“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”
Este mês de novembro assinala duas datas importantes relativas a dois grandes ícones da literatura portuguesa. Fernando Pessoa e José Saramago reencontram-se na 4ª edição dos Dias do Desassossego, onde serão recordados e homenageados.
Fernando António Nogueira Pessoa, nascido a 13 de junho de 1888, no Largo de São Carlos, em Lisboa, é a maior personalidade literária de Portugal. Conhecido como “o poeta plural”, não só escreveu em seu nome como também no de personagens poéticas por si criadas (os heterónimos).
Com apenas cinco anos de idade, perde o pai e um ano mais tarde o irmão. Muda-se com a mãe para Durban, na África do Sul, onde passará nove anos da sua infância. É aí que recebe uma sólida educação inglesa, que será fundamental na sua formação como escritor. Regressa a Lisboa com 17 anos, para frequentar o Curso Superior de Letras – que não chega a terminar. Da sua vida amorosa apenas se sabe de uma namorada – Ofélia Queirós -, que conhece em 1919.
“A minha alma gira em torno da minha obra literária – boa ou má, que seja, ou possa ser. Tudo o mais na vida tem para mim interesse secundário”.
Fernando Pessoa
De facto, apesar da sua detalhada biografia, a sua carreira literária ganha um especial destaque por parte dos leitores e do próprio Pessoa. Esta inicia-se com a fundação da revista Orpheu, juntamente com vários escritores e artistas, que, tal como Pessoa, participaram no movimento modernista português.
“Sê plural como o Universo!”
Fernando Pessoa
Desde a sua infância que Fernando Pessoa manifestava uma tendência para a criação de seres fictícios. É desta fragmentação do “eu” que surgem os seus heterónimos – cada um com uma fisionomia e biografia própria. A constelação pessoana é, então, composta por Alberto Caeiro – o poeta bucólico e mestre de Pessoa; Álvaro de Campos – o poeta da modernidade; Ricardo Reis – o clássico helenista; e Bernardo Soares – o semi-heterónimo. Porém, muitos outros alter-egos de Pessoa foram criados, incluindo Maria José – o seu “eu” feminino.
Apesar da sua extensa obra poética, Mensagem foi o único livro completo que Fernando Pessoa publicou em vida. A mundialmente reconhecida epopeia lírica é um ato de paixão pela pátria, associado à profecia do V Império e do regresso de D. Sebastião.
Fernando Pessoa morre a 30 de novembro de 1935, em Lisboa – cenário do seu famoso Livro do Desassossego.
A sua vida e obra foi objeto de inspiração para várias personalidades literárias, como é o caso de José Saramago, que escreveu a obra O Ano da Morte de Ricardo Reis.
“Mesmo que a rota da minha vida me leve a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.”
José Saramago
José de Sousa Saramago nasceu no dia 16 de novembro de 1922, na Azinhaga do Ribatejo, na Golegã. Mudou-se para Lisboa com a família, onde frequentou o Liceu Gil Vicente e, mais tarde, a Escola Industrial Afonso Domingues, em cuja biblioteca teve o primeiro contacto com a poesia de Ricardo Reis.
A sua atividade profissional como serralheiro mecânico não impediu a sua paixão pela leitura e pela escrita. Começou por trabalhar numa editora e mais tarde fez uma crítica literária na revista Seara Nova. A partir de 1976, passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário. As suas obras mais conceituadas são: Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis.
São inúmeras as homenagens prestadas a José Saramago, mas em destaque temos a sua distinção, em 1998, com o «Prémio Nobel da Literatura». A vida do célebre escritor termina no dia 18 de junho de 2010, aos 87 anos, na sua casa de Lanzarote, nas Canárias – onde vivia com a sua mulher, a jornalista espanhola Pilar del Rio.
A fim de comemorar os 130 anos de vida de Pessoa e os 20 anos de atribuição do Nobel a José Saramago, a Casa Fernando Pessoa e a Fundação José Saramago organizam em conjunto a 4ª edição dos Dias do Desassossego. Esta iniciativa realizar-se-á entre os dias 16 de novembro (dia de nascimento de José Saramago) e 30 de novembro (dia da morte de Fernando Pessoa), e contará com leituras encenadas, música, debates, passeios literários e arte urbana.
Artigo corrigido por: Joana Silvério