Deixa o mundo um bocadinho melhor do que como o encontraste
Quando pensas num escoteiro, qual é a imagem que te vem à cabeça? Provavelmente aqueles miúdos numa farda ridícula que ajudam velhotas a atravessar a passadeira. Também há aquelas meninas chatas que usam calções e meias altas no inverno que te batem à porta para vender bolos e bugigangas. Felizmente, o Escotismo é muito mais do que estes estereótipos em que o encaixam. Hoje pretendo desmistificar as razões que levam tanta gente a juntar-se a este movimento aparentemente pouco apelativo.
Neste dia, em 1907, deu-se o seu início, algo que teria impacto até aos dias de hoje, afetando mais de 50 milhões de jovens pelo mundo fora. Graças a Robert Smyth Baden-Powell nasceu o escotismo (sim, “escotismo” porque, inicialmente, não se encontrava ligado à Igreja Católica). Este senhor, refletindo sobre o estado de decadência em que a sociedade inglesa se encontrava, pretendeu restaurar a moral e os valores da melhor forma que sabia: um modelo semelhante ao do exército, adaptado a crianças. Depois de juntar alguns rapazes das ruas de Londres, organizou, em 1907, o lendário acampamento de Brownsea. Lá, ensinou-lhes as bases do movimento. Entre elas, estiveram presentes técnicas de sobrevivência, de cozinha de campo, de caça, de pioneirismo e, sobretudo, os valores que, ainda hoje, o escoteiro acarreta como responsabilidade fazer cumprir. Para se certificar de que os seus ensinamentos não eram esquecidos, o fundador chegou mesmo a escrever um livro intitulado de “Escotismo para Rapazes”, onde eternizou o seu legado e a sua sabedoria.
Assim, mais de um século depois, o Escotismo espalhou-se e tende a crescer cada vez mais como movimento. Mas, afinal, o que atrai tantas pessoas à causa? A meu ver, nada mais é do que a abstração da desordem da nossa realidade. Antigamente, num clima de guerra e pobreza generalizada, a imoralidade foi normalizada na sociedade europeia e o crime tornou-se habitual. Esta filosofia de virtude veio cumprir um papel de correção e assertividade fundamental. Hoje, cumpre um papel inversamente necessário. Num mundo em que a grande maioria das pessoas faz parte de uma sociedade metropolitana superdesenvolvida, indiferente será o seu estrato social, pois a nova tradição é a falta de contacto entre o Homem e a natureza. O aperfeiçoamento do equilíbrio entre estes dois é algo importantíssimo a que esta arte dedica muito tempo.
O inexplicável no escotismo é o sentimento que os dias em campo nos inspiram. Talvez venha do companheirismo que se sente num fogo de conselho. Talvez esteja na autoconcretização da qual desfrutamos ao acabar aquele último nó da construção. Talvez seja da persistência que encontramos em nós durante a exaustão numa caminhada de sol-a-sol. Talvez seja do sabor genuíno da comida feita na brasa. Não sei. Só sei que apenas presenciando se sabe o que é.
No fim, Escotismo é capaz de concretizar o que nenhum partido, ideologia ou Estado consegue. Une pessoas de todos os credos, etnias, idades e sexos com o objetivo comum de deixar o mundo um bocadinho melhor do que como o encontraram.
Obrigado, Escotismo. Feliz dia do Escoteiro!
Fonte da imagem de destaque: escoteiros.org.br
Artigo revisto por Ana Rita Sebastião