Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd: o novo álbum de Lana del Rey
TW: Morte, Suicídio, Vícios
A artista Lana del Rey está de volta com o seu nono álbum de estúdio, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, lançado a 24 de março, que conta com dezasseis temas: seis features e dois interludes. Este álbum é uma peça muito esperada pelos fãs, visto que o último lançamento da cantora foi em 2021 com Blue Banisters. O novo projeto tem influência dos géneros folk e gospel, mantendo também a típica sonoridade pop-rock e americana da cantora.
A primeira track, intitulada The Grants, foi o último single a ser lançado e conta com a participação das convidadas Melodye Perry e Pattie Howard. Esta canção é provavelmente a que mais transmite a influência gospel e, tal como o álbum na sua totalidade, tem como tema as relações familiares da artista. O título advém do apelido da cantora, cujo nome verdadeiro é Elizabeth Grant, esta reflete sobre as memórias com diversos membros da família incluindo os seus familiares que já faleceram. Toda a canção está embebida na melancolia presente nos lyrics: “And I’m gonna take minе of you with me/ I’m gonna take mine of you with mе”. A segunda canção, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, que dá nome ao álbum, foi o primeiro single a ser lançado e faz referência ao antigo túnel Jergins, fechado desde 1967, situado em Ocean Boulevard, na Califórnia. A menção deste túnel é uma metáfora usada pela artista para o seu esquecimento, tal como muitos desconhecem/esqueceram a existência do túnel, daí a pergunta “did you know there’s a tunel…?”. Este paralelo feito por Lana del Rey faz alusão à sua carreira e como existe a possibilidade de ser “esquecida”, questão abordada na letra: “When’s it gonna be my turn?Don’t forget me”. A questão da passagem do tempo é muitas vezes mencionada em temas anteriores tal como Young and Beautiful, de 2013, e este novo álbum está repleto dessa emoção característica que torna os seus projetos inconfundíveis e intemporais.
O quinto tema do álbum foi o segundo single a ser lançado e aborda temas como a relação da cantora com a mãe, a fama, drogas e relações amorosas. A track intitulada A&M, abreviatura de American Whore, é um dos temas mais fortes do álbum e relata a experiência da artista desde a sua infância conturbada (“I haven’t seen my mother in a long, long time”) , os seus vícios de álcool, drogas e sexo (“It’s not about havin’ someone to love me anymore/No, this is the experience of bein’ an American whore”) e até a sua relação com os media (“What I do after years of just hearing them talking?”). É uma das músicas mais experimentais do álbum tanto pela sua longa duração como também pela sua sonoridade. No entanto, a mesma destaca-se pelos temas complexos que aborda. É, sem dúvida, um clássico de Lana del Rey, carregado de simbolismos e experiências reais na sua forma nua e crua.
O seguinte tema que gostaria de destacar é Kintsugi. O título deriva do termo japonês para uma arte de reparação de objetos através de pó de ouro e prata. Esta track, é também uma metáfora na qual é explorada a dor e o vazio de quem vê partir entes queridos. A canção carrega uma emoção própria e é uma das mais pessoais do projeto. O seu slow tempo e lyrics como “The depth that the chest cavity takes” ajudam a criar o ambiente expressado pela artista. Fingertips é outro tema que tem um instrumental mais “parado”, com maior destaque para a letra e o storytelling. Esta música, segundo Lana del Rey, foi construída a partir de voice memos que foi guardando no telemóvel e mais uma vez é um olhar para dentro do universo íntimo da cantora, refletindo os seus pensamentos, relações e incertezas. O tema fala de momentos críticos na sua vida, desde a morte de familiares a tentativas de suicídio. É sem dúvida um novo lado da artista, mais honesto e sentimental.
A última canção que gostaria de destacar é a que encerra o álbum. O tema divide-se em dois segmentos: Taco Truck e VB, sendo que o segundo é uma abreviatura do tema Venice Bitch de um dos seus álbuns anteriores. A track conta com samples que não foram lançados na versão original. Nesta canção, principalmente na primeira parte, a cantora aborda questões como a imagem nos media e as críticas que sofreu ao longo da sua carreira, existindo também várias referências a músicas dos antigos álbuns, consagrando-se como um tema que une a “antiga” Lana del Rey e esta nova era.
Depois de destacar estes temas, quero ainda realçar que o álbum segue um tom melancólico e experimental, tendo incorporado em muitas das tracks o piano como instrumento principal, seguindo uma estrutura mais stripped back. Considero que este projeto seja dos mais pessoais, sinceros e poéticos da artista, mostrando uma maturidade na escrita e composição em relação aos seus álbuns anteriores. Este álbum assinala uma nova era da cantora e deixa com certeza o desejo de ver os próximos passos da mesma.
Ouve aqui o novo álbum:
Fonte da capa: Twitter
Artigo revisto por Beatriz Morgado
AUTORIA
Quando era mais nova Carolina descobriu o interesse pelas histórias e ao crescer dedicou-se à escrita como uma forma de processar a sua realidade. Não vive sem a música e tem uma playlist para todos os momentos e moods. Encontrou na Publicidade e Marketing a sua vocação e no futuro espera unir o seu amor pela escrita ao design e ao digital. Agora passa os seus dias a explorar os seus interesses como a leitura, a pintura, a moda e obviamente a música.