizia o grande poeta Fernando Pessoa: «A nossa pátria é a língua portuguesa» e essa frase resume tudo – a importância da língua e da literatura na nossa vida enquanto portugueses e cidadãos do mundo.

Fontes consultadas:

A Palavra. Consultado a 20 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://apalavra.pt/map-mostra-de-artes-da-palavra/

A Palavra. (2022). Festival MAP – Mostra de Artes da Palavra regressa em Maio. Consultado a 20 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://apalavra.pt/map-oeiras/festival-map-mostra-de-artes-da-palavra-regressa-em-maio/

Imagem:

Caras. (2017, Outubro 1). A escolha de… Alexandre Cortez. Caras. Consultado a 20 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://caras.sapo.pt/lifestyle/2017-10-01-a-escolha-de-alexandre-cortez/#&gid=0&pid=1

Fonte da capa: Caras

Artigo revisto por Miguel Tomás

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