Diga não à Internet e diga sim ao Facebook!
Já tinha revelado em crónicas passadas a minha paixão por estatística. Hoje deparei-me com um magnum opus do género. Só para fazer um pequeno enquadramento: no mundo da ciência, um estudo nunca chega; no da ciência social, muito menos. Para evitarmos ficar com uma gelatina de incerteza é necessário alicerçar um estudo com outros estudos. E este é exatamente o caso: uma nova investigação, promovida pelo site Quartz, reforça a tese de um estudo de 2012 do thinktank LIRNESIA: as pessoas do sudeste asiático (Tailândia, Indonésia, Filipinas e Myanmar) têm mais tendência para se declarar utilizadores do Facebook do que utilizadores da Internet.
Helani Galpay, líder da investigação, pensou que se tratava de uma anomalia estatística ou de um crasso erro humano. Após verificar a veracidade do seu estudo, comentou que “na cabeça destas pessoas, a internet não existe; só o Facebook.”
A Quartz tentou, então, neste ano, replicar o resultado do estudo. Confirmou-se a conclusão – Cerca de 11% dos Indonésios e 9% dos Nigerianos afirmam não estar ativos na Internet, mas declaram-se utilizadores ávidos do Facebook.
Pensei imediatamente que estaríamos a falar de pessoas com uma idade mais avançada, que sofrem, inocentemente, de alguma iliteracia tecnológica. Não podia estar mais errado: são os mais novos que mais confundem estes temas.
Salvo a explicação da iliteracia tecnológica, torna-se muito difícil, pelo menos para mim, arranjar uma explicação do senso comum para estes dados. Se tivesse de adivinhar, diria que a popularidade exponencial do Facebook conseguiu acelerar a penetração da Internet em partes mais “remotas” do globo, causando assim uma confusão justificável entre o site e a rede. Os tentáculos do Facebook estão de tal forma grandes que as pessoas já nem conseguem ver a cabeça do polvo. A situação em si é ligeiramente engraçada, mas pode assustar se começarmos a ponderar as consequências nefastas de um potencial monopólio online.
Por enquanto, é apenas uma história tonta. Não deixo de pensar, no entanto, que se calhar o aprendiz está a enterrar o mestre.
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.